Consolidação abre espaço para crescimento do mercado de produtos genéricos, diz presidente da Albaugh Brasil

Para Renato Seraphim, agroquímicos pós-patente podem fazer pelo agricultor o que os fármacos fizeram pelo consumidor no tocante à redução de custos; entrada de novos produtos tende a ampliar participaç&atil

19.02.2018 | 20:59 (UTC -3)
Fernanda Campos

Com passagem por grandes empresas de defensivos agrícolas antes de assumir à Presidência da Albaugh Brasil, companhia emergente no mercado de agroquímicos genéricos, o engenheiro agrônomo Renato Seraphim entende que as fusões recentes entre megacorporações do setor tendem a impulsionar o desempenho dos produtos pós-patente no País. A Albaugh foi a empresa que mais cresceu nesse mercado pelo segundo ano consecutivo, com aumento de share de 1,5% para 2,4% em 2017 e receitas de US$ 200 milhões.

Para o executivo, a concentração do mercado de especialidades abre espaço para o surgimento de novos players no segmento de genéricos, ao mesmo tempo que o agricultor revela mudanças de comportamento e quebra antigas resistências quanto à aceitação de insumos pós-patente. “O produtor hoje sabe que dispõe de agroquímicos pós-patente com qualidade e eficiência idênticas às dos ofertados pelas chamadas grandes empresas”, avalia Seraphim.

“Por mais que o desenvolvimento de novas tecnologias se faça necessário, as indústrias de especialidades repassam ao agricultor o custo de sua pesquisa, e esse fator tem aumentado significativamente o desembolso do campo com os defensivos agrícolas”, acrescenta Seraphim. Segundo ele, dados reunidos pela consultoria brasileira Markestrat demonstram que nos dias de hoje o produtor de soja do País destina 20% de seu investimento na safra aos defensivos, ante 7% desembolsados pelo agricultor argentino e 5% do americano.

“O custo do produtor brasileiro com a compra de defensivos aumenta acima do suportável. No caso da soja, a elevação acumulada de preços nos últimos 18 anos foi de 234%, enquanto a produtividade das lavouras subiu apenas 28% no mesmo período”, compara Seraphim.

Para chegar à meta de faturar US$ 500 milhões no Brasil até 2021, e globalmente situar-se entre as 10 maiores empresas de agroquímicos, a Albaugh aposta forte na estratégia de reduzir custos ao agricultor, além de ampliar sua plataforma de genéricos. A unidade brasileira quer ainda saltar dos atuais 9% para 25% de participação nos negócios da companhia no mundo.

Com base em estudo da consultoria internacional Ibisworld, Seraphim projeta que no prazo de cinco anos 80% do portfólio de agroquímicos disponível no Brasil será formado por genéricos. Até lá, diz o executivo, pelo menos duas dezenas de compostos hoje vendidos como especialidades perderão patentes, abrindo oportunidades de negócios da ordem de US$ 8 bilhões.

Seraphim ressalta que a tendência de avanço dos defensivos genéricos no mercado brasileiro já é percebida em diferentes levantamentos do setor. “Cerca de quatro anos atrás as grandes empresas representavam 70% do mercado; hoje, essa proporção é de 65%. Em volume, a participação dos genéricos é agora de quase 80%” enfatiza.

Fortiori e fármacos – Seraphim atribui o rápido crescimento da Albaugh Brasil à oferta de agroquímicos de qualidade a preços competitivos, bem como ao fato de a empresa não trabalhar com vendas diretas, privilegiando parcerias com os distribuidores. Esse modelo de negócios é possível somente por conta do baixo custo operacional que delineia a atuação global da Albaugh, explica o executivo.

“A indústria de defensivos genéricos pode fazer pelo agricultor o que os medicamentos genéricos fizeram pelo consumidor, ou seja, empurrar para baixo os preços de produtos de forma geral”, sustenta Seraphim. No mercado farmacêutico, compara ele, o advento dos medicamentos pós-patente pesou na redução, à metade, do preço de um grande número de medicamentos de referência.

Ainda de acordo com Seraphim, na medida em que aumentar o número de registros concedidos a produtos genéricos pelos órgãos reguladores brasileiros, o impacto na redução dos preços de agroquímicos será mais representativo. O executivo revela que a Albaugh tem hoje cerca de 20 novos produtos em análise no Brasil, com a expectativa de lançá-los nos próximos três anos nos mercados de soja, cana-de-açúcar e milho, incluindo fungicidas e insumos para tratamento de sementes, entre outros.

Serão estrelas do portfólio da empresa, prevê Seraphim, um grupo de fungicidas multissítios à base de cobre, voltados ao manejo de resistência do fungo causador da ferrugem da soja e o novo Fortiori. Este, desenvolvido em parceria com a britânica Plant Impact, constitui um nutriente foliar que chegará com a proposta de pôr fim aos problemas de fitotoxicidade da soja transgênica causados pela combinação entre o manganês e o glifosato.

Fundada nos Estados Unidos, em 1979, a Albaugh está presente no mercado brasileiro desde 2015, quando adquiriu as empresas Atanor e Consagro. A companhia mantém uma unidade industrial na cidade de Resende (RJ), com capacidade para produzir 10 mil toneladas de fungicidas à base de cobre por ano, além de 54 milhões litros de herbicidas. Seu atual portfólio é formado por 26 ingredientes ativos, com destaque para as marcas Glifosato Atar, Glifosato Atanor, Preciso, Recop, Cobre Atar e Reconil, entre outras.



 

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