Cadeia produtiva da soja sustentável mundial se reúne para refletir sobre o futuro do setor na RT11

Mais de 150 pessoas participaram do encontro organizado pela Associação Internacional de Soja Responsável

06.06.2016 | 20:59 (UTC -3)
Angélica Cortez

Entre os dias 1 e 2 de junho, Brasília-DF recebeu a 11ª Conferência Anual da Associação Internacional de Soja Responsável (RTRS). O objetivo do evento foi promover um diálogo sobre a produção e o comércio no contexto mais amplo da sustentabilidade ambiental, social e das políticas públicas. Estiveram reunidos produtores, representantes da indústria, do governo e da sociedade civil com intuito de criar um fórum de diálogo global e multilateral sobre a soja e seus desafios.

A abertura do encontro foi realizada pelo presidente da RTRS, Olaf Brugman, que destacou que é necessário realizar um intenso diálogo sobre o futuro da soja sustentável. “A RTRS se esforça para promover soja sustentável, inclusiva e benéfica. Implementamos muito bem a certificação, mas a Associação vai além e é um mecanismo de educação. Começamos com um círculo de 12 pessoas querendo realizar a certificação e atualmente contamos com centenas de participantes”, lembra.

O presidente conta que a América do Sul possui uma quantidade maior de produtores enquanto que na Europa se encontram os compradores de soja sustentável. “Ter 100% de soja sustentável será uma tarefa heroica, mas é juntando forças que conseguiremos fazer isso. Atualmente, temos globalmente 3,2 milhões de toneladas de soja sustentável e o Brasil representa 1,5 milhão desse total. Temos crescido consistentemente e em 2015 aumentamos em 20% nosso número de membros em relação a 2014, adesão que vem principalmente das empresas que produzem alimentos”, declara.

Em seguida, o ex-ministro do MAPA e atual Coordenador do Centro de Agronegócio da FGV/EESP, Roberto Rodrigues, afirmou que o desafio da humanidade é garantir segurança alimentar. “Onde há fome, não há paz. Dados da FAO mostram que até 2020 a oferta mundial de alimentos precisa crescer 20%. E, para que isso ocorra, o Brasil precisa crescer 40%. Ou seja, é uma responsabilidade e um desafio que não podem ser feito sem sustentabilidade. Nesse cenário, a soja é o maior produto do agronegócio brasileiro e 56% da produção é exportada. O produtor só sobrevive se for competitivo e utilizar tecnologias e, para utilizar tecnologias, tem que ser sustentável”, destaca.

Depois desse momento, foram introduzidos os temas que seriam debatidos durante o dia e os participantes se reuniram em três sessões paralelas: Planejamento da paisagem e inteligência, Fornecimento Responsável na cadeia de suprimentos e Tecnologia e inovação no campo e Abordagens jurisdicionais. O primeiro tema foi moderado por Arnaldo Carneiro da Agroicone, que acredita que o cerrado brasileiro tem um futuro de crise climática e as áreas abertas de pastagem tem grande potencial. “Temos que ter astúcia para expandir a produção de soja e produzir no Brasil é agenda obrigatória. Agrupamentos como a RTRS possibilitam a chance para que se pense na paisagem territorial. A conservação deve ser aliada a produção com o uso de inteligência territorial”, conta.

O segundo tema foi moderado por Terence Baines da Unilever que revelou que até 2020 a empresa pretende comprar 100% dos materiais agrícolas de proveniência sustentável. “O consumidor cada vez mais busca produtos certificados, cultivados em fazendas com boas práticas agrícolas e que não desmatem florestas. Se tiver o produto com o mesmo preço na gôndola, o consumidor pega o sustentável”, adverte. O terceiro tema foi moderado por Gisela Introvani da Fundação de Apoio a Pesquisa do Corredor de Exportação Norte (FAPCEN), que abordou a importância do programa de ILPF (Integração Lavoura Pecuária Floresta) e a necessidade de avançar em estudos para o perfil do solo. “A tecnologia tem a possibilidade de gerar incremento de produtividade e produção. A agricultura não é só plantar e colher. Fizemos uma grande discussão sobre manejo integrado, florestas nativas, sucessão familiar, como entrar nas revendas e como agregar multinacionais”, ressalta.

Depois das sessões paralelas, houve uma discussão em grupo de produtores, sociedade civil e indústria sobre quais são os fatores que motivam e desafiam a agenda de soja sustentável e quais são as necessidades de cada grupo para avançar nessa agenda. Os moderadores desse momento foram Juliana Lopes da Amaggi e Fiona Wheatley da M&S. Lopes considera que o primeiro impacto para o produtor é conhecer a certificação. “Depois que ele conhece, percebe que tem um prazo para fazer as adequações na fazenda. E, a partir do segundo ano, já vê as melhorias, como a redução de riscos por estar respeitando as leis, e economia de insumos, como combustíveis”, atesta.

No segundo dia, os palestrantes Oswaldo Carvalho da Earth Innovation, Ashis Mondal da Action for Social Advancement, Marco Pavarino da MDA Brasil e Caio Magri do Instituto Ethos discutiram o que as cadeias de suprimento da soja podem fazer para promover a inclusão social e o desenvolvimento equitativo. As dimensões sociais da soja sustentável que foram discutidas abordaram os temas inclusão social para pequenos agricultores, dimensões da escravidão moderna e riscos e oportunidades ambientais e sociais. No final do evento, houve uma discussão sobre qual é o futuro da soja sustentável para as próximas gerações e como a RTRS pode contribuir para concretizar essa visão.

Para Olaf Brugman, a realização dessa Conferência no Brasil é de extrema importância devido à representatividade do país na Associação. “O evento reuniu os principais players e produtores para discutir o futuro do mercado, o que potencializará os resultados em longo prazo. Nosso intuito de promover um intercâmbio de conhecimentos, experiências e visões entre os participantes foi alcançado. Desejamos que esses debates garantam a inovação na cadeia de valor da soja e, dessa forma, sua sustentabilidade econômica”, finaliza.

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