Efeitos das mudanças climáticas no Cerrado

Os sistemas produtivos eficientes, integrados e diversificados podem contribuir na manutenção de serviços ambientais, sem afetar a produtividade e conservar a reserva de água no subsolo, a redução das emissõ

11.10.2017 | 20:59 (UTC -3)
Helio Magalhães​

Os sistemas produtivos eficientes, integrados e diversificados podem contribuir na manutenção de serviços ambientais, sem afetar a produtividade e conservar a reserva de água no subsolo, a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) e a remoção desses gases da atmosfera.

Para realizar uma reflexão sobre essas ações e políticas públicas adaptadas aos novos cenários climáticos, para uma população que vive e depende da produção agropecuária no Centro-Oeste, a Embrapa Arroz e Feijão (Santo Antônio de Goiás/GO) e a Universidade Federal de Goiás/Campus Samambaia promoveram, nos dias 3 e 4 de outubro, na Escola de Agronomia da UFG, o seminário ‘Agropecuária no Cerrado frente às Mudanças Climáticas’.

O evento que foi coordenado pelas pesquisadoras Marcia Thais de Melo Carvalho (Embrapa Arroz e Feijão) e Sybelle Barreira (UFG) teve como participantes pesquisadores, produtores rurais e cooperativas, comunidade científica e acadêmica, além de multiplicadores da extensão rural e agentes de transferência de tecnologia da região.

No primeiro dia do seminário foram destacadas ações sobre mudanças climáticas e conservação da biodiversidade, e ainda, temas sobre o futuro da agricultura, perspectivas e oportunidades na mitigação de GEE pela agropecuária brasileira; foi apresentado, também, temas referentes às previsões climáticas sazonais para o Cerrado bem como, o uso de modelos para estudos climáticos.

Tendências e projeções climáticas para o Cerrado

A palestra, ‘Tendências e projeções climáticas para o Cerrado e o potencial impacto na produtividade de feijão e arroz’ apresentada pelo pesquisador da Embrapa, Alexandre Bryan Heinemann, abordou as tendências históricas da temperatura média e precipitação no estado de Goiás e as projeções esperadas para 2030 e 2050 e seus respectivos impactos nas culturas de soja, arroz e feijão. Bryan realizou simulações e projeções para as culturas de feijão e arroz de sequeiro para Goiás, nas próximas décadas. “O estudo pode dar subsídio aos programas de melhoramento de cultivares, mostrando as projeções climáticas para os próximos 10, 20 anos e os respectivos impactos nas culturas do feijão e arroz”.

Para a análise das tendências, o pesquisador utilizou dados diários de temperatura de 75 estações no estado de Goiás, de uma série histórica de 1980 a 2014. Essa análise mostrou que há uma tendência de aumento da temperatura média para todas as estações climáticas estudadas; as projeções também mostraram um aumento de temperatura no futuro.

Medidas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, além de questões ligadas à competitividade e sustentabilidade do setor agropecuário em um contexto de alterações climáticas, marcaram o segundo dia do seminário.

Papel da pesquisa agropecuária

A agropecuária como fator de desenvolvimento para a economia e o papel da pesquisa brasileira neste cenário, tendo os trabalhos que a Embrapa vem realizando, junto com os parceiros, as universidades, as iniciativas de ATERs públicas e privadas, os desafios e tendências, as mudanças do agro brasileiro no momento atual e como suplantar esses desafios foram alguns dos pontos apresentados pelo diretor-executivo da Embrapa, Celso Moretti.

“O desafio de se produzir alimentos no cinturão global não é trivial e, hoje, nós temos um país como grande exportador de alimentos, de commodities de grãos e leite, carne e etanol, suco de laranja, café, entre outros produtos; mas na década de 70, o Brasil era importador de alimentos e vivíamos em insegurança alimentar, porque não tínhamos um modelo de agricultura ainda definido”, observou Moretti.

A partir daí se tomou uma forma acertada de decisão para se desenvolver a agricultura tropical não só na Embrapa, mas nas universidades, principalmente na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) e teve início um trabalho muito forte, focado em ciência e na geração de conhecimento o que transformou o país, elevando-o à posição de destaque atual, como exportador de alimentos.

Moretti resumiu as contribuições da pesquisa e desenvolvimento para o Cerrado em três grandes eixos: a produção sustentável, principalmente no Centro-Oeste, com a questão do plantio direto, o manejo das culturas e manejo integrado de pragas, a intensificação integrada e todo sistema de produção integrada; outro eixo foi a transformação de solos ácidos e pobres em solos férteis e produtivos, o que permitiu se produzir mais e com qualidade; e, um terceiro eixo importante, foi a tropicalização de variedades de animais, de germoplasma especificamente da África, de genética animal, de diferentes tipos de forrageiras, completamente distintas da genética da pecuária de corte do país, de origem indiana do gado nelore, e todo o trabalho de melhoramento genético realizado, desde a parte de nutrição, rendimento e produção de carne.

“Só como exemplo de como a ciência e o conhecimento puderam auxiliar o agricultor e o país a superar os desafios que foram impostos, nós fizemos nesta semana os cálculos da safra 2016/17, com a utilização da fixação biológica do nitrogênio (FBN), em que o Brasil economizou, só nesta safra, cerca de U$ 20 bilhões, em função da utilização da FBN”.

Produtividade e sustentabilidade

José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), mostrou um quadro comparativo do Cerrado, de 1990 a 2000. Neste período os dados apontavam um grande índice de desmatamento associado à expansão da soja. “Começava aí a ideia de que a expansão de grãos e da cana-de-açúcar estava causando o desmatamento; mas nós iríamos ver, mais para a frente, que não era bem assim”; com o início do monitoramento de imagens por satélite, por volta de 2004, a história mostrou de forma mais efetiva uma queda no desmatamento; “Então isto veio mostrar que não foi a agropecuária o causador deste desmatamento, e com a intensificação de conhecimento e de novas tecnologias se pode gerar o efeito poupa-terra, com aumento de produtividade sem, no entanto, haver aumento expressivo de área desmatada”, ponderou o pesquisador do Ipea.

Na parte final do seminário houve a premiação dos melhores pôsteres, apresentados pelos estudantes da área das ciências agrárias e afins, além de bolsistas e orientados de pesquisadores da Embrapa e UFG. 

 


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