A flor do Cerrado

O girassol consolida-se como uma alternativa econômica para os produtores do Cerrado e, vale lembrar, 80% do que se planta no Brasil está na região Centro-Oeste.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A crescente opção dos agricultores por essa cultura não é gratuita. Após anos de trabalho, pesquisadores da Embrapa Cerrados desenvolveram sementes mais resistentes ao clima seco e técnicas de manejo mais apropriadas que, aliadas ao potencial do mercado, contribuíram para despertar o interesse dos produtores da região pelo produto.

Originário da América do Norte, o girassol é hoje a quarta oleaginosa mais plantada no mundo, respondendo por 13% de todo o óleo vegetal produzido. No Brasil, em um ano, a área cultivada passou de 22 mil para 82 mil hectares. Todo esse crescimento, no entanto, não é suficiente para atender a demanda dos fabricantes de óleo do país que, para suprir o mercado, importa o equivalente à produção de 150 mil hectares da Argentina.

Inicialmente o girassol foi utilizado pelos índios americanos, como fonte alimentar, e pelos europeus e asiáticos, como planta ornamental e hortaliça. Hoje vem sendo largamente usado sob diversas formas em todo o mundo. Sua principal utilização é como matéria-prima para a produção de óleo comestível. O farelo, subproduto da extração do óleo, é aproveitado pelos fabricantes de ração para alimentação animal. Os grãos são consumidos por monogástricos e ruminantes, além do uso na alimentação de pássaros. A planta inteira é utilizada sob a forma de silagem, rolão, verde ou corte, podendo oferecer grande contribuição para minimizar os problemas decorrentes da estacionalidade de produção de forragem na região do Cerrado.

O girassol se desenvolve e produz bem em climas temperados, tropicais e subtropicais. Seu fruto, mais conhecido como semente, é chamado aquênio. Comparada com a maioria das espécies cultivadas no Brasil, como o milho e o sorgo, é uma cultura que apresenta maior tolerância à seca, ao frio e ao calor. Nas áreas produtoras de grãos, serve como opção nos sistemas de rotação e sucessão de culturas. Demonstra grande adaptabilidade às diferentes condições edafoclimáticas, sendo seu rendimento pouco influenciado pela latitude, altitude e fotoperíodo.

A alta qualidade do óleo de girassol, somada às suas excelentes características físico-quimicas e nutricionais, tem contribuído para o rápido incremento desse produto no consumo humano. O óleo extraído dos grãos é rico em gorduras poliinsaturadas (benéficas para a saúde humana) e possui a melhor relação de ácidos graxos poliinsaturados/saturados (65,3%/11,6%), o que lhe garante qualidade nutricional.

A época de semeadura é de suma importância para o sucesso da cultura. A princípio, o girassol foi recomendado na região do Cerrado para ser plantado na safrinha. Como a região caracteriza-se por grande variabilidade climática, é necessário que o local de semeadura tenha uma precipitação suficiente para que a oleaginosa apresente bom desenvolvimento, satisfazendo suas exigências nas diversas fases fenológicas. A safrinha é viável desde que atenda ao suprimento de água e ao período recomendado, que vai do início de janeiro até 20 de fevereiro.

Na região do Distrito Federal, numa altitude de mil metros, os resultados de semeaduras realizadas em novembro pela Embrapa Cerrados demonstraram grande desenvolvimento do girassol com rendimentos superiores aos obtidos na safrinha e a incidência de uma das principais doenças do girassol, a alternária, não foi acentuada. Também é possível cultivar o girassol na entressafra, com irrigação, desde que a temperatura não atinja valores abaixo de 10ºC por longos períodos. A quantidade de sementes gastas por hectare é, em média, de 3,0 a 4,0 kg, dependendo do tamanho da semente e do peso de mil grãos (aquênios).

A densidade populacional é fator decisivo para altos rendimentos e depende da cultivar utilizada. A Embrapa Cerrados avaliou algumas das principais cultivares comerciais e verificou que a população, tanto para silagem como para produção de grãos, deve ficar entre 35.000 (apenas para cultivares específicas) a 50.000 plantas/ha. Quanto menor a competição entre as plantas, melhor é o espaçamento. Mas para adequá-lo ao sistema de produção dos agricultores dessa região, recomenda-se o espaçamento entre as linhas de 0,70 a 0,90 m. Os maiores valores favorecem a colheita com a plataforma de milho adaptada.

A colheita deve ser feita quando a umidade estiver entre 14% a 16%. Existem plataformas específicas de corte para o girassol, mas é possível realizá-la com a plataforma de milho com pequenos ajustes. Os agricultores já estão utilizando essa tecnologia de baixo custo, desenvolvida pela Embrapa Soja, e que pode ser realizada na própria fazenda. Essa colhedeira promove acentuada redução das perdas, melhorando a capacidade da colheita.

A temperatura considerada ideal para o girassol varia de 27 a 28ºC. Temperaturas acima de 35ºC reduzem o teor de óleo e, agregadas à baixa disponibilidade de água, afetam o desenvolvimento da planta. Uma região que apresenta temperaturas entre 10ºC a 34ºC é considerada como tolerante à cultura.

A maior parte dos materiais de girassol cultivados no Cerrado foi desenvolvida em solos corrigidos quanto ao pH, ao alumínio e à fertilidade. Sendo o girassol sensível à acidez do solo, torna-se necessário corrigir o pH e o alumínio presente nos nossos solos através da calagem, exigindo uma saturação por base de 50%. A adubação química deve estar de acordo com a recomendação estabelecida pela análise de solo. Em geral, para os Latossolos sob Cerrado, utiliza-se 100 a 120 kg/ha de P2O5 e de 40 a 55 kg/ha de K2O. A adubação nitrogenada recomendada é de 15 a 20 kg/ha de N na semeadura e de 65 a 70 kg/ha de N em cobertura entre os 25 e 30 dias após a germinação.

Em relação a micronutrientes, o boro é um dos elementos mais importantes, pois além do girassol ser uma das culturas mais exigentes quanto a esse micronutriente, os solos sob Cerrado, em grande parte, são deficitários em boro. Sua ausência reduz a produção em até 60%. Deve-se aplicá-lo na semeadura, na dosagem de 3 kg/ha de boro.

Os sintomas de deficiência de boro são: folhas quebradiças, plantas com capítulos reduzidos, plantas sem capítulos (quando isto ocorre, as plantas apresentam um corte longitudinal na inserção do capítulo com o caule, provocando a sua abscisão), capítulos deformados e mal granados, e sementes chochas.

O girassol é hospedeiro de uma grande quantidade de fungos, vírus e bactérias. A importância das doenças está relacionada com as variedades, tratos culturais e condições climáticas (épocas de semeadura). Entre elas, a alternária (

) e a podridão branca (

) são as mais importantes.

A mancha de alternária ataca tanto caule quanto folhas, capítulos e aquênios promovendo uma acentuada redução da área foliar e, conseqüentemente, reduzindo a produção. Ocorre em condições de altas temperaturas e umidade relativa do ar elevada.

A podridão branca é considerada a doença mais importante para o girassol no mundo, infectando a raiz, o colo da planta, o caule e o capítulo de modo geral, permanecendo por muitos anos no solo, com seu poder patogênico intacto. Em áreas que já apresentam o problema, uma vez que o fungo é polífago e é hospedeiro do feijão, deve-se evitar o plantio do girassol.

Muitos produtores têm perguntado se o girassol se desenvolve bem no sistema de Plantio Direto. O que se tem observado é que, mesmo em solos com alto teor de argila, o sistema de Plantio Direto tem se mostrado altamente satisfatório. O maior problema é a distribuição eficiente das sementes, por elas serem muito leves (o peso de mil sementes varia de 44,0g a 70,0g). Embora já existam discos apropriados para a semeadura, o fato pode persistir com semeadura em velocidades acima das recomendadas (5 km/h).

Quanto à possibilidade de resíduos de herbicidas aplicados no milho ou na soja virem a prejudicar o girassol, casos de injúria foram observados em culturas de girassol realizadas em sucessão a essas culturas, devido ao pouco tempo para a degradação dos herbicidas.

Segundo a literatura, o girassol mostra-se sensível aos herbicidas do grupo das triazinas e as imidazolinonas, portanto, deve-se evitar a semeadura do girassol em áreas em que foram aplicadas imidazolinonas e esperar 150 dias onde se aplicaram triazinas.

A Embrapa Cerrados vem pesquisando o girassol com os objetivos de gerar informações em bases técnicas, científicas e econômicas, identificar possíveis fatores que limitem o estabelecimento dessa oleaginosa no Cerrado e promover a sua divulgação.

Embrapa Cerrados

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