Risco marrom

Mancha detectada no Brasil em 2001 volta a ameaçar. Na safra 2002/2003, a Alternaria brown spot foi observada em municípios de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. O “patótipo tangerina”, cujo ataque se mant

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A mancha marrom de alternaria (alternaria brown spot), causada pelo fungo

Fr. (Keissler) f. sp. citri, foi constatada na safra 2002/2003 pelos pesquisadores Eduardo Feichtenberger da Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Sorocaba/APTA e Marcel Spósito do Fundecitrus, em frutos de tangerineiras ‘Ponkan’ e ‘África do Sul’ e de tangor ‘Murcott’, em Minas Gerais, município de Campanha, no Rio Grande do Sul, município de Montenegro, e em 7 municípios do Estado de São Paulo. O primeiro relato dessa doença no país foi feito em 2001 pelo Prof. Antonio de Góes da UNESP/Jaboticabal, afetando tangerineiras ‘Dancy’ no Estado do Rio de Janeiro. Essa doença já foi relatada na Austrália, Estados Unidos, África do Sul, Israel, Turquia, Espanha e Colômbia, onde vem causando sérios prejuízos para a cultura.

O fungo

f. sp. citri possui duas formas: o “patótipo limão rugoso”, que é específico para o limão rugoso (

Lush) e limão ‘Cravo’ (

Osbeck), e causa lesões em folhas destas duas espécies, e o “patótipo tangerina”, que causa doença em tangerineiras e em seus híbridos (tangores e tangelos). Os sintomas do “patótipo tangerina” vêm sendo observados a tempos em folhas e ramos em pomares brasileiros, entretanto, até então, nunca tinham sido observados em frutos. As variedades mais seriamente afetadas pelo “patótipo tangerina” deste fungo são a tangerina ‘Dancy’ (

Hort.); os tangelos ‘Orlando’, ‘Nova’ e ‘Minneola’; e o tangor ‘Murcott’. O fungo também causa lesões em tangerina ‘Ponkan’, entretanto, aparentemente, a doença é menos severa nesta variedade.

O fungo causa lesões em folhas novas, frutos e ramos. O período de suscetibilidade varia de acordo com o tecido. Em folhas, o tecido fica suscetível até a folha atingir sua expansão máxima. Após infectada, os sintomas nas folhas são observados em 48 horas na forma de pequenas manchas necróticas, marrons a negras, rodeadas por um halo amarelado. Essas lesões se expandem, tornando-se circulares ou irregulares de tamanho variável, podendo ocupar grandes áreas da superfície foliar e atingir as nervuras. Em ramos jovens, os sintomas são semelhantes aos observados em folhas, com lesões de 1 a 10 mm de diâmetro. Nos frutos, a infecção pode ocorrer desde a queda das pétalas até o seu desenvolvimento, estando estes suscetíveis até 4 meses após a florada. As lesões nos frutos são pequenas manchas necróticas escuras, podendo variar de tamanho conforme a idade do fruto. Em alguns casos, podem ser observadas lesões cujo centro torna-se corticoso e saliente, formando uma pústula. Dependendo da intensidade da doença, as lesões podem causar a desfolha da planta, morte de ramos e queda prematura de frutos. Os frutos que se mantêm fixos à planta perdem seu valor para o mercado in natura devido às lesões causadas pelo fungo.

Alternaria alternata f. sp. citri é um fungo saprofítico, que sobrevive nos tecidos da planta cítrica. Os esporos assexuais do fungo (conídios) são produzidos tanto em folhas e ramos na planta, como em folhas em decomposição no solo, mas não são produzidos nos frutos. Os conídios possuem uma parede espessa e são resistentes ao ressecamento e outras condições adversas. Esses conídios são liberados pela ação da chuva ou do molhamento dos tecidos por orvalho e são disseminados a longas distâncias pelo vento. Na germinação, os conídios de Alternaria alternata f. sp. citri liberam toxinas específicas para os hospedeiros. Estas toxinas matam as células vegetais para permitir a infecção e a colonização dos tecidos pelo fungo, possuindo papel fundamental na expressão dos sintomas e na ocorrência da doença na planta hospedeira.

Em relação ao controle, um aspecto importante é conhecer o período de liberação e infecção do fungo durante o ano. Na Espanha, estudos mostraram que a liberação de conídios de Alternaria alternata f. sp. citri pode ocorrer durante todo ano, mas a infecção ocorre quando o período de molhamento é de 8 a 10 horas e a temperatura entre 20 e 30oC. Portanto, a ocorrência de mancha marrom de alternaria está altamente condicionada às condições climáticas favoráveis. Estudos do mesmo tipo devem ser conduzidos nas condições brasileiras para um melhor entendimento da doença e para determinação de estratégias de controle.

Para um controle adequado desta doença, há a necessidade de se adotar estratégias envolvendo o manejo do pomar e tratamentos com fungicidas. Como regra geral, para que não haja doença, deve-se evitar a coincidência de alta umidade relativa no pomar com a presença de tecido vegetal jovem, altamente suscetível. Práticas culturais, como adubação nitrogenada pesada, excesso de irrigação, assim como podas severas realizadas em épocas inadequadas, que levam a um grande fluxo vegetativo, e, portanto, formação de tecido suscetível ao fungo, devem ser evitadas. Como controle químico são recomendados produtos protetores, como os cúpricos e ditiocarbamatos, e, entre os sistêmicos, as estrubilurinas, dicarboximidas e, com menor eficácia, triazóis. É importante saber que os benzimidazóis não têm efeito sobre o fungo, podendo até agravar a situação da doença no pomar.

Como regra geral para o controle químico, deve-se priorizar um período de aproximadamente quatro meses, com início na pré-florada. Este início antecipado, comparado com as demais pulverizações comumentes feitas na cultura para o controle de doenças, visa proteger as primeiras brotações que se iniciam após o inverno. Em países como Estados Unidos, África do Sul e Colômbia, as pulverizações com produtos protetores são feitas em intervalos de 15 dias. Já com produtos sistêmicos, o intervalo pode ser de 30 dias, sempre lembrando que se deve utilizar no máximo duas vezes por safra produtos sistêmicos de um mesmo grupo químico para prevenir a resistência do fungo a esses produtos. Estas pulverizações também controlam outras doenças fúngicas, como verrugose (

spp.) e pinta preta (

), podendo ser acrescentado nos tratamentos para alternaria, óleo mineral ou vegetal, visando o melhor controle de pinta preta. Em regiões de ocorrência de vários fluxos vegetativos ao longo do ano, cuidados especiais devem ser tomados para que não ocorra um aumento de inóculo que propicie altas severidades da doença e, conseqüentemente, prejuízos ao produtor. Nestes casos, o produtor deve estar alerta quanto à ocorrência de sintomas no pomar e à aplicação de fungicidas a tempo de impedir a graves prejuízos.

e

Fundecitrus

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