A ponta é fundamental

Embora as pontas sejam partes pequenas em relação ao pulverizador, são as peças mais importantes da máquina.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Qual a ponta (bico) ideal? A resposta não é simples como a pergunta, pois as pontas de pulverização são peças de engenharia de precisão, com vários modelos e várias vazões dentro dos modelos, para atender a qualquer necessidade do produtor. O que queremos neste artigo é que o produtor entenda a importância de escolher corretamente as pontas que irão atender às suas necessidades, gerando melhores resultados nas aplicações (mais eficiência do produto), e mais segurança ao meio ambiente, com menos perdas de agrotóxicos por deriva e evaporação.

POR QUE SE PREOCUPAR?

Embora as pontas sejam partes pequenas e de custo pequeno em relação ao pulverizador, são as peças mais importantes do mesmo, pois delas depende a qualidade da aplicação nos seguintes aspectos :

Tamanho e uniformidade das gotas produzidas

Uma pulverização técnica deve produzir as gotas no tamanho que nos interesse, e com o mínimo de deriva possível, sempre de acordo com o que o produto e as condições do nosso alvo a ser pulverizado exijam . Existem dezenas de tipos de pontas para se produzir o tamanho de gotas que se deseja, entre 25 micrômetros (= milésimos de milímetro) até mais de 1 milímetro de diâmetro!

Pontas mais técnicas e de melhor qualidade conseguem também maior uniformidade no tamanho das gotas produzidas, o que também é muito importante.

Distribuição do produto (calda) sob a barra

Uma boa aplicação deve garantir a uniformidade da distribuição do produto ao longo da barra, o que pode ser avaliado com as “mesas de checagem de distribuição”. O uso destas mesas já está se difundindo cada vez mais. Até o momento, em mais de 200 avaliações de barra por nós totalizadas , 1/3 das barras se encontram com distribuição inadequada, devido a pontas desgastadas e/ou de má qualidade (pontas que não abrem bem o leque tendem a criar má distribuição sob a barra).

Menos perdas por deriva

O Potencial de Risco de Deriva ou PRD é definido como a percentagem do volume pulverizado por uma determinada ponta a uma determinada pressão, com gotas inferiores a 150 micrômetros de diâmetro. Representa o potencial de perda do produto pulverizado, se as condições de umidade, temperatura e vento forem favoráveis à deriva e à evaporação destas gotas

Temos avaliado o PRD no campo, com utilização de papel sensível e o uso do Software E-Sprinkle interpretando as imagens do papel sensível. Na região de Cascavel – PR, em 64 pulverizadores avaliados, a média do PRD foi de 25,5 % . Se deste potencial considerarmos como perda real 15 % de produto, considerando um gasto médio de R$300,00/ha/ano em produtos, estamos tendo uma perda de R$ 45,00 por ha /ano !!

O quadro 01 (

) nos mostra o PRD por tipo de pontas nas barras avaliadas.

Conclui-se que as perdas estão muito elevadas, em função de muitas das barras estarem com pontas inadequadas, e pela utilização de pressões excessivas. Isto mostra que os produtores necessitam de maior orientação por parte dos técnicos para reverter o problema. Uma escolha correta da ponta e da pressão de trabalho é fundamental para isto.

COMO ESCOLHER A PONTA

A escolha correta das pontas é um dos passos mais importantes da regulagem de um pulverizador. Recomendamos que se siga o roteiro a seguir:

1- Definir o tamanho das gotas, em função:

a) Do modo de ação do produto:

• Herbicidas sistêmicos e de solo podem ser aplicados com gotas muito grossas ou grossas, a partir de 20 gotas/cm2;

• Produtos de contato (herbicidas, fungicidas e inseticidas) vão exigir gotas médias ou finas, com mais de 40 gotas/cm 2;

• Os fungicidas de inverno, do grupo dos Triazóis que, embora sistêmicos, somente se deslocam pela planta de baixo para cima, exigem que o produto atinja as partes inferiores da planta, exigindo assim gotas médias ou finas, mais de 40 gotas/cm2.

b) Das condições climáticas:

• Em condições mais favoráveis à evaporação e deriva (mais ventos, maiores temperaturas e menores umidades relativas) evitar produzir gotas finas ou médias.

c) Da situação do nosso alvo:

• Quando a cultura ou o mato estiver mais alto e fechado, e necessitarmos de penetração na folhagem (herbicidas, inseticidas e fungicidas de contato), devemos produzir gotas finas ou médias;

• Às vezes na própria dessecação com glifosato, se existir o “Efeito Guarda Chuva” (mato maior ou a própria palha dificultando a pulverização de chegar no mato pequeno que fica por baixo), necessitaremos de gotas médias ou finas para atingir o alvo.

2 – Escolher o tipo de ponta em função do tamanho de gota definido no passo anterior.

Para isto, torna-se necessário o uso de informações do fabricante, como os quadros 03 e 04 exemplificam :

3 – Definir a taxa de aplicação – l/ha .

Seguir a instrução do fabricante do defensivo e da assistência técnica local. Consulte sempre seu agrônomo a respeito.

4 – Checar a velocidade de deslocamento do pulverizador.

A velocidade é determinada cronometrando-se uma passada em 50 m, na rotação e velocidade normal de trabalho. Para se obter a velocidade em km/h, basta dividir 180 pelo tempo gasto em 50 m, isto é :

Km/h = 180 / T

onde:

T = tempo gasto em segundos para percorrer 50 m.

5- Checar o espaçamento entre Bicos na barra.

6 – Calcular qual a vazão necessária na ponta.

Esta vazão em l/min será calculada pela seguinte fórmula :

l/min = l/ha x Km/h x E / 60.000

onde :

l/min = vazão necessária no bico;

l/ha = taxa de aplicação desejada;

km/h = velocidade de deslocamento do pulverizador;

E = espaçamento médio entre pontas (em cm).

7 – Escolher, dentro do tipo de ponta já definido, a vazão e pressão de trabalho que produzam o tamanho de gota desejado, evitando–se pressões excessivas (acima de 45 PSI ou 3 BAR) para garantir menos deriva e mais durabilidade na ponta.

Para isto, torna-se necessário o uso de informações do fabricante, como o quadro 03, onde temos nas células a informação da vazão na ponta em l/min em função da pressão. Pela cor da célula temos (pela legenda) a classe de tamanho de gota que está sendo obtida. Lembre-se que 1 BAR = 14,22 PSI (Libras).

Vamos a um exemplo de escolha de ponta

Para um produtor que deseja fazer uma aplicação de herbicida pós-emergente de contato (exigindo, portanto, gotas médias ou finas), em soja nova, onde não está ocorrendo efeito “guarda-chuva”, com 100 l/ha de calda, e com o trator fazendo 50 metros em 28 segundos, qual seria uma boa opção de ponta?

Vamos agora seguir o roteiro citado anteriormente

1 - Pensando no tamanho de gotas : considerando que não tenha o efeito guarda-chuva na lavoura, pode-se programar a aplicação de gotas médias para termos menos deriva.

2 – Escolha do tipo de ponta : observe nos quadros 03 e 04 que a ponta Turbo Teejet pode produzir gotas médias - Temos a ponta TT, portanto, como boa opção.

3 - Taxa de aplicação : já recomendada no exemplo, de 100 l/ha.

4 – Velocidade de deslocamento do Pulverizador. Pela fórmula:

Velocidade (km/h) = 180 / 28 = 6,43 km/h

5 – Checar espaçamento entre bicos na barra : 50 cm, por exemplo.

6 - Cálculo da Vazão necessária na ponta. Usando a fórmula:

l/min = 100 l/ha x 6,43 Km/h x 50 cm / 60.000 = 0,536 l/min

ou seja, precisaremos de uma vazão de 0,536 l/min na ponta.

7 – Escolher a melhor opção de ponta e pressão dentro do quadro:

Observe no quadro 03 que teremos duas opções de escolha para obtermos 0,536 l/min:

• Com a ponta TT11002, em torno de 1,5 BAR de pressão (21 PSI), produzindo gotas grossas;

• Com a ponta TT110015, em torno de 2,5 BAR (35 PSI), produzindo gotas médias.

Como optamos por produzir gotas médias, a escolha correta neste caso será a Ponta TT110015, trabalhando em torno de 2,5 BAR (35 PSI) de pressão.

CUIDADOS COM A PONTA (BICO)

É muito importante garantir o bom estado da ponta durante seu uso, para não comprometer as qualidades já citadas de seu trabalho: boa distribuição sob a barra, tamanho uniforme e adequado das gotas. Para isto, alguns cuidados são essenciais :

1 - Utilizar filtros de linha e filtros de bico com malha adequada aos bicos em uso.

Para bicos de vazão 01 (11001) ou 015 (110015), utilizar filtros de tela malha 100. Para bicos de vazão 02 (11002) ou maior, utilizar filtros de tela malha 50 .

2 – Nunca desentupir uma ponta com objeto metálico.

O método correto de se desentupir uma ponta é com a utilização de uma escova plástica (escova de limpeza Teejet) ou ar comprimido. Deve sempre se ter algumas pontas de reserva para substituir rapidamente as entupidas no campo, caso o entupimento não seja facilmente resolvido.

3 – Lavar sempre as pontas no fim do dia de aplicação, especialmente quando aplicado produtos em pó, que tendem a se depositar e secar no interior das pontas.

4 – No término da pulverização, lavar bem as pontas (deixar de molho em água com detergente é um bom processo), secá-las e guardá-las em um vidro tampado (de maionese, por exemplo).

5 – Providenciar para que as pontas não fiquem expostas na barra, batendo no solo. Este é um problema que ocorre muito nas extremidades das barras, que devem possuir um patim de arraste para impedir o contato da barra com o solo e com as pontas posicionadas acima da peça inferior da barra.

Paulo Coutinho e Carlos M. Cordeiro,

Comam

* Confira este artigo, com fotos e tabelas, em formato PDF. Basta clicar no link abaixo:

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