Cultura do maracujá atrai produtores de tomate em Paty de Alferes, RJ

​Tradicionalmente conhecida como a cidade do tomate, Paty de Alferes (RJ) agora quer se estabelecer como referência na produção de uma fruta típica brasileira: o maracujá

30.03.2017 | 20:59 (UTC -3)
Aline Bastos

Tradicionalmente conhecida como a cidade do tomate, Paty de Alferes (RJ) agora quer se estabelecer como referência na produção de uma fruta típica brasileira: o maracujá. Para avançar nesse caminho, pesquisadores da Embrapa Agroindústria de Alimentos e Embrapa Agrobiologia foram convidados a realizar um Dia de Campo sobre maracujá nos dias 27 e 28 de março, em parceria com a Secretaria Municipal de Agricultura. O evento contou com a presença do Prefeito, do Vice-Prefeito, Vereadores e dos Secretários de Agricultura e de Educação, e de mais de cento e cinquenta produtores da região. “Precisamos buscar novos caminhos, novos métodos para aprimorar nossa produção agrícola. Reavivar a esperança para os pequenos produtores. Queremos ampliar nossa parceria com a Embrapa para melhorar a qualidade do nosso maracujá”, disse o Prefeito, Juninho Bernardes.

A primeira parte do evento foi constituída de palestras, com ênfase em sistemas de produção de maracujá, agroindustrialização e aproveitamento integral da fruta. Foram apresentadas as caraterísticas e testes realizados das variedades de maracujá, desenvolvidas pela Embrapa, como o BRS Gigante Amarelo, BRS Sol do Cerrado e BRS Peróla do Cerrado. “Já temos informações sobre produtividade e resistência a pragas de diversas variedades de maracujá, mas precisamos testá-las aqui na região. Depois disso, poderemos fazer uma recomendação mais adequada às condições de solo e clima”, destacou Raul Rosa, pesquisador da Embrapa Agrobiologia. Na apresentação, ele também destacou aspectos de solo, manejo, adubação e irrigação para garantir alta produtividade e evitar o aparecimento de pragas e doenças na lavoura e, sobretudo, a importância de instalação de viveiros locais, para que não venham mudas de fora da região com terra contaminada. “Quis passar a minha experiência de mais de 15 anos acompanhando o cultivo de maracujá, e alertá-los sobre alguns erros comuns cometidos por produtores em outras regiões, que trouxeram grandes prejuízos. Percebo que há um grande interesse aqui em Paty de Alferes, eles já estão conseguindo uma boa produtividade, é preciso apenas realizar alguns ajustes no campo”, relata Raul Rosa, pesquisador da Embrapa Agrobiologia.

Atualmente, mais de dois mil produtores familiares cultivam maracujá no município de Paty de Alferes. No relevo acidentado da cidade, é possível notar que o maracujá já começa a dominar a paisagem. “O maracujá é uma cultura que se adapta bem ao clima seco, com temperaturas amenas, típicos dessa região. Os produtores daqui já possuem experiência em cultivos intensivos, com o tomate, e trazem esse conhecimento para o maracujá. É preciso então aprofundar o conhecimento sobre as melhores técnicas de cultivo e prevenção de doenças, além de agilizar a organização da cadeia produtiva e a instalação de uma agroindústria para processar o maracujá, em períodos de elevada oferta do produto in natura”, afirma Sérgio Cenci, pesquisador da Embrapa Agroindústria de Alimentos. Há dez anos, ele lidera projetos para o Arranjo Produtivo Local do Maracujá no norte e noroeste fluminense. “Percebo que lá, a cultura do maracujá ainda é um potencial, aqui em Paty do Alferes já é uma realidade para os pequenos produtores. Para deslanchar, o ideal é atrair mais investidores e ampliar as políticas públicas”, ressalta.

As possíveis formas de aproveitamento integral do maracujá pelos agricultores familiares foram abordadas pela pesquisadora Lilia Salgado, da Embrapa Agroindústria de Alimentos, e chamou a atenção dos participantes, especialmente das mulheres. “A nossa ideia é montar uma agroindústria de processamento de maracujá e deixar sob gestão das nossas mulheres. Se elas se capacitarem e realizarem o reaproveitamento integral do maracujá, poderemos ampliar ainda mais o nosso ganho”, conta o produtor Ronit Borges. O Secretário Municipal de Educação, Eurico Júnior, em parceria com o Secretário de Agricultura, Thiago Peralta, também já sinalizou o interesse na aquisição desses produtos agroindustriais para a merenda escolar, como forma de incentivo à agricultura familiar local.

No dia seguinte, as atividades continuaram na propriedade do Sr. Isaias de Melo Moreira com a presença de cerca de cinquentas pessoas. Na ocasião, foi destacada a busca por qualidade na produção de maracujá para conseguir competir com produtores das regiões Sul e Nordeste. Também foram detalhadas as principais pragas e doenças e como evitá-las. Inúmeras dúvidas dos produtores foram sanadas. “As informações trazidas pela Embrapa nesse Dia de Campo são importantes para começar a mudar a cultura do produtor rural daqui de Paty de Alferes, que visa quantidade e não qualidade, além de retorno financeiro rápido. De fato, vieram pra cá os maiores especialistas em maracujá; e isso só contribui para o nosso trabalho”, conta Simone Tavarez, da Emater-RJ.

Logo após o evento, os próprios produtores já sinalizaram de forma positiva a instalação de Unidades Demonstrativas em suas propriedades, solicitaram cursos intensivos de produção e aproveitamento integram, e já começaram a se mobilizar para avançar na proposta de criação de uma agroindústria para o processamento de maracujá. “Não queremos que aconteça com o maracujá aqui em Paty, o que aconteceu com o tomate, que trouxe inúmeros prejuízos para o nosso município. Vamos somar forças com os produtores e dar todo o apoio para impulsionar essa cadeia produtiva. Contamos com o apoio da Embrapa para isso”, concluiu o Secretário Municipal de Agricultura da Prefeitura de Paty de Alferes, Thiago Peralta.


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