Aplicação correta dos fertlizantes em hortaliças

Pesquisador apresenta, de maneira prática, cálculo das quantidades de fórmulas de fertilizantes a serem aplicadas em linhas ou sulcos de plantio de sementes ou mudas de hortaliças

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Vem crescendo a procura por informações sobre a aplicação de calcário e fertilizantes em hortaliças cultivadas sob estufa plástica. As produtividades de hortaliças sob cultivo protegido, tais como pimentão, tomate e pepino, são duas até quatro vezes superiores às produtividades obtidas no campo, a céu aberto. Isso tem estimulado à realização de novas pesquisas científicas voltadas a definição sobre as quantidades e maneiras de aplicação de fertilizantes neste moderno sistema de produção.

O presente trabalho apresenta informações e recomendações sobre o manejo de corretivos e fertilizantes para o sistema de produção de hortaliças sob cultivo protegido.

Interpretação da análise de solo

Pesquisas realizadas no Instituto Agronômico de Campinas, com relação à adubação de hortaliças baseiam-se no conceito da produção relativa, ou seja, levam em conta a resposta das culturas aos nutrientes aplicados através da adubação.

A tabela 1 apresenta a interpretação da análise do solo visando a calagem e a adubação de hortaliças em geral (campo e cultivo protegido).

Tabela 1. Interpretação de P, K, Ca, Mg, S e V% em solos.

Teor / K+trocável (mmolc/dm3) / P(resina) (mg/dm3) / Ca++trocável (mmolc/dm3) / Mg++trocável (mmolc/dm3) / S–SO4-- (mg/dm3) / V (%)

muito baixo / 0,0 – 0,7 / 0 – 10 / 0 – 4 / 0 – 2 / 0 – 2 / 0 – 25

Baixo / 0,8 – 1,5 / 11 – 25 / 5 – 10 / 3 – 5 / 3 – 5 / 26 – 50

médio / 1,6 – 3,0 / 26 – 60 / 11 – 20 / 6 – 10 / 6 – 10 / 51 – 70

alto / 3,1 – 6,0 / 61 – 120 / 21 – 40 / 11 – 15 / 11 – 15 / 71 – 90

muito alto / > 6,0 / > 120 / > 40 / > 15 / > 15 / > 90

Fonte: Adaptado de Raij et al.(1997) - São Paulo e Ribeiro et al.(1999) - Minas Gerais

A interpretação para os níveis de cálcio deve ser adotada com cautela levando-se em conta a textura do solo. Assim é que 15 mmolc de Ca++/dm3 de solo pode ser considerado como teor médio a alto em solo arenoso e teor médio a baixo em solo argiloso.

Com relação aos micronutrientes presentes no solo, a interpretação visando a adubação de hortaliças além de outras culturas, é apresentada na tabela 2.

Tabela 2. Interpretação dos teores de micronutrientes em solos (1).

Teor / B (mg/dm3) / Cu (mg/dm3) / Fe (mg/dm3) / Mn (mg/dm3) / Zn (mg/dm3)

Baixo / 0 – 0,30 / 0 – 0,2 / 0 – 4 / 0 – 1,2 / 0 – 0,5 /

Médio / 0,31 – 0,60 / 0,3 – 0,8 / 5 – 12 / 1,3 – 5,0 / 0,6 – 1,2

Alto / > 0,60 / > 0,8 / > 12 / > 5,0 / > 1,2

(1) Boro extraído por água quente ; Cu, Fe, Mn e Zn extraídos pelo DTPA.

Fonte: Raij et al. (1997)

As recomendações de N para as hortaliças baseiam-se na extração deste nutriente pelas plantas e exportação pelas colheitas.

Um indicativo do teor de nitrogênio presente no solo é a quantidade de matéria orgânica do mesmo. Cerca de 5% da matéria orgânica do solo é constituída por nitrogênio total. No entanto, este nem sempre está em forma disponível às plantas. As formas de N no solo, disponíveis às plantas, como a nítrica (NO3-) e a amoniacal (NH4+) ou mesmo as não disponíveis, são instáveis ou seja, sujeitas à rápidas mudanças, devido as ações dos microorganismos na mineralização da matéria orgânica, às lixiviações provocadas pelas águas da chuva ou irrigação, etc. Isso portanto dificulta a interpretação da análise deste elemento quando fornecido pela análise de solo. Os teores de matéria orgânica do solo indicam também de maneira indireta, a textura (granulometria) do solo. Considera-se solo arenoso aquele que contém matéria orgânica até 15 g/dm3; solo de textura média aquele com matéria orgânica entre 16 e 30 g/dm3 e solo argiloso aqueles com matéria orgânica entre 31 a 60 g/dm3. Sempre que possível, é interessante realizar a análise granulométrica (textura) do solo para se conhecer as reais quantidades de areia, silte e argila do mesmo.

A necessidade da calagem é determinada pela porcentagem de saturação por bases do solo e a tolerância da espécie de hortaliça ao menor ou maior grau de acidez do solo. A equação para cálculo da calagem é dada por: NC = CTC (V2 – V1)

10 PRNT

NC = Necessidade de calagem, em t/ha;

CTC (ou T) = Capacidade de troca de cátions expressa em mmolc/dm3 de solo.

V1 = Saturação por bases dada pela análise do solo.

V2 = Saturação por bases que se pretende atingir (em geral entre 70 e 80%).

A incorporação do calcário deve ser feita até 20 a 30 cm de profundidade, pois diversas hortaliças tem o sistema radicular tão profundo como culturas extensivas. Dentre as hortaliças de sistema radicular profundo cultivadas em estufa agrícola pode-se citar o tomate. Com o sistema radicular moderadamente profundo destacam-se pimentão, pepino, berinjela, melão, salsa e cebolinha. Entre aquelas de sistema radicular pouco profundo citam-se a alface, chicória e almeirão.

A aplicação do calcário deve ser feita com pelo menos 30 a 40 dias de antecedência ao plantio utilizando-se de preferência o calcário finamente moído ("filler") com PRNT de 80 a 90% ou parcialmente calcinado (PRNT de 90 a 100%). Caso seja encontrado apenas o calcário comum (PRNT de 60 a 70%) este deve ser incorporado ao menos 60 dias antes do plantio das hortaliças. Deve-se preferir os calcários que contenham boa quantidade de magnésio em sua composição, como os dolomíticos (acima de 12% de MgO).

A adubação orgânica para hortaliças apresenta as seguintes vantagens:

a) Melhora as condições físicas do solo, diminuindo, por exemplo, os problemas de compactação de solos.

b) Diminui a incidência de nematóides visto que os adubos orgânicos em geral possibilitam o desenvolvimento nos solos de microorganismos úteis que tem ação antagônica aos nematóides.

c) Fornece parcialmente, nutrientes às plantas de maneira gradual e contínua.

Por outro lado a adubação orgânica apresenta algumas limitações:

a) A incorporação dos fertilizantes orgânicos ao solo deve ser realizada pelo menos 30 a 40 dias antes do plantio, tempo necessário para que ocorra o processo de cura ou decomposição sem o que poderá haver "queima" das sementes ou mudas de hortaliças.

b) Alguns fertilizantes orgânicos mal decompostos podem introduzir sementes de mato no local.

c) Estercos animais, principalmente de aves podem carregar resíduos de sal e outros produtos presentes nas rações , acarretando problemas como salinização do solo.

Dentre os melhores fertilizantes orgânicos utilizados em hortaliças destacam-se o composto orgânico, o húmus de minhoca e a torta de mamona pré-fermentada.

As quantidades dos fertilizantes orgânicos a serem aplicadas dependem também de sua disponibilidade local e do custo do transporte e aplicação. A tabela 3 mostra as recomendações de adubação orgânica para diferentes grupos de hortaliças, válido tanto para o cultivo protegido, como no campo, a céu aberto.

Tabela 3. Recomendações de adubação orgânica para hortaliças

Grupo de hortaliças / Esterco bovino bem curtido ou Composto (kg/m2 de canteiro) / Esterco de galinha/frango suínos/ovinos e húmus de minhoca / Torta de mamona (pré-fermentada)

Folhosas (alface, rúcula, etc.) / 2 - 4 / 0,5 - 1 / 0,1 - 0,2

Frutos ((tomate, pimentão, etc.) / 2 - 4 / 0,5 - 1 / 0,1 - 0,2

Bulbos e Raízes (cebola, cenoura, etc.) / 1 - 2 / 0,25 - 0,50 / 0,02 - 0,05

Obs: Maiores doses de fertilizantes orgânicos para solos de fertilidade baixa. Aplicar cerca de 30 dias antes do plantio. Incorporar a 20 a 30 cm de profundidade, em todo o canteiro.

A seguir são descritas as recomendações de adubação de hortaliças baseadas nos teores de nutrientes no solo e também na extração de nutrientes pelas hortaliças. As doses de nutrientes foram determinadas com base em experimentação realizada nas condições de solo e clima do Estado de São Paulo, devendo ser adotadas com cautela para outras regiões.

A adubação no solo em pré-plantio deve ser realizada em toda área do canteiro ou no sulco de plantio. Recomenda-se a aplicação do calcário e fertilizantes desde a superfície até 20 a 30 cm de profundidade para proporcionar melhor crescimento e distribuição do sistema radicular das plantas.

O parcelamento dos fertilizantes a serem aplicados em cobertura deve levar em conta, a marcha de absorção de nutrientes da cultura. Para as hortaliças recomenda-se a aplicação de 10% dos nutrientes no primeiro quarto do ciclo da cultura (início de crescimento); 20% dos nutrientes na segunda fase de desenvolvimento; 40% dos nutrientes na terceira fase do ciclo (período de maior formação de massa fresca de folhas e frutos) e 30% na quarta fase do ciclo da cultura. Dependendo da espécie e do grupo de hortaliças, nutrientes como o potássio tem a sua aplicação concentrada na etapa da máxima produção de frutos.

As tabelas 4; 5; 6 e 7 mostram as quantidades de nutrientes necessários para diversas hortaliças que podem ser produzidas sob cultivo protegido.

Misturar os fertilizantes ao solo, pelo menos 10 dias antes da semeadura ou transplante das mudas. Acrescentar à adubação mineral de plantio 1 kg de B/ha e 3 kg de Zn/ha para todas as hortaliças acima citadas. Novas aplicações de micronutrientes somente serão efetuadas após análise química do solo.

Alface – 60 a 120 kg/ha de N; 20 a 40 kg/ha de P2O5 e 30 a 60 kg/ha de K2O, parcelando as aplicações através da fertirrigação; A alface do tipo americana deve receber doses de potássio 20 a 40% superiores em relação aos tipos lisa e crespa. Almeirão e Chicória – 60 a 120 kg/ha de N, parcelando as doses através da fertirrigação; Couve de folhas - 60 a 120 kg/ha de N e 20 a 40 kg/ha de K2O, parcelando as doses através da fertirrigação. A cada 30 dias pulverizar as plantas com 0,5 g de molibdato de amônio e 1 g de ácido bórico por litro de água; Cebolinha: 60 a 90 kg/ha de N e 20 a 40 kg/ha de K20, parcelando através da fertirrigação; Rúcula: 90 a 150 kg/ha de N e 20 a 40 kg/ha de K2O parcelando as doses através da fertirrigação; Salsa: 30 a 90 kg/ha de N e 20 a 40 kg/ha de K2O, parcelando através da fertirrigação.

Adubação mineral de cobertura: Aplicar de 200 a 300 kg/ha de N; 60 a 120 kg/ha de P2O5 e 120 a 240 kg/ha de K2O, parcelando as doses através da fertirrigação.

Sistemas de fertirrigação em cultivo protegido

O principal sistema de fertirrigação é aquele que utiliza mangueiras em forma de fitas ou tripas, na superfície ou sub-superfície do solo. Essas mangueiras contém micro-orifícios, na forma de poros. As mangueiras de irrigação podem ou não ser cobertas com plásticos colocados ao longo das linhas plantadas com hortaliças.

Outro sistema de fertirrigação é realizado por tubo-gotejadores que são dispostos ao longo das linhas de irrigação e gotejam água com fertilizantes sobre vasos de plástico contendo substratos de diferentes composições (figuras 5 e 6). Os substratos devem ser previamente esterilizados contra patógenos, e adubados conforme análise química que identifique seus teores de nutrientes.

Em estufas denominadas tipo túnel alto (nas formas de arco e de capela) quando são plantadas hortaliças folhosas, é também utilizado o sistema de aspersão com barras contendo os aspersores na altura de 50 a 60 cm. Deve-se aplicar água limpa sobre as hortaliças após a aplicação dos fertilizantes via água de irrigação.

No caso da produção de mudas de hortaliças a fertirrigação pode ser realizada no sistema de nebulização, onde é importante irrigar-se com água limpa após a aplicação dos fertilizantes altamente solúveis, para que não ocorra "queima" das folhas por possíveis resíduos de fertilizantes.

Ainda outro sistema, menos utilizado, é o de aplicação dos fertilizantes na água de inundação onde as mudas de hortaliças dentro de copinhos perfurados, são colocadas sobre "piscinas", onde ocorre a absorção de água e nutrientes pelas plantas

Centro de Horticultura / IAC / APTA

AGRADECIMENTOS

O autor agradece ao Sr. André Luis Trani (Instituto de Química/USP, São Carlos-SP), pela revisão e editoração do texto.

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