A hora do pulgão

Caso não haja o controle adequado, os pulgões podem causar danos imensos aos cereais de inverno, devido à capacidade que têm de sobreviver em baixas temperaturas.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Os pulgões mais freqüentes em cereais de inverno (tabela -

) são nativos da Ásia e Europa e a partir da década de 60 causaram intensos danos na América do Sul.

Esses insetos reproduzem-se por partenogênese telítoca e viviparidade. Os embriões desenvolvem-se no interior do corpo do pulgão, a partir de óvulos não fecundados, dando origem a ninfas fêmeas.

Na lavoura, observam-se formas aladas e ápteras. A falta de alimento e populações aglomeradas induzem a geração de pulgões com asas. Estes são denominados disseminadores, pois voam, sendo levados, em busca de alimento, a centenas de quilômetros pelo vento. Os pulgões sem asas são os mais comuns nas lavouras de cereais de inverno.

O tempo de vida e a capacidade de proliferação (Figuras 1 e 2) são variáveis conforme a espécie de pulgão, temperatura e qualidade do alimento.

Os pulgões podem viver até três meses a temperaturas inferiores a 5°C, dando origem a poucas ninfas e morrer a temperaturas constantes, superiores a 28°C. À temperatura de 18 a 25 °C, os pulgões atingem a maior capacidade de proliferação. Nestas condições, quatro a oito dias após o nascimento chegam à fase adulta, parindo as primeiras ninfas. Quando atingem em torno de 10 dias de vida, os pulgões alcançam a maior capacidade de proliferação, chegando, algumas vezes, a parir mais de 10 ninfas por mãe diariamente.

Durante o verão, os pulgões se mantêm sobre plantas hospedeiras secundárias ou são trazidos pelos ventos de outras regiões no outono e inverno. No Rio Grande do Sul, as infestações ocorrem, provavelmente, devido à migração do oeste do Estado do Paraná, através dos ventos do quadrante norte.

Os danos ocasionados pelos pulgões, na cultura do trigo, ocorrem pela transmissão do Vírus do Nanismo Amarelo da Cevada (VNAC), extração da seiva ou efeito tóxico da saliva.

Os pulgões possuem no aparelho digestivo (estômago) um mecanismo de câmara filtro por onde passa a seiva extraída da planta. A seiva contém teores elevados de açúcares e baixos de proteínas. O excesso de seiva é eliminado pelo canal excretor. Esta seiva eliminada torna a superfície das plantas açucarada e pegajosa, atraindo outros insetos e servindo de substrato a microorganismos.

O VNAC é transmitido pelos pulgões, quando estes se alimentaram de plantas infectadas com o vírus. As partículas de VNAC mantêm-se infectivas na saliva dos pulgões.

No processo de alimentação no hospedeiro, o pulgão coloca a ponta do rostro na superfície da planta e, então, força os estiletes contra a superfície resistente, com movimentos repetidos, até penetrar através da cutícula e células da epiderme. Os estiletes são flexíveis, dobrando-se com facilidade. Na ponta do aparelho bucal, flui saliva que facilita a penetração e transforma-se, rapidamente, em geléia, formando uma bainha sólida que encerra e serve de suporte aos estiletes. A penetração continua intra ou intercélulas até os estiletes chegarem ao floema. O tempo necessário para os estiletes chegarem ao floema e estabelecer-se uma extração satisfatória de seiva é de minutos a algumas horas.

Esta adaptação para extrair a seiva das plantas é importante, pois supõe-se que o floema seja o local de maior concentração de VNAC nas plantas hospedeiras.

A sintomatologia de VNAC é variável conforme a estirpe de vírus e a cultivar de trigo. As plantas infectadas, em geral, apresentam nanismo, folhas de tamanho menor e posição ereta de coloração amarelo intensa e bordas avermelhadas.

A principal preocupação no controle de pulgões é a possibilidade de serem transmissores de VNAC. O vírus se desenvolve em tecido meristemático (tecido em formação), resultando em folhas jovens e outras partes da planta em desenvolvimento com sintomas cada vez mais acentuados (deformação física e coloração). Enquanto as folhas velhas não mostram sintomas de nanismo ou de coloração.

Quando as plantas que apresentam sintomas de folhas avermelhadas ou amareladas (aparência de virose) desenvolvem folhas novas normais, sem deformações físicas ou de coloração, pode se afirmar que a anomalia não foi causada por VNAC. A aveia apresenta teores de atocianina mais elevados do que outros cereais de inverno e sob condição de estresse aparecem sintomas de avermelhamento de folhas. A deficiência de fósforo ou de potássio pode causar sintomas semelhantes e ser resultado da falta do elemento no solo ou da indisponibilidade momentânea induzida por causas químicas e físicas. O excesso de calcário aplicado na superfície do solo, estiagens, compactação de solo, resíduos de herbicidas e outros fatores podem induzir ao aparecimento de sintomas, algumas vezes confundidos com os de viroses transmitidas por pulgões.

Com base na capacidade de dano direto desses insetos em cereais de inverno, o controle somente é indicado com populações superiores a 10 pulgões por afilho.

O efeito de inseticidas no controle de pulgões é obtido, principalmente, pela inalação ou ingestão dos produtos. Os inseticidas sistêmicos se translocam da base das plantas ou folhas para o ápice. Por esta razão, com a pulverização de produtos nas folhas, não se observa um controle satisfatório na base da planta, pela ação sistêmica.

Os predadores e parasitos são importantes fatores de supressão natural das populações de pulgões nas lavouras. É importante optar por inseticidas de ação específica sobre a praga e seletivos para os inimigos naturais.

Ger. técnico - Cooplantio

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