Quando castrar bovinos

A decisão sobre a castração deve ser tomada levando-se em consideração o sistema de produção, a raça, o tipo de alimentação, a idade de abate e o destino da produção.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A produtividade de uma empresa agropecuária ou uma fazenda é um dos parâmetros utilizados para medir se o empreendimento está gerando lucro. O sucesso da atividade pecuária depende de vários fatores, dentre eles a forma de manejo dos animais adotada na propriedade. Quando o manejo é feito corretamente, os resultados aparecem no aumento da produtividade da fazenda, na diminuição de perdas de animais, nos índices reprodutivos, entre outros.

Com relação às diversas medidas de manejo, os criadores devem estar sempre atentos para os seguintes pontos: seleção, marcação, castração, descorna, estação de monta e alimentação na fase de cria, recria e engorda.

No momento em que o agropecuarista se propõe a melhorar a produtividade de seu negócio, adotando uma pecuária mais intensiva, algumas práticas de manejo do rebanho não se mostram adequadas à nova situação. Por exemplo, a idade de castração em uma pecuária onde os animais são abatidos com quatro ou cinco anos, não deve ser a mesma que a adotada quando os animais são abatidos com até 24 meses.

A castração dos bovinos é uma prática utilizada desde antes da era cristã e é tradicionalmente usada no Brasil em vista de o sistema de produção ser baseado em pastagens extensivas, o que eleva a idade do abate. O propósito não é só o de manejo, mas melhoria na qualidade da carcaça. Entretanto, grandes mudanças aconteceram no sistema de produção. Uma sensível redução na idade do abate está sendo observada em várias regiões do País. São inúmeros os motivos, dentre os quais podemos destacar os avanços da alimentação dos bovinos (pastagens e suplementações), melhoramento genético (seleção e cruzamentos) e sistemas de produção (confinamento). A simples introdução do cruzamento industrial permite o abate até os 24 meses. Se aliado ao confinamento, os abates podem acontecer aos 12 ou 15 meses de idade. Por isso, a prática da castração começa a ser questionada, desde que se consigam carcaças com boa cobertura de gordura suficiente para a indústria.

Por ser um país de grande extensão territorial, na região Norte do Brasil essa prática é bastante disseminada e aceita, enquanto na região Sul castrar é quase imperativo. Embora rotineira, a castração de bovinos de corte é um procedimento que sempre gera dúvidas no meio rural. Entre as mais freqüentes estão a necessidade ou não da castração, a escolha da melhor época e método.

Quando é necessária

A castração depende do tipo de exploração pecuária e do interesse particular de cada criador ou associação de raças. A prática tem como atrativo principal a facilidade de lidar com o rebanho, uma vez que os animais castrados tornam-se mais dóceis permitindo a mistura de bois e vacas. Além dessa vantagem, as carcaças dos animais castrados são de melhor qualidade e de maior aceitação no mercado se comparada às dos animais inteiros. Por outro lado, sistemas de produção de animais inteiros apresentam-se atrativos devido ao melhor desempenho em relação aos castrados.

Os bovinos inteiros, por apresentarem maior velocidade de ganho de peso e serem mais eficientes na transformação dos alimentos oferecidos em peso vivo, produzem cerca de 15 a 20% a mais de peso do que os castrados.

Tecnicamente, a viabilidade econômica de não se castrar é inquestionável, resultando em carcaças com pesos de 30 a 60 quilos a mais, em relação aos castrados. No entanto, a indústria frigorífica reclama dos inteiros e algumas já penalizam estes animais com o argumento da menor deposição de gordura.

Neste sentido, há que se concordar que, muitas vezes, existem motivos para tal reclamação, tendo em vista que boa parte dos animais tidos como de cruzamento industrial apresentam carcaças ruins, como aquelas provenientes de animais de origem leiteira, ou de tipos biológicos tardios, os quais requerem maior nível nutricional ou pesos elevados de abates para conseguirem cobertura de gordura. Entretanto, há pesquisas que indicam que é possível abater animais inteiros com carcaças de qualidade.

É importante para o produtor a questão da eleição do grupo biológico a se utilizar no sistema de cruzamento. As raças britânicas como Angus e Hereford são mais precoces e eficientes no uso da energia para o mesmo grau de acabamento (% de gordura na carcaça) em relação às raças continentais. Por outro lado, as continentais apresentam maior peso de carcaça quando avaliadas à mesma idade, sem considerar o grau de acabamento. Portanto, a menor deposição de gordura na carcaça é altamente dependente da nutrição, da raça do bovino e da idade de abate.

Pesquisas dirigidas pelo especialista da Embrapa Gado de Corte Gelson Luís Dias Feijó apontam que os mesmos padrões de qualidade de carne e carcaça de animais castrados podem ser obtidos com o abate precoce de animais inteiros. Se o abate for feito a uma idade inferior a 24 meses (animais com dente de leite), a preferência é por mantê-los inteiros, pois até esse período não há diferença significativa quanto à qualidade de carne entre animais castrados e não castrados.

Idade ideal para castrar

O tema é polêmico e a questão é relativamente complicada, pois estão envolvidos vários aspectos que podem individualizar a resposta. Em linhas gerais, a melhor época é aquela onde haja mais benefícios do que prejuízos, ou seja, uma relação custo/benefício favorável.

Castrar ao nascimento apresenta como principal desvantagem a não-utilização do efeito anabólico dos hormônios produzidos nos testículos. Retardar a castração para a época do desmame (período de seca) coincide com mais uma prática estressante, assim como a proximidade da época de restrição alimentar. Castrar com 12 ou mais meses tem os inconvenientes do difícil manejo e do grande estresse causado ao bovino, além do risco de se perder um animal de valor considerável. Resultados de pesquisas mostram que a realização da castração até a fase de puberdade não apresenta diferença quanto ao desempenho do animal. Verificou-se também, que castrações realizadas após a puberdade apresentam ganhos relativamente pequenos devido às dificuldades de manejo e aos riscos gerados.

Há trabalhos no qual se demonstrou que as castrações dos bovinos ainda muito jovens são prejudiciais ao desenvolvimento final dos animais.

A recomendação de Feijó é que, caso o produtor insista em castrar os animais que faça no nascimento ou, no máximo, até a puberdade, quando os riscos são menores.

É imperioso que a idade de abate dos bovinos inteiros não exceda aos dois anos. Abater animais inteiros com mais de 24 meses é indicativo de que o sistema de produção é ineficiente para a produção de carcaças com melhor qualidade.

Época de castração

A castração de machos normalmente ocorre na seca onde é menor a proliferação de moscas e outros insetos ou parasitas. Desta forma, diminui-se a possibilidade de infestações por miíases e infecções secundárias.

Método de castração

Dos métodos utilizados para castrar machos bovinos os mais praticados são:

• Torquês ou burdizzo: assim chamado porque o objeto serve para esmagar as veias, artérias, canais e ligamentos dos órgãos reprodutores. Separados um do outro, os testículos do animal vão-se atrofiando dentro da bolsa que os abriga (saco escrotal) e, aos poucos, são absorvidos pelo organismo do boi - desaparecem completamente depois de, aproximadamente, 40 dias. Esse método tem a vantagem de não ser muito doloroso e de não exigir cortes, evitando-se, assim, o perigo de infecções. Quando bem feito, dá bons resultados.

• Ablação dos testículos: também conhecido como “castração a canivete”. Consiste em se fazer um corte na bolsa escrotal e retirar os testículos do animal. Ao se remover os testículos, deve-se proceder ao controle hemorrágico mediante utilização de suturas, ou na impossibilidade desta, proceder a cauterização.

Devemos lembrar que, para os animais maiores, a contenção bem realizada corresponde a 70% do sucesso da operação.

Após a castração é preciso realizar uma correta higienização local com aplicação de produtos antimicrobianos, cicatrizantes e repelentes. Pode-se utilizar anestésicos ou sedativos para que o animal fique imóvel e não sinta a cirurgia.

A castração deve ser feita por uma pessoa treinada. O processo é simples, mas precisa de segurança. Normalmente os tratadores conhecem a técnica e fazem com muita naturalidade.

Entre a necessidade da castração e saber o que é melhor para o empreendimento, o produtor deve levar em conta o sistema de produção da propriedade, a raça dos animais, o tipo de alimentação disponibilizado, a idade de abate e o destino da produção. A opção de castrar ou não vai depender de uma análise criteriosa do produtor. O importante é que castrado ou não, os animais devem produzir carcaças de qualidade e com grau de acabamento nos padrões exigidos pelo mercado.

Luis Carlos Gauna Gomes

Embrapa Gado de Corte

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