Nutrição correto no cultivo de banana

Em área cultivada com banana, nas condições de solos do Semiárido, é possível obter correlação positiva entre carbono e fósforo

27.07.2016 | 20:59 (UTC -3)

O manejo adequado do material vegetal é de grande importância para produção da planta, tendo em vista que os estoques de matéria orgânica do solo e seus compartimentos são responsáveis pela oferta de nutrientes, agregação do solo e no fluxo de gases de efeito estufa entre a superfície terrestre e a atmosfera, o que influencia no produto final (Leite, 2003).

Os principais fatores de manejo que influem no conteúdo de Matéria Orgânica do Solo (MOS) são o preparo de solo e os sistemas de sucessão e de rotação de culturas utilizados (Langdale et al, 1992; Bayer & Mielniczuk, 1997). Em sistemas agrícolas, a dinâmica da MOS pode ser influenciada não só pelo manejo por meio da seleção de culturas e de formas de preparo do solo, mas também pela adição de fertilizantes químicos e materiais orgânicos, que influem positivamente nos processos biológicos de decomposição e mineralização da MOS. A adição de materiais orgânicos é fundamental à qualidade do solo, caracterizando-se pela liberação gradativa de nutrientes, que reduz processos como lixiviação, fixação e volatilização, embora dependa essencialmente da taxa de decomposição, controlada por temperatura, umidade, textura e mineralogia do solo, além da composição química do material orgânico utilizado (Zech et al, 1997).

A matéria orgânica do solo (MOS) é constituída basicamente por carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, enxofre e fósforo, sendo que cerca de 58% é de C (carbono). A importância da matéria orgânica em relação às características químicas, físicas e biológicas do solo é amplamente reconhecida. A sua influência sobre as características do solo e a sensibilidade às práticas de manejo determinam que a matéria orgânica seja considerada um dos principais parâmetros na avaliação da qualidade do solo (Doran & Parkin, 1994).

Os teores de C (carbono) em formas orgânicas (C orgânico) do solo estão diretamente ligados à sua interação com a biosfera. Por meio dos produtos da fotossíntese, grande parte do C entra na planta. A entrada de C no solo está relacionada, principalmente, com o aporte de resíduos da biomassa aérea e radicular das plantas, liberação de exsudados radiculares, lavagem de constituintes solúveis da planta pela água da chuva e transformação desses materiais carbonatos pelos macro e microrganismos do solo. Todos esses processos fazem parte da biosfera (Novais et al, 1999).

O fósforo é o macronutriente menos absorvido pela bananeira, contudo, aproximadamente 50% é exportado pelos frutos. Este nutriente favorece o desenvolvimento vegetativo e o sistema radicular (Borges & Oliveira, 2000). A baixa oferta de fósforo nos solos da região semiáridas do Nordeste brasileiro mostra o quanto é importante o estudo do comportamento desse elemento no solo, com vistas a um adequado suprimento às plantas, pois tal conhecimento contribui para o estabelecimento de um método apropriado para adubação fosfatada, já que a capacidade dos solos em adsorver fósforo influência diretamente na resposta das plantas à aplicação de fertilizantes (Moreira et al, 2006). Corrêa et al (2004) acreditam que o reduzido suprimento de fósforo nessa região é decorrente tanto do material de origem como da forte interação do fosfato com o solo, fenômeno este conhecido como adsorção, sorção ou fixação de fósforo.

Os atributos do solo mais estreitamente correlacionados com a absorção de fósforo pelas plantas são a matéria orgânica, o fósforo disponível e a capacidade de troca de cátions (Moreira et al, 2006). Desta forma, todas as práticas de manejo que têm por objetivo manter ou incrementar os níveis de matéria orgânica podem resultar em benefício no aproveitamento de P pelas plantas (Almeida et al, 2003).

Em áreas submetidas a sistemas conservacionistas de manejo do solo e com adubação fosfatada, ocorrem, em geral, enxurradas com elevada concentração de P (Daniel et al, 1994). Nestes sistemas, em que ocorrem menores perdas totais de água e sedimentos por erosão hídrica do que nos preparos convencionais, as perdas totais de P em geral são menores, apesar da maior concentração desse elemento na superfície do solo nos preparos conservacionistas (Schick et al, 2000).

Experimento

Para analisar se existe ou não relação entre a quantidade de carbono e de fósforo em solo cultivado com banana e mata nativa, um trabalho foi realizado nas condições climáticas na Chapada do Apodí, Limoeiro do Norte, Ceará.

Segundo a classificação de Koppen, a Chapada do Apodi apresenta clima BSw'h' (clima quente semiárido) e pela classificação de Galssen 4aTh (Tropical quente de seca acentuada) com precipitação pluviométrica média anual de 600mm a 700mm, e vegetação de caatinga hiperxerófila. O solo da Fazenda é classificado como Cambissolo Eutrófico (Embrapa, 2004).

As coletas foram realizadas em duas épocas diferentes, a primeira foi no mês de janeiro de 2009, pré-período chuvoso, e a segunda em setembro, pós-período chuvoso, como mostra a Figura 1. Foi feita a coleta em um lote de 2ha, sendo quatro repetições na linha de plantio e mais quatro entre as linhas de plantio nas profundidades de 0-5cm, 5-20cm e 20-40cm.

As análises químicas realizadas foram as de rotina seguindo o manual da Embrapa. O fósforo assimilável foi extraído pela da solução de Mehlich-1 e carbono orgânico foi extraído pelo dicromato de potássio.

As médias foram submetidas ao Minitab onde se encontrou ocoeficiente de correlaçãode Pearson. Este coeficiente mede o grau de correlação entre elementos de escala métrica. De acordo com Correa (2003) esses valores podem ficar entre -1 e 1. Caso o valor seja 1, é correlação perfeita positiva, um cresce, o outro também; se a correlação for -1, correlação perfeita negativa, enquanto um cresce, o outro diminui; por último, se for igual a 0, para este teste não existe correlação, porém, pode haver para outro teste. Mais especificamente, o mesmo autor relata critérios de correlação que são:

Resultados

As Figuras 1 e 2 representam os resultados obtidos no ensaio. Inicialmente, percebe-se um comportamento diferente entre as áreas de estudo. De acordo com Correa (2003), nenhum dos índices obtidos tem uma correlação forte, porém, em algumas situações existe correlação média.

Figura 1 - Correlação fósforo/carbono na área cultivada. A: 0-5cm; B: 5-20cm; C:20-40cm

A relação C/P na área cultivada é apresentada na Figura 1. Percebe-se que na profundidade de 0-5cm a correlação entre carbono e fósforo foi positiva média, ou seja, quanto mais carbono orgânico estiver presente no solo, tem-se uma tendência de ter mais fósforo assimilável para essa profundidade. Em áreas com maior deposição de resíduos orgânicos no solo e com grande quantidade de raízes, ocorre aumento populacional e da atividade da biomassa microbiana (Cattelan & Vidor, 1990). A biomassa microbiana também representa o compartimento central do ciclo do C no solo e pode funcionar como compartimento de reserva de nutrientes, dentre eles o P orgânico, ou como catalisador na decomposição do C orgânico. Desta forma, a quantidade e a qualidade dos resíduos vegetais depositados sobre o solo podem alterar consideravelmente sua população microbiana. (Souza, 2008).

Na profundidade de 5cm-20cm o comportamento foi semelhante à profundidade mais superficial, correlação positiva, tendo um índice de correlação entre carbono orgânico e fósforo assimilável, porém, com valores inferiores aos da camada de 0cm-5cm, possivelmente pelo decréscimo de carbono na profundidade inferior.

Na última profundidade estudada na área cultivada, 20cm-40cm, o comportamento foi diferente das profundidades anteriores. O índice foi positivo, porém, quase neutro.

Analisando a Figura 2 percebe-se que o comportamento da relação C/P dentre as profundidades é diferente da área com banana, sendo a correlação nas profundidades 0-5cm e 20-40cm negativa, ou seja, quanto maior um elemento, menor o outro elemento e, na profundidade 5-20cm, foi praticamente neutro.

O comportamento diferente nas áreas estudadas pode ser atribuído ao manejo adotado. Na mata nativa não é feito nenhum tipo de correção de solo de acordo com as necessidades das plantas e não é realizado qualquer tipo de irrigação, sendo a oferta de água somente pela chuva, ocorrendo, devido à escassez de precipitações, uma menor deposição de material vegetal na superfície do solo. Quando o solo é decomposto, dificilmente ocorre a recomposição, ou seja, com a decomposição da matéria orgânica nos solos com mata nativa da caatinga só existe a recomposição do material vegetal no período pós-chuva. Existe uma particularidade no fósforo, por ser um elemento fácil de ser “perdido", ficando imobilizado, indisponível para a planta. Uma das formas de armazená-lo é através da matéria orgânica no solo, como não há reposição imediata do carbono no solo, quando a matéria orgânica é decomposta o carbono diminui e o fósforo que estava imobilizado pela MOS é liberado e se torna disponível para a planta. Isso explica a correlação negativa predominante na área com mata nativa.

Nas áreas cultivadas existem a adubação e a correção do solo, voltadas às necessidades da planta, o manejo adequado dos restos culturais e irrigação correta, propiciando para a planta condições ideais para produção. Desta forma, há uma deposição constante de restos culturais no solo, sempre tendo uma quantidade aceitável e elevada de carbono orgânico no solo e consequentemente de fósforo assimilável, já que a MOS vai estar sempre em decomposição. Por isso a correlação positiva nas áreas cultivadas.

Figura 2 - Correlação fósforo/carbono na mata nativa. A: 0-5cm; B: 5-20cm; C: 20-40cm

Conclusão

Na área cultivada com banana, obteve-se uma correlação positiva entre o carbono e fósforo, ou seja, quando um aumenta, o outro também aumentará.

É necessário o manejo adequado da matéria orgânica para a manutenção e o armazenamento do fósforo assimilável no solo, pois ela evita que esse nutriente se ligue a outros elementos e fique indisponível para a planta indefinidamente.

Clique aqui para ler o artigo na Cultivar Hortaliças e Frutas 82.

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