A resistência genética ao vírus do nanismo amarelo em cereais

A resistência genética é uma eficiente forma de controle de doenças, porém, o desenvolvimento de plantas resistentes não é uma atividade simples. A virose conhecida como "nanismo amarelo da cevada"

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A resistência genética é uma forma eficiente de controle de pragas e doenças. Prática, não requer operações adicionais como o monitoramento da população de patógenos e, tampouco, envolve os custos de aquisição e aplicação de defensivos. Além disto, no caso das viroses (doenças causadas por vírus), muitas vezes, é a única alternativa de controle, uma vez que não existem defensivos que possam ser utilizados após ocorrer a infecção da planta. Contudo, desenvolver plantas resistentes a uma praga ou doença pode não ser uma atividade simples. No desenvolvimento de uma cultivar, a incorporação da resistência genética para cada uma das várias doenças que acomete a cultura é apenas mais um fator que precisa ser considerado pelo pesquisador no melhoramento de plantas.

Um dos primeiros passos no desenvolvimento de plantas resistentes é o conhecimento do agente etiológico (agente causal da doença) e de sua variabilidade. A virose conhecida como "nanismo amarelo da cevada" (NAC) é uma doença que afeta diversos cereais de inverno, limitando a produção de grãos no Brasil e no mundo. Esta doença é causada não apenas por uma espécie de vírus, mas por distintas espécies.

Estes vírus são transmitidos por pulgões ou afídeos. O afídeo adquire o vírus quando se alimenta da seiva de uma planta infectada e, ao se alimentar sobre uma planta sadia, pode transmitir o vírus. Várias espécies de gramíneas são suscetíveis à virose e, como o vírus não é transmitido por nenhum outro inseto, sementes, solo ou mecanicamente, a capacidade de infectar várias espécies de gramíneas perenes e anuais, que atuam como reservatórios do vírus ao longo do ano, além da capacidade de transmissão pelas diversas espécies de afídeos, são dois componentes importantes na epidemia e na expansão da população viral.

Os vírus podem ser observados apenas por meio de microscópios eletrônicos e, mesmo assim, o equipamento permite observar características muito gerais dos distintos grupos de vírus. Portanto, para a correta identificação dos vírus faz-se uso de técnicas baseadas em sorologia (ELISA) e biologia molecular, como o sequenciamento de genes. Atualmente, o diagnóstico da virose do nanismo amarelo vem sendo realizado no Brasil com base nos sintomas das plantas e na presença do inseto vetor. Como os sintomas das viroses podem, muitas vezes, ser confundidos com deficiências nutricionais, uma comprovação mais precisa tem sido efetuada por ELISA.

Como a variabilidade do patógeno tem efeito direto sobre a resistência genética, o levantamento da variabilidade da população viral deve ser realizado utilizando as ferramentas que permitem uma melhor identificação. Neste sentido, a Embrapa Trigo e a Universidade de Passo Fundo estão desenvolvendo um projeto que visa ao levantamento da variabilidade da população do vírus do nanismo amarelo nas regiões produtoras de cereais de inverno e sua precisa identificação por meio do sequenciamento de genes virais. Em vários países do mundo, isolados do vírus do nanismo amarelo foram sequenciados e, assim, as seqüências obtidas no Brasil poderão ser comparadas para se estabelecer as relações entre os vírus do Brasil e destas outras regiões.

A noção da variabilidade da população viral no Brasil e de quais estirpes predominam será importante para auxiliar na tomada de decisão das estirpes que serão consideradas na avaliação das chamadas fontes de resistência. Estas se constituem em plantas consideradas reservatórios de genes que podem ser transferidos para cultivares em desenvolvimento. O conhecimento da variabilidade do pátogeno também é muito importante para a definição do controle genético da resistência. O uso de estirpes definidas pode facilitar a obtenção de respostas para perguntas como: ao se cruzar uma planta resistente com uma planta suscetível, qual será a proporção de plantas resistentes e suscetíveis na próxima geração? A resposta a esta pergunta é a base dos chamados estudos de herança, que procuram definir herdabilidade de uma característica. Quanto mais "herdável" mais fácil será transferir a característica para a cultivar de interesse.

Pesquisador Embrapa Trigo

Fone (54)3316.5800, fax (54) 3316.5801/5802, site www.cnpt.embrapa.br

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