Artigo: A soja no sistema de cultivo

Embora seja cultura plástica e com adaptação para ambientes de cultivo diversos, a soja requer solo fértil e estruturado, com capacidade de infiltração

12.01.2016 | 21:59 (UTC -3)
Mercio Luiz Strieder e Paulo Fernando Bertagnolli

A soja é hoje a maior fonte direta de renda na agricultura de produção de grãos no verão. O cultivo de soja no Rio Grande do Sul tem expandido nos anos recentes, por vezes, para áreas agrícolas marginais ou com menor capacidade produtiva. O preço do grão é estável e remunera a atividade agrícola, contribuindo para mudar o cenário agrícola de diversas regiões do estado. Pelas significativas contribuições à sociedade, tanto no meio rural quanto nas cidades, é importante que a soja também contribua para a sustentabilidade econômica, ambiental e social dos sistemas de produção de grãos. Neste contexto, manter e aperfeiçoar a produção de grãos desta oleaginosa requer encaixe de seu cultivo como um dos componentes de espécies agrícolas no sistema de produção de grãos, sempre evitando cultivo isolado e sem diversificação de espécies de plantas.

Embora seja cultura plástica e com adaptação para ambientes de cultivo diversos, para alcançar desempenho agronômico desafiador de 90 a 100 sc/ha por exemplo, a soja requer solo fértil e estruturado, com capacidade de infiltração e de armazenamento de água, além da ausência de camada compactada, doenças radiculares e nematoides. Prática agronômica indicada para alcançar estas características é a diversificação de cultivos, através da rotação e sucessão de culturas no verão e inverno, a qual ainda propicia alternância na renda da propriedade agrícola pela diversificação de produtos colhidos.

Diversos estudos conduzidos nas últimas três décadas no Sul do Brasil têm evidenciado que, a cada três ou quatro safras de verão, o milho deve compor a rotação com a soja na safra de verão, pois este cereal contribui para estruturação do solo pelo alto volume de resíduos decorrente de seu cultivo. No milho, facilmente obtém-se resíduos de colheita de 8-10 t/ha, ao contrário da soja, onde apenas cerca de 3 t/ha de palha restam da colheita de 60 sc/ha, diferença exacerbada pelo fato dos resíduos de planta da soja colhida terem alto teor de nitrogênio e, portanto, rapidamente decompostos pela microbiota do solo. A diversificação dos cultivos de verão com gramíneas como o milho, em contraparte ao "mar de soja" hoje predominante, é urgente e necessária para que o período recente de sucesso da agricultura seja prolongado e permita valorização deste importante setor da economia brasileira e regional.

O alcance das características de solo acima mencionadas requer ainda, além da diversificação de cultivos no verão, o cultivo de toda área do inverno seguindo indicações técnicas decorrentes de pesquisas. A diversificação de culturas no inverno e no verão será avanço agronômico expressivo a ser implantado efetivamente nas próximas safras agrícolas, pois na condição atual do RS há cerca de 1,2 milhões de hectares cultivados com trigo no inverno enquanto no verão cerca de 6,1 milhões de hectares cultivados com milho e soja dos quais 5,2 milhões somente com soja. Consequência deste novo sistema de produção de grãos a ser estruturado, como já o foi de forma mais equilibrada nos anos 1990 e início dos anos 2000, são solos agrícolas melhor estruturados e com maior capacidade de armazenamento de água e de sua disponibilização às plantas, aos animais e humanos em períodos de chuvas escassas. Tecnicamente há evidências de que uma agricultura com maior diversificação nos cultivos de inverno e de verão contribuirá para diminuir os efeitos adversos de eventos de El Niño, como tem ocorrido nos meses recentes, e também atenuará em muito os efeitos de anos de ocorrência de La Niña.

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