Água no meloeiro

O uso adequado da irrigação em cultivo protegido mantém a qualidade, contribui para evitar o excesso de sais na solução do solo e conseqüentemente eleva a produção a níveis superiores a 100 tone

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

O meloeiro é uma cultura exigente em temperaturas noturnas e diurnas mais elevadas durante todo o seu ciclo de cultivo. Altas temperaturas e baixa umidade do ar elevam sensivelmente o teor de açúcares nos melões, tornando-os mais saborosos, aromáticos, consistentes e com maior vida útil pós-colheita. Tais características justificam o sucesso da cultura em regiões de climas quentes e secos, como no Nordeste brasileiro. Entretanto, devido a escassez de chuvas nesta região, a prática de irrigação constitui uma das alternativas fundamentais para garantir a produção das áreas cultivadas.

Cultivo em ambientes protegidos constitui uma das alternativas fundamentais para garantir o aumento da produtividade das olerícolas, pois promove proteção contra chuvas, granizos e geadas, além de reduzir o ataque de pragas e o consumo de água aplicada na irrigação por produção unitária, chegando a uma economia de até 50%.

Este tipo de cultivo distingue-se dos demais sistemas de produção a céu aberto, principalmente pelo uso e controle parcial de fatores ambientais. Assim, o manejo adequado do sistema solo-água-ambiente é de fundamental importância para o sucesso de empreendimentos neste sistema de produção. Neste sentido, especial atenção deve ser dada: à qualidade da água; aos métodos de irrigação; ao volume de água a ser aplicado e freqüência de irrigação.

Com o uso de tecnologias adequadas de manejo da cultura e da fertirrigação em condições protegidas, pode-se elevar a produtividade do meloeiro a níveis superiores a 100 t ha.

Para a irrigação em solos sob estruturas de proteção, a fonte de água deve ser de boa qualidade, usar preferencialmente a irrigação por gotejamento com cabeçal de controle dotado de um bom sistema de filtragem e injetor de fertilizantes, sendo recomendável o uso de temporizador e válvula solenóides para automação do sistema. O controle da irrigação deve ser realizado com tensiômetros ou tanque classe A, ou ainda com a combinação dos dois. Na combinação dos dois métodos, o tensiômetro é usado para determinar o momento da irrigação e checar as condições de umidade do solo e o tanque classe A para determinar a lâmina de água de reposição.

Em áreas cobertas com solo homogêneo devem ser instalados no mínimo dois tensiômetros, sendo um instalado na profundidade de maior concentração radicular e, o outro, no limite dessa maior concentração, o que para melão, pode se considerar, um tensiômetro instalado a 15 cm e outro a 30 cm de profundidade, e as irrigações devem ser reiniciadas quando as tensões estiverem dentro do intervalo de 30 - 60 Kpa. A quantidade de água a ser aplicada (evapotranspiração de cultivo) é calculada multiplicando-se a evapotranspiração de referência (ET0) pelo coeficiente de cultivo (Kc), ETc = ET0 * Kc.

Uma metodologia promissora para estimar a ETo é pelo uso da evaporação que ocorre de um mini-tanque com dimensões de 0,60m de diâmetro e 0,25m de altura, adotando-se o valor do coeficiente do tanque (Kp) igual a 1. Para o cultivo do melão recomenda-se um Kcinicial (0,7), Kcmédio (1,15) e Kcfinal (1,0), para fase inicial, intermediária e final do ciclo.

A água encontrada na natureza pode conter impurezas que inviabilizam seu uso para irrigação, a menos que seja devidamente tratada. As impurezas contidas dependem da procedência da água, podendo estar em suspensão (silte, argila, matéria orgânica ou organismos vivos) ou dissolvidos (sais, metais pesados, pesticidas e gases). A quantidade e tipo dessas impurezas determinam se a fonte de água existente é de boa qualidade para uso em irrigação.

A concentração de sais, metais pesados e outros elementos químicos nocivos à cultura, na água de irrigação, não é normalmente suficiente para prejudicar diretamente as plantas. Os danos são devidos, quase sempre, à acumulação desses elementos químicos no solo, em razão do manejo inadequado da irrigação e, ou de drenagem deficiente do solo. Esses elementos químicos podem ser advindos de sais normalmente encontrados no solo ou de resíduos industriais e agrícolas que apresentam uma maior complexidade, pois diversos produtos químicos podem estar envolvidos.

A influência dos sais solúveis sobre o desenvolvimento e a produção das plantas manifesta-se por meio do aumento da pressão osmótica da solução do solo – reduzindo a disponibilidade de água à planta; do desbalanceamento nutricional da planta; da modificação da estrutura do solo e da toxicidade causada por certos íons. A salinização ocorre, principalmente nas regiões de clima árido e semi-árido, onde os baixos índices de precipitações e ocorrência de altas temperaturas provocam uma intensa evaporação da água e deposição de sais na superfície do solo ao longo dos anos. Um processo semelhante pode ocorrer nos cultivos protegidos, se medidas preventivas não forem tomadas, pois o uso intensivo de adubação, a falta de chuvas ou irrigação para drenar o excesso de fertilizantes e a contínua evaporação da água do solo podem aumentar o teor de sais na solução do solo.

A condutividade elétrica (CE) é utilizada para expressar a concentração total de sais, tanto para a classificação como para a diagnose da águas usada na irrigação e das condições de salinidade do solo. Condutividade elétrica da solução do solo acima de 1,5 mS cm-1 pode causar danos e redução de produtividade na maioria das hortaliças plantadas em estufa. Quando a salinidade da solução do solo aumenta, mais água necessita ser aplicada para obter-se uma mesma produtividade. A salinidade do solo pode reduzir o desenvolvimento das culturas, devido à competição no processo de absorção pelas plantas entre os sais dissolvidos na solução do solo e os nutrientes.

Em algumas situações, a água de irrigação pode permanecer relativamente fria e ocasionar uma diferença considerável de temperatura entre o solo e a água. Há um desequilíbrio hídrico nas plantas e interrupção temporária na absorção de água pelas raízes, quando a temperatura da solução do solo cultivado sob proteção está elevada e é reduzida bruscamente, por meio de irrigação. O continuar da transpiração provoca a desidratação dos tecidos foliares, podendo levá-los a morte. Este problema pode tornar-se sério nas regiões frias, como também no período de inverno nas regiões quentes, onde há uma intensa radiação dentro da estufa e aquecimento do solo, especialmente para intervalos mais espaçados entre uma e outra irrigação. Tais problemas advindos de diferenças térmicas entre as temperaturas da água de irrigação e do solo podem ser evitados ou reduzidos, quando faz-se irrigação ao amanhecer ou ao anoitecer e com mais freqüência.

a) Aspersão - Devido às características próprias dos cultivos sob proteção (áreas e dimensões relativamente pequenas), os tipos de aspersão mais utilizados são a microaspersão e aspersão de baixa pressão. São mais utilizados no cultivo de hortaliças folhosas e na formação de mudas. É pouco utilizado no cultivo de melão, apesar de geralmente apresentar menor custo de instalação por unidade de área.

b) Microirrigação - nas quais temos: fitas e gotejamento. O sistema de fitas consiste de mangueira de polietileno de baixa densidade e espessura, bastante delgada e com microperfurações feitas, geralmente, a laser e a distâncias pré-determinadas. Apresentam uma vazão relativamente uniforme dos microfuros, mas, devido ao seu minúsculo diâmetro, necessitam de um bom sistema de filtragem da água. O gotejamento é a irrigação mais conhecida e recomendada para o cultivo protegido, pois com ele pode-se obter economia de custeio da irrigação e de mão-de-obra, alta economia e eficiência de aplicação da água no solo, boa uniformidade de aplicação dos adubos minerais através da água de irrigação. As linhas de gotejamento podem ser instaladas tanto sobre a superfície do solo (caso mais comum), como abaixo da superfície do solo (irrigação subsuperficial). Os gotejadores são inseridos sobre ou no interior do tubo de polietileno ou entre duas seções do tubo. Um tipo comum no mercado são os chamados tubos de gotejadores, em que os orifícios de saída e o sistema de dissipação de energia são colocados no próprio tubo.

A grande desvantagem do gotejamento é o relativo custo inicial de implantação em relação aos demais sistemas, pois necessita de um cabeçal de controle completo (30 a 40% do custo total). O cabeçal de controle deve dispor de filtros, para evitar o entupimento dos gotejadores, além de manômetros, reguladores de pressão, injetor de fertilizantes e registros, para controle da entrada da água. A irrigação pode ser automatizada, neste caso o cabeçal deve dispor de válvulas solenóides e temporizador.

Um aspecto mais importante da irrigação é a reposição da água ao solo em quantidade adequada e na ocasião oportuna. O excesso de irrigação geralmente reduz a produtividade e a qualidade da produção, pode provocar o crescimento excessivo da planta, o retardamento da maturação das frutas, a lixiviação de nutrientes solúveis (N e K), queda de flores, maior ocorrência de doenças de solo e distúrbio fisiológicos, maiores gastos com energia e o desgaste do sistema de irrigação.

Busca-se cada vez mais a importância para produtos de melhor qualidade. A experiência de técnicos e as pesquisas têm demonstrado que diversas práticas de cultivo, entre as quais a irrigação é uma das mais efetivas, influenciando marcadamente sobre a qualidade dos produtos.

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Esalq/USP

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