​ANTRACNOSE: Avanço sorrateiro

A antracnose em soja tem avançado especialmente nos cerrados brasileiros, de forma ardilosa e com danos muitas vezes ocultos gerados pelo descuido com a patologia de sementes

07.07.2017 | 20:59 (UTC -3)

A antracnose da soja, uma consequência fisiológica ou causa de abortamento de legumes. O tema é parte de uma discussão atual em lavouras de soja, onde nas últimas safras se observou com maior frequência legumes sem grãos, presos às plantas. Na tentativa de estimar danos e apontar as causas desse sintoma, a doença, causada por fungo do gênero Colletotrichum, tem sido considerada.

Na atual safra 2017, a antracnose surge como a segunda doença em importância na mente dos sojicultores, para a tomada de decisão na escolha do controle químico, ficando apenas atrás da ferrugem. As condições de alta temperatura e umidade, somados a solos pobres em potássio, especialmente dos cerrados, favorecem sua ocorrência. Apesar de C. truncatum ser o táxon mais comumente associado com a antracnose da soja, outras espécies do gênero também estão envolvidas, como C. destructivum (Lehman e Wolf), C. gloeosporioides (Spauld; Schrenk) e C. graminicola (Sinclair e Backman, 1989).

Um experimento recentemente publicado por professores da USP/Esalq (Barbieri, 2017) que coletaram caules de plantas de soja, de janeiro de 2012 a novembro de 2014, com lesões marrons irregulares necróticas em lavouras comerciais no cerrado, encontrou entre os isolados a espécie Colletotrichum cliviae. Os testes de patogenicidade foram realizados duas vezes, com cinco cepas de C. cliviae em plantas de soja em vaso, cultivar 'BMX Potência' ou 'AMS Tibagi' e confirmaram a ocorrência de C. cliviae causando antracnose em soja no Brasil (Barbieri, 2017).

Também existem diversos trabalhos na literatura que consideram Colletotrichum truncatum como o principal agente causal da antracnose da soja. Porém, para Yang et al., 2012, 2014 há várias outras espécies de Colletotrichum envolvidas em diferentes regiões geográficas. Os trabalhos de Dias, 2014 e Barbieri, 2017 são o primeiro relato de C. cliviae envolvido com a antracnose da soja no Brasil. O estudo efetuado na Universidade de Brasília mostrou que o isolado I5H, proveniente do estado do Tocantins, apresentou lesões em plantas de soja mais severas, comparativamente, onde os autores classificaram como um dos mais agressivos à soja, causando lesões tanto em cotilédones, como em hastes. Os autores apontaram, ainda, que a prevalência desta antracnose esta separada geograficamente nos estados de Tocantins, Maranhão e Distrito Federal, justamente os locais onde têm sido relatados casos mais agressivos e recorrentes de danos por esta doença. (Dias, 2014).

Com a luz desses estudos mais recentes observa-se que o patossistema antracnose da soja é complexo e sua etiologia confusa. A escassez de informações sobre o patógeno, nas diversas regiões produtoras de soja, pode dificultar estratégias de controle, seja de uso de cultivares resistentes ou mesmo de fungicidas. Se no Brasil há a ocorrência de múltiplas espécies de Colletotrichum causadores da antracnose em soja, a própria reação varietal de suscetibilidade à doença pode ser diferencial entre regiões. Além de que, a espécie mais 'agressiva' pode estar sendo disseminada através de sementes contaminadas sem o devido cuidado, oferecendo maior dificuldade de controle para regiões em que anteriormente a antracnose não era uma doença tão importante. Continue lendo...

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