Seleção por ultra-som

De olho em preços diferenciados, produtores estão utilizando a ultra-sonografia para identificar animais mais eficientes para a produção de carne.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A seleção de gado de corte tem sido realizada quase que, exclusivamente, considerando as características de crescimento e, ultimamente, as de reprodução, enquanto que as características do produto final (carcaça), que é a linguagem mais próxima do consumidor e auxilia o produtor a traçar os seus objetivos de seleção, são pouco consideradas. Procedimentos de seleção que não levam em conta as características de carcaça podem acarretar prejuízos enormes para a cadeia produtiva, uma vez que não identificam, objetivamente, os animais mais eficientes em produção de carne. Os métodos ora aplicados no sistema de produção e comercialização se caracterizam pela subjetividade de critérios e baixo nível tecnológico empregados, com isto, o sistema torna-se oneroso, ineficiente, além do produto final apresentar baixa qualidade, alta variabilidade e falta de consistência.

O método de seleção aplicado na identificação de animais com mérito de carcaça superior é baseado em testes de progênie tradicionais, sendo necessário o abate dos seus descendentes para que se obtenha as informações da composição corporal.

A utilização do ultra-som poderia ser uma alternativa atrativa para minimizar alguns dos problemas associados com os programas tradicionais do teste para características de composição corporal em bovinos.

Quando comparamos o sistema tradicional de coleta de dados de carcaça com o sistema “in vivo“, utilizando o ultra-som, temos o seguinte quadro (

).

A ultra-sonografia “Real-Time”, cada vez mais, está sendo utilizada como uma ferramenta para avaliação das características corporais, importantes para o mercado de reprodutores e animais de abate em todo o mundo. Por ser um método rápido, indolor e não invasivo e por não causar nenhum dano ao desenvolvimento dos animais, pode ser aplicado em todas as suas fases de crescimento.

A vantagem de obter informações do mérito genético por ultra-sonografia “in vivo“ em uma idade jovem é a não necessidade do abate da progênie dos animais avaliados. Diminui-se o tempo, o custo e a dificuldade de manter grupos contemporâneos até a data de abate.

As medidas obtidas por ultra-som são a área de olho de lombo, espessura de gordura subcutânea em dois sítios anatômicos (12ª e 13ª costelas e glúteos médius, alcatra) e percentagem de gordura intramuscular (marmoreio) entre a 12ª e 13ª costelas. Estes dados podem ser utilizados, por ambos criadores e compradores de progenitores, para tomar decisões em relação ao mérito de carcaça do animal individualmente.

A área de olho de lombo e a espessura de gordura subcutânea são duas características que estão altamente relacionadas aos cortes comerciais desossados das carcaças bovinas. A espessura de gordura e a percentagem dos cortes comerciais estão inversamente relacionadas; uma alta espessura de gordura subcutânea, baixa percentagem de cortes comerciais. A área de olho de lombo é positivamente correlacionada com o peso e a percentagem dos cortes comerciais. Estas características são de moderada herdabilidade e podem ser medidas com alta acurácia por ultra-som, sugerindo que as diferenças obtidas entre reprodutores serão repassadas para a sua progênie.

Atualmente, a gordura intramuscular pode ser medida, objetivamente, no animal vivo, utilizando a técnica de ultra-sonografia e é apresentada como percentagem de gordura no músculo longissimus dorsi. Esta característica é importante para aumentar a maciez e a palatabilidade da carne.

Em alguns países como EUA, Austrália e Japão, ela é um dos principais componentes do preço pago pela qualidade da carcaça. A herdabilidade para o grau de marmorização é também de moderada amplitude. Com esta tecnologia agora disponível, aplicável em nível de fazenda, os touros dentro de raça podem ser classificados em grupos de baixa, média e alta percentagem de gordura intramuscular.

A utilização da técnica de ultra-sonografia “real–Time“ oferece aos produtores de carne uma nova ferramenta para o melhoramento das características de composição corporal de seus rebanhos. Esta técnica auxilia os produtores a identificar quais os animais são mais eficientes para atender as especificações de mercado. Este feedback orienta os produtores na seleção de animais com maior valor agregado, por atender as necessidades da indústria, com produtos de melhor qualidade e oferece meios para, objetivamente, avaliar os animais “in vivo“ em relação a sua composição corporal. Pode influenciar no melhoramento da comunicação em todos os setores envolvidos na indústria da carne vermelha, principalmente por diminuir o tempo necessário para integração da cadeia produtiva.

Jaime U. Tarouco

Doutorando UFRGS

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