Semente confiável

Especialista considera perigosa a utilização de sementes sem análise por conta do produtor, para evitar prejuízos.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

O território brasileiro possui, aproximadamente, 850 milhões de hectares, destes 20% (180 milhões de hectares) estão ocupados com pastagens. Cerca de 100 milhões são pastagens cultivadas, porém com um baixíssimo aproveitamento, pois 80% desta área não apresenta produtividade satisfatória, estando em algum grau de degradação. Com o aumento dos investimentos e da profissionalização do setor pecuário, esta área já plantada tende a ser recuperada, aumentando o consumo de insumos como corretivos, fertilizantes e sementes de gramíneas. Este fato é confirmado pelo aumento da produção de sementes forrageiras que passou de 33.695 t em 1991/1992 para 213.261 t em 2001/2002.

Boa parte da área de pastagem existente no Brasil foi formada há vários anos, onde se utilizaram sementes de má qualidade, com baixa germinação e alto grau de impurezas (sementes de plantas daninhas, terra e palha). A formação mal feita da pastagem, com preparo incorreto e falta de correção da fertilidade do solo, semeadura inadequada, e o super pastejo transformaram a grande maioria em pastagens degradadas. O produtor, que antigamente produzia sua própria semente, comprava de outros produtores ou ainda de atravessadores, passou a utilizar sementes oriundas de empresas especializadas que produzem sementes em campos de produção com tecnologia e controle de qualidade.

Com as novas pesquisas, já é possível hoje determinar, de acordo com o preparo de solo, método de plantio e qualidade das sementes, a quantidade exata de sementes necessárias para determinada área. A sua qualidade é determinada, basicamente, por duas análises laboratoriais: a análise de pureza, que determina a quantidade de sementes puras numa amostra (exemplo, uma amostra com 40% de pureza, contém 60% de palha, terra ou sementes chochas e somente 40% de sementes da gramínea desejada) e análise de germinação (convencional ou teste de tetrazólio), que determina o quanto de sementes puras determinadas na análise anterior realmente irá germinar e formar plântulas normais. Os dois resultados (pureza e germinação) quando multiplicados e expressados em percentagem representam o Valor Cultural (VC), que indica a percentagem de sementes puras viáveis existentes num lote, capaz de produzir plantas normais, ou seja, de cada kg de semente comprada quanto realmente é semente e dessas sementes quantas irão formar a pastagem.

Essas análises podem ser feitas em universidades, centros de pesquisa ou em laboratórios privados. O preço varia de R$ 25 a R$ 50 por amostra e o resultado sai após dois dias (Tetrazólio) e de 21 dias (Convencional), dependendo da forrageira, porém estas normalmente não são feitas pelos produtores e pela maioria dos técnicos. Talvez por se tratar de sementes já fiscalizadas pelo governo ou por acharem não ter importância ou ainda simplesmente por falta de conhecimento.

Assim, quando se faz análise de sementes, pode se ter algumas surpresas, tanto positivas quanto negativas. A tabela1 (

) mostra alguns exemplos de análises, feitas em 2003, de sementes fiscalizadas adquiridas direto de empresas produtoras ou de representantes autorizados.

As amostras 1, 2 e 3 são de empresas diferentes e têm o VC no rótulo da embalagem bem parecidos: 35, 32 e 34%, respectivamente. Porém, ao analisar observam-se valores bem diferentes, sendo na realidade 3, 10 e 46%. Isso faz com que a necessidade de sementes/ha para ter uma boa formação mude bastante. Ao invés de 10,6 kg/ha (de acordo com o VC informado na embalagem), precisaria de 113 kg/ha na amostra 1, 33 kg/ha na amostra 2 e apenas 7,4 kg/ha na amostra 3, considerando 3,4 kg de sementes puras viáveis por hectare. Isto demonstra o quanto pode ser perigoso o uso de sementes sem análise por conta do produtor. É comum técnicos, vendedores e produtores usarem e recomendarem quantidades acima do permitido, isto deixa claro a desconfiança do mercado em relação aos produtos.

Além do gasto com sementes, a formação inadequada traz outros prejuízos. Se tomarmos como exemplo a formação de uma área de cem hectares para uso intensivo, teremos os seguintes custos de implantação (vide tabela 2).

Utilizando sementes da amostra 1 ou 2 da Tabela 1 para a formação, a pastagem não ficaria com população adequada da gramínea desejada, havendo infestação de plantas invasoras e conseqüente degradação da pastagem. Assim, além do dinheiro investido (no exemplo foi de R$ 69.008,00), perde-se também o ganho que a pastagem proporcionaria, ou seja, o ganho de peso dos animais que se conseguiria obter em cem hectares. Em casos em que é preciso vedar o pasto por um longo tempo para que haja boa cobertura, pode-se atrasar em até um ano o projeto. Assim, em uma área de cem hectares com recria, tendo um ganho de 700g/dia nas águas e 200g/dia na seca e admitindo uma lotação média de 2,75 UA/ha.ano, o ganho que poderia ter tido é de, aproximadamente, 2.246 arrobas em um ano, o que representa um prejuízo de R$ 134.760,00.

Somando o que se deixou de ganhar com o capital investido, o prejuízo é de mais de R$ 200 mil. Fazendo uma comparação, neste caso a análise mais cara representaria menos de 0,03%.

A análise de sementes de gramíneas deve ser incentivada e realizada por todos, pois ela garante o investimento e o retorno econômico para o produtor assegura o sucesso das recomendações dos técnicos e consultores e firma as empresas idôneas no mercado.

Ronan Valadares,

Boviplan

* Confira este artigo, com fotos e tabelas, em formato PDF. Basta clicar no link abaixo:

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