Armadilha inteligente monitora infestação de lagartas em lavouras

Os testes tanto na soja quanto no algodão estão sendo feitos em propriedades de Mato Grosso e no Oeste Baiano

21.01.2021 | 20:59 (UTC -3)
Eduardo Geraque - Agência Fapesp

A simplicidade do equipamento instalado no meio da lavoura pode dar uma falsa impressão do poder que tem de funcionar como uma ferramenta eficaz contra a infestação de lagartas na plantação. Desenvolvida pela startup Tarvos, apoiada pelo Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), a armadilha inteligente deve estar apta para funcionar em escala comercial na safra 2021/2022.

O dispositivo é composto por uma haste metálica que suspende a armadilha, com 1,80 metro. Dentro do equipamento, um feromônio específico é colocado para chamar a atenção de determinadas espécies que costumam causar muitos prejuízos aos produtores, como no caso da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), considerada hoje a principal praga na produção de algodão e milho. Quando o inseto (adulto, na forma de mariposa) entra no equipamento, sensores fazem funcionar câmeras inteligentes que acionam o registro fotográfico dos novos visitantes. A partir da imagem, então, é que entra em ação a parte mais robusta e tecnológica do invento.

Todo o sistema, de fácil instalação, funciona de forma acoplada às armadilhas instaladas no meio do campo. Após o processamento dessas informações, os dados são retransmitidos usando conexão de satélite, garantindo assim o seu funcionamento em qualquer região do país.

“O algoritmo compara a imagem que acabou de ser registrada com outras que fazem parte de um banco de dados. A partir disso, o sistema faz um relatório que informa a quantidade de insetos registrados em um mesmo dia e mostra também as espécies identificadas”, afirma Andrei Grespan, um dos sócios da empresa campineira.

Com todos os dados, os gestores da plantação vão ter um quadro claro de como está a infestação de pragas. Até mapas de calor, por exemplo, podem ser plotados.

Um dos principais diferenciais do equipamento, segundo Grespan, é que ele funciona independentemente da rede de telecomunicação que cobre a propriedade. “Todos os dados são descarregados em uma plataforma on-line, na nuvem”, diz. Em muitas propriedades do país, em áreas ainda remotas, a cobertura de sinal telefônico nem sempre é de 100%.

Controle biológico de pragas

A grande aplicação da invenção, que começou a ser gestada por estudantes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) há três anos, é que ela pode ajudar bastante os produtores a diminuir eventuais prejuízos por causa da infestação de lagartas em suas plantações.

“O acompanhamento contínuo, de baixo custo, é um grande desafio para o caixa dos agricultores”, afirma Grespan. Segundo ele, uma das indicações das armadilhas inteligentes é exatamente o uso nas lavouras de soja, cujos produtores costumam ter uma margem de lucro pequena. Além da soja, os testes também estão sendo feitos nas plantações de algodão, onde a lagarta-do-cartucho representa um grande desafio para os produtores, atrás apenas do bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis).

“Por isso que agora, em conjunto com a AgBiTech [empresa australo-americana com soluções para o controle biológico em larga escala], estamos testando, em caráter experimental, um serviço de monitoramento de lagartas com os nossos equipamentos”, diz Grespan.

Os testes tanto na soja quanto no algodão estão sendo feitos em propriedades de Mato Grosso, localizadas nas cidades de Querência, Sapezal, Diamantino e Primavera do Leste, e no oeste baiano, nas cidades de Luiz Eduardo Magalhães e Barreiras.

“Como o sistema detecta as mariposas, que ainda vão se acasalar para, depois, surgirem as lagartas, que são as reais predadoras das plantas, se tem um tempo para proteger a produção”, afirma Grespan.

Ao conseguir mapear de forma automatizada os tipos de insetos que estão na plantação e a quantidade, os produtores têm um ganho importante para tomarem decisões mais acertadas, segundo Grespan.

O processo convencional de monitoramento, que muitas vezes também usa armadilhas com feromônios, mas sem nenhum tipo de equipamento eletrônico, é muito mais trabalhoso e ineficiente, de acordo com pesquisadores da empresa. A inspeção manual, que costuma ser semanal, demanda o uso de pessoal no campo e abre caminho para um processo subjetivo e passível de falhas. Além disso, sem um intervalo diário de coleta de dados, a precisão do manejo não será atingida, segundo Grespan.

A Tarvos também será a responsável pelo desenvolvimento dos sensores que estão embarcados nas armadilhas. Sistemas que foram criados nos primeiros projetos da história da empresa.

“Nossa ideia inicial sempre foi o uso da computação e do processamento de imagens. Quando entendemos que as pragas são realmente um problema grave para a agricultura, resolvemos também seguir esse caminho”, diz Grespan.
 

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