Abate antecipado

A implantação de sistemas intensivos de produção pecuária garante melhor qualidade, maior remuneração e rentabilidade do negócio.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A bovinocultura de corte no Brasil encontra-se em franca expansão. Com um rebanho ao redor de 170 milhões de cabeças e um crescimento médio anual de 3 a 3,5% ao ano, a cadeia produtiva da carne bovina emprega diretamente sete milhões de pessoas. A produção de carne bovina no Brasil é de 7,2 milhões de toneladas (equivalente carcaça). O valor atual da produção desse segmento é estimado em US$ 7 bilhões. As exportações de carne bovina ultrapassaram US$ 1 bilhão, sendo exportado aproximadamente 13% da produção total. O Brasil é hoje o terceiro maior produtor de carne bovina no mundo (atrás apenas dos EUA e UE) e estima-se que este ano (2003) deva consolidar a posição de maior exportador mundial de carne bovina. Possuidor do maior rebanho comercial do mundo, estimativas indicam que em 2010 o Brasil deverá exportar 30% da produção total de carne, representando a segunda maior pauta de exportações brasileira, atrás apenas do complexo soja.

Entretanto, para consolidarmos e mantermos a posição de destaque na produção e fornecimento de carne bovina para o mundo, há uma necessidade contínua de modernização do setor, garantindo competitividade com a devida qualificação (preço, qualidade e entrega) do produto.

A intensificação da pecuária de corte através da produção de novilhos precoces contempla as questões abordadas acima.

A produção de novilho precoce, animal abatido entre 24-30 meses e até quatro dentes definitivos, permite:

1-Aumento do desfrute do rebanho;

2-Melhor qualidade da carne;

3-Aumento da produtividade da empresa rural;

4-Melhoria da eficiência do empreendimento;

5-Maior giro de capital;

6-Diminuição da idade de abate e área ocupada por unidade produtiva;

7-Modificação da estrutura do rebanho;

8-Liberação de áreas para outras categorias;

9-Inclusão em programas estaduais de incentivo fiscal ao novilho precoce e conseqüente melhor remuneração do produto.

Atualmente, várias são as alternativas que podem ser utilizadas na produção do novilho precoce, porém sempre associadas a estratégias que envolvem alimentação, potencial genético animal, além de controle gerencial e econômico da atividade.

Manejo nutricional

Para a produção de novilhos precoces as possibilidades e combinações de ganho de peso são inúmeras. Se considerarmos um animal com 30 kg ao nascer e um peso final de abate de 450 kg, este precisa ganhar 420 kg em 30 meses, o que significa um ganho médio de 14 kg/mês ou 0,467 kg/dia, desde o nascimento até o abate. Nesse exemplo hipotético estamos considerando um ganho de peso constante. Normalmente, os bezerros são desmamados entre 150 e 200 kg com uma idade média de sete meses. Se considerarmos um peso ao nascer de 30 kg e um peso ao desmame de 180 kg com sete meses, o GMD do nascimento ao desmame fica em torno de 0,725 kg/dia. Nesse exemplo, o ganho de peso médio pós-desmame a cada mês fica em torno de 11,7 kg/mês ou 0,391 kg/dia.

Algumas estratégias de manejo podem ser utilizadas para a produção de novilhos precoces. Há uma série de possibilidades e combinações entre as estratégias de manejo alimentar utilizadas para a produção de novilhos precoces. Os animais poderão ser manejados em campos naturais, pastagens de inverno, verão, confinados e/ou suplementados. Por exemplo, bezerros desmamados em maio com 150 kg poderão ser abatidos até os 24-25 meses se forem suplementados no 1o inverno para um ganho de 0,45 kg/dia, seguido por um ganho de peso no verão de 0,5 kg/dia, sendo confinados no 2o inverno com um ganho de 1,0 kg/dia, resultando no abate com 24-25 meses e 450 kg.

Independentemente da estratégia nutricional utilizada, para projetar a capacidade de ganho de peso em regimes de suplementação, confinamento ou mesmo pastejo, devemos conhecer o valor nutricional dos alimentos utilizados. O valor nutricional de um alimento depende, principalmente, de três fatores:

I- O nível de nutrientes presentes;

II- A quantidade ingerida voluntariamente pelo animal;

III- A digestibilidade dos nutrientes consumidos.

O conhecimento do valor nutricional dos alimentos permite o emprego racional dos mesmos, conforme as necessidades nutricionais dos animais e o desempenho desejado. Para isso, existem as tabelas de composição dos alimentos, em que valores médios são estimados, ou existe a possibilidade de envio do material para laboratório de análise bromatológica.

Além do conhecimento do valor nutricional dos alimentos, também é necessário conhecer o consumo de alimentos pelo animal para a realização do balanceamento das dietas. Normalmente, o consumo é expresso como um percentual de matéria seca em função do peso vivo do animal. O consumo pode ainda ser expresso em kg de matéria seca/dia. O consumo de matéria seca entre 1,5% e 3,0% do peso vivo, ou significa que um animal de 400 kg consome entre 6 e12 kg de matéria seca por dia. A qualidade do alimento é que determina o consumo. Um alimento muito fibroso, de baixa digestibilidade, apresentará menor consumo. Na Tabela 1 (

) pode ser visualizada a estimativa de consumo conforme o tipo e qualidade do alimento.

Alguns volumosos de baixa qualidade (palhas, fenos ruins) apresentam qualidade e consumo limitados, impedindo o suprimento das necessidades de animais em fase de crescimento e/ou terminação.

Para estimarmos o ganho de peso dos animais devemos conhecer o valor nutricional dos alimentos disponíveis, a capacidade de consumo, o custo dos alimentos, além dos requerimentos nutricionais para atingir o ganho de peso necessário.

Os requerimentos nutricionais são encontrados em tabelas do NRC. Sendo os requerimentos para crescimento considerados mais relativos que absolutos, exigindo um ajuste específico às condições ambientais, tipo de animal, idade, peso, condição corporal e tipo de dieta.

Custos de produção

O conhecimento dos custos permite uma análise econômica da atividade. Diversos fatores influenciam os custos de produção. Através da análise dos custos e da receita, o produtor passa a conhecer com detalhes e utilizar de maneira racional os fatores de produção (terra, trabalho, capital e conhecimento-tecnologia).

O trabalho de confecção dos custos de produção está voltado para a análise de resultados, onde se busca saber qual é o lucro obtido.

LUCRO = (Produção X Preço) – Custo total

Considerando as três variáveis na fórmula acima - produção, preço e custo total, deve-se saber como e o que fazer para trabalhar cada uma delas. A variável produção está relacionada com a quantidade de produto obtido e depende do controle e planejamento técnico das atividades. O preço depende do mercado e é a variável de menor controle. Finalmente, o custo de produção representa a variável de maior capacidade de controle na administração da atividade. HOLMES (1998) analisou dezenas de propriedades e os resultados das 10 mais rentáveis indicaram que elas não eram mais rentáveis por serem apenas mais produtivas, mas sim por apresentarem os menores custos de produção.

Ao abordar custos de produção é importante frisar que custos são muito mais relativos do que absolutos, ou seja, a diversidade de fatores como clima, topografia, profundidade de solo, integração agrícola, proximidade de centros fornecedores de insumos (adubo, sementes, resíduos etc.), distância de mercados consumidores, escala de produção, tipo e custos administrativos, capacidade administrativa, técnica e gerencial, qualidade zootécnica, sanitária e nutricional do rebanho etc., criam uma combinação de fatores tão específica que cada unidade de produção apresentará os seus próprios custos.

Exemplo de produção

A seguir serão demonstrados os desempenhos econômico e biológico obtidos na produção de novilhos superprecoces (até 15 meses de idade). Nesse sistema os bezerros foram desmamados em março, com aproximadamente 140 kg, sendo suplementados em campo nativo até maio, quando entraram em regime de confinamento onde permaneceram até o abate, que ocorreu entre novembro e dezembro, com peso médio de 375 kg (Figura 1). Através da manipulação da dieta e genética para precocidade, é possível conseguir acabamento com este peso (Convém ressaltar que no Rio Grande do Sul muitos frigoríficos aceitam e até remuneram melhor carcaças oriundas de animais superprecoces, desde que apresentem acabamento adequado, independente do peso – Nichos de Mercado).

Nesse sistema, o custo de produção foi representado principalmente pela compra dos animais e pela alimentação (Figura 2). Estes dois itens representaram 93% dos custos totais, devendo ser fortemente monitorados e controlados, pois uma pequena redução nestes custos apresentam um grande impacto sobre a atividade. Nesse sistema, o ganho por animal/dia foi de R$ 1,73, com um custo de R$ 1,53 (considerando todos os custos). O resultado líquido indicou um lucro de R$ 126,74 por animal, correspondendo a 23,99% no período de execução da atividade (8,5 meses), ou 2,82% ao mês. Resultado superior às aplicações correntes do mercado financeiro, indicando uma boa atratividade como negócio.

Considerações finais

A implantação de sistemas intensivos de produção exige planejamento, organização e controle. O sucesso da atividade exige não apenas conhecimento técnico como também controle operacional e gerencial.

Através da produção do novilho precoce consegue-se maior qualidade, remuneração do produto e maior rentabilidade da atividade.

O conhecimento técnico, gerencial, planejamento e monitoramento contínuo da atividade permitem:

• Conhecer o valor nutricional dos alimentos, a quantidade de alimentos necessária para o desempenho das funções estabelecidas;

• Planejar a terminação dos animais em um período de tempo adequado, e com bom ganho médio diário (GMD) a um custo compatível.

Carlos Santos Gottschall

ULBRA

* Confira este artigo, com fotos e tabelas, em formato PDF. Basta clicar no link abaixo:

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