Enchentes no RS trazem danos para lavouras de arroz

O dirigente lembra que este é um ano que os produtores estão descapitalizados, vindos de um decepcionante período de comercialização no primeiro semestre de 2015

28.12.2015 | 21:59 (UTC -3)
Nestor Tipa Júnior

As chuvas que assolam o Rio Grande do Sul, especialmente a Fronteira Oeste e Depressão central, estão prejudicando o estabelecimento e desenvolvimento das lavouras de arroz. Em diversas regiões, já existem relatos de perdas tanto pelas enchentes de rios quanto pelo volume anormal e pontual de precipitações. O setor já vinha sofrendo os problemas do El Niño, motivo da extensão do período de plantio autorizada pelo Ministério da Agricultura, mas algumas áreas não conseguiram ser concluídas e fatalmente deverão interferir negativamente nos próximos boletins oficiais de previsão de safras.

A Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), através do prefeito de Uruguaiana, Luiz Fuhrmann Schneider, entregou documento à presidente da República, Dilma Rousseff, que esteve vistoriando os estragos na região, pedindo apoio para os produtores atingidos pelos problemas causados pelo excesso de chuvas. "Solicitamos a ela o seu apoio e testemunho quando a Federarroz levar os relatos e sugestões ao Ministério da Agricultura para buscar encaminhamentos que possam atenuar os duros prejuízos previstos. Fatalmente precisaremos de apoio na equalização dos financiamentos e encargos, além de um prazo mais longo de pagamento para alguns produtores, com o objetivo de mantê-los adimplentes e na atividade", salienta o presidente da entidade, Henrique Dornelles.

O dirigente afirma que os relatos de problemas nas lavouras são os mais diversos possíveis, desde casos de produtores que replantaram três vezes a mesma lavoura até outros que haviam tido a prudência de plantar em áreas mais altas, pouco passíveis de serem atingidas, mas mesmo assim as enchentes conseguiram alcançar as plantações. "Os volumes de chuvas no caso de Alegrete não foram tão grandes. Entretanto às ocorridas nas cabeceiras dos rios Uruguai, Ibirapuitã e Ibicuí foram elevadíssimas", explica.

A Depressão Central também sofre pelas cheias do rio Jacuí e afluentes. Região de pequenos agricultores, teve um número elevado de lavouras atingidas em sua totalidade. O presidente da Federarroz ressalta que ainda é preciso esperar para fazer uma avaliação dos danos, mas acredita que serão significativos, implicando em redução na produção geral. "Temos lavouras atingidas pelas enchentes nos mais variados estágios, desde recém plantadas até outras entrando em estágio reprodutivo. Isso vai depender do tempo que a água levará para sair para assim termos um diagnóstico mais preciso", afirma.

O dirigente lembra que este é um ano que os produtores estão descapitalizados, vindos de um decepcionante período de comercialização no primeiro semestre de 2015, onde muitos tiveram que vender a produção ao valor de R$ 32,00 a saca e agora estão enfrentando estas adversidades com altíssimos custos de produção. "O que mais preocupa a Federarroz é que qualquer perda aumenta o custo unitário por saca. Estamos trabalhando com custos extremamente elevados, preço mínimo da Conab que não representa a realidade com interferência direta nas possíveis indenizações do seguro agrícola, tendência de quebra de produtividade e área de produção, variáveis importantes que fatalmente comprometerão a renda no campo, economias regionais e possivelmente safras futuras, pela migração das áreas de cultivo de arroz para outras culturas", observa.

As enchentes estão prejudicando a população da Depressão Central e Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. Somente nessa última região a estimativa é que pelo menos 1,8 mil famílias tenham sido atingidas. Em uma semana o volume de chuva foi estimado em 500 milímetros, ocasionando as cheias de rios e alagamentos nos meios rural e urbano de pelo menos 38 municípios gaúchos, além da queda de pontes e danos em estradas vicinais sem pavimentação que servem ao escoamento da produção.

Os relatos dos produtores são de preocupação. Em Rosário do Sul, o rio Santa Maria está 8,5 metros acima do normal. Assim como o rio Ibicuí da Armada, ambos cortam o município e a maioria das áreas de arroz e soja estão em suas margens. Algumas barragens e também levantes foram destruídos. Em Uruguaiana e Barra do Quaraí, os rios Uruguai, na divida com a Argentina e Quaraí, na fronteira com o Uruguai, estão 10,8 metros acima do normal, cobrindo muitas áreas de arroz e também de soja.

Já em Restinga Seca, os rios Jacuí, Vacacaí e Vacacaí Mirim registraram grande cheia, trazendo prejuízos principalmente nas áreas de soja na várzea. Em Alegrete a enchente já é considerada uma das maiores da história, deixando muitas lavouras de arroz submersas e comunidades rurais ilhadas. E em Cachoeira do Sul, a enchente na ponte da Barragem do Fandango chegou a 25,7 metros. Também existe o risco do desabamento de pontes no município, como a da Várzea do Castagnino, na BR-153, que foi interditada.

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