Alvo ampliado

A mancha alvo, causada pelo fungo Corynespora cassiicola, está presente em lavouras de algodoeiro do oeste baiano, norte do MS e algumas regiões de MT. Diante da severidade observada nessas áreas, novos questionamentos precisam ser re

10.03.2016 | 20:59 (UTC -3)

Na safra (2013/2014) algumas lavouras de algodoeiro do oeste baiano, do norte de Mato Grosso do Sul e das regiões de Campo Verde, Primavera do Leste e Brasnorte no estado de Mato Grosso desenvolveram uma doença foliar com sintomas semelhantes ao da mancha alvo da soja, causada pelo fungo Corynespora cassiicola (Berk. & Curtis) Wei. A mancha alvo, em condições ambientais favoráveis, pode causar desfolha e, consequentemente, perdas econômicas em soja. Em algodoeiro, a doença foi noticiada nos EUA em 2012 no estado da Geórgia, principalmente na cultivar DP 1048 B2RF com desfolha estimada em 70% (2).

Os sintomas iniciais da mancha alvo no algodoeiro são pequenos pontos circulares de coloração arroxeada nas folhas. Com a evolução da doença, esses pontos tornam-se manchas de formato arredondado ou irregular, com bordas marrom-escuras e centro marrom-claro, variando em tamanho de 2mm a 20mm. As lesões, quando completamente desenvolvidas, podem apresentar anéis concêntricos e, quando a infecção é alta, as folhas caem prematuramente. Sempre associado aos sintomas, foi isolado um fungo com conidióforos simples, que originavam conídios sub-hialinos, com número variável de septos (quatro a 20) com dimensões de 50μm de comprimento a 190μm de comprimento e 7μm de largura a 16μm de largura, ligeiramente curvados e com formato obclavado a cilíndrico. Com base na similaridade dos sintomas e sinais já descritos na literatura (2), a diagnose tentativa aponta para Corynespora cassiicola (Berk. & Curtis) Wei., mesmo agente causal da mancha alvo em soja.

Esse fungo causa doença em 530 espécies de plantas de 380 gêneros, incluindo monocotiledôneas e dicotiledôneas (1). Além de isolados fitopatogênicos, C. cassiicola inclui isolados saprofíticos. O fungo também já foi relatado causando infecção na pele de humanos (3).

As condições ambientais ideais para o desenvolvimento de C. cassiicola são conhecidas em algumas culturas. Em tomateiro, a temperatura ideal está entre 20ºC e 28ºC e mais de 16 horas de molhamento foliar. Em seringueira, as condições ideais são temperatura entre 25ºC e 30ºC com umidade acima de 90%. Para pepino e fumo, o ótimo de temperatura para o desenvolvimento do fungo está entre 27,5ºC e 30ºC. De maneira geral, temperaturas amenas (abaixo de 30ºC) e períodos prolongados de alta umidade favorecem o desenvolvimento do patógeno.

O vento é a principal via de disseminação do patógeno a curtas distâncias e não há informações ainda sobre a disseminação por meio de sementes de algodoeiro. O fungo, por ser cosmopolita e necrotrófico, pode sobreviver em plantas hospedeiras e colonizar restos culturais de diversas espécies vegetais (4).

Diante da constatação da ocorrência desses sintomas em diferentes regiões produtoras de algodoeiro e em níveis epidêmicos, é necessário traçar estratégias para se antevir ao problema. Inicialmente, os postulados de Koch estão sendo conduzidos para comprovar C. cassiicola como agente causal da mancha alvo em algodoeiro.

Diante da severidade observada na cultura da soja e agora em algodoeiro nas áreas de cultivo do cerrado, algumas questões surgem e deverão ser respondidas pela pesquisa, como: I) Ocorreram variações na população de C. cassiicola no Brasil? II) O aumento do inóculo na cultura da soja pode estar afetando o cultivo subsequente de algodoeiro (segunda safra) ou no próximo ano agrícola (safra única)? III) O uso de fungicidas à base apenas de triazóis e estrobilurinas em algodoeiro direcionado ao controle da mancha de ramulária é suficiente para o controle da mancha alvo? IV) Cultivares de algodoeiro recém-introduzidas por possuírem traits transgênicos são mais suscetíveis que germoplasma adaptado ao ambiente tropical? V) Como e por quanto tempo o patógeno sobrevive em ambiente tropical? VI) Existem no Brasil isolados do patógeno naturalmente resistentes aos diversos fungicidas usados em soja, algodão e milho, como já demonstrado para benzimidazóis, estrobilurinas e carboxamidas em outros países? VII) Existe resistência genética no germoplasma de algodoeiro? VIII) Quais espécies podem ser usadas em rotação para diminuição do inóculo inicial de C. cassiicola? Essas perguntas, uma vez respondidas, ajudaram a elucidar a epidemiologia da doença e assim auxiliar na definição de manejo.

Este artigo foi publicado na edição 184 da revista Cultivar Grandes Culturas. Clique aqui para ler a edição.

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