Análise compara perdas de solo e água entre coberturas diferentes em área de nascente

A área, além de ser de grande importância ambiental, apresenta relevo declivoso e bastante movimentado

21.12.2016 | 21:59 (UTC -3)
Cristina Tordin

As perdas de solo e água, avaliadas em um período de chuva entre maio e setembro de 2016 e depois projetadas para o ano na sub-bacia do Ribeirão das Posses, localizada em Extrema, MG, foram comparadas entre as diferentes coberturas (mata e pastagem), com o intuito de mostrar que o tipo de uso e ocupação interfere de forma expressiva no ambiente, sobretudo na qualidade do solo e, consequentemente, na sustentabilidade do sistema agrícola existente.

A área, além de ser de grande importância ambiental, não só por estar inserida nos altiplanos da Serra da Mantiqueira em local de grande fragilidade, apresenta relevo declivoso e bastante movimentado, faz parte do conjunto de nascentes que compõe os principais cursos d'água que abastecem o Sistema Cantareira e a Bacia do PCJ.

Conforme o pesquisador Marco Gomes, da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), o uso e ocupação de áreas de alta declividade favorecem, quase sempre, perdas de solo por erosão, uma das principais responsáveis pela sua degradação, com prejuízos à produtividade agrícola e às atividades econômicas relacionadas à agricultura. Esta erosão é causada pela energia cinética da água da chuva gerada pelo impacto das gotas no solo, promovendo a fragmentação dos seus agregados e o transporte das partículas via escoamento superficial.

De acordo com Gomes, a retirada da vegetação nativa, notadamente das florestas, para o uso agrícola sem considerar a capacidade de suporte do solo, tem como resultado imediato a sua exposição e, consequentemente, sua degradação pela erosão hídrica, ocasionando perdas de partículas e agregados, nutrientes, carbono orgânico, além de reduzir a recarga de água.

Gomes acredita que o controle da erosão hídrica é umas das principais medidas para a conservação do solo e da água em uma sub-bacia hidrográfica, visando o uso e manejo do solo de forma sustentável. Essa sub-bacia estudada constitui exemplo de área submetida à retirada de grande parte da vegetação nativa ocorrida a mais de um século.

Lauro Pereira, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente e integrante da equipe desse estudo, esclarece que o uso do solo predominante no local é pastagem extensiva com ausência de práticas conservacionistas. Esta sub-bacia está incluída como piloto no Programa Produtor de Água da Agência Nacional das Águas - ANA, o qual visa recuperar bacias hidrográficas com foco nos recursos hídricos, sendo a primeira a ter o Projeto Conservador das Águas implantado no município de Extrema, conforme a Lei Municipal n° 2.100/05.

O trabalho realizado na margem esquerda do Ribeirão das Posses, próximo à nascente principal, a partir de uma sequência com dois tipos de cobertura vegetal (mata nativa e pastagem), envolvendo dois tipos de Cambissolos, dois tipos de Argissolos e dois tipos de Neossolos Litólicos, analisou esses seis pontos de amostragem. Nessa topossequência - vários pontos numa sequência encosta abaixo, a cobertura de mata corresponde a 10% da área e o restante (90%) por pastagem.

O esquema experimental utilizado foi em parcelas de 1m2, com três repetições por local ou ponto, considerando todos, sendo o primeiro sob cobertura de mata nativa e os demais sob cobertura de pastagem - Brachiaria decumbens.

Resultados
As perdas totais de solos projetadas por ano por hectare e para toda a bacia não são expressivas, mas as de água via enxurrada merecem atenção especial.

Recomenda-se, enfatiza Gomes, uma reavaliação do manejo da área de pastagem com a sugestão de implantação de terraços em nível, principalmente para minimizar as perdas de água, via enxurrada, que são mais expressivas do que as perdas de solo.

A infiltração mais eficiente da água na área de pastagem contribui não só para o recarregamento do lençol freático, como também interfere de forma positiva no fluxo preferencial em direção ao curso d'água (Ribeirão das Posses), tornando seu volume mais estável/uniforme ao longo do ano. Tal cenário, evidentemente, favorece o aumento da vazão do Rio Jaguari, refletindo positivamente no aumento da disponibilidade hídrica para o Sistema Cantareira.


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