Aula Prática

Pequenas e rápidas dicas sobre o uso de inseticidas em lavouras sob plantio direto podem economizar dinheiro e evitar dores de cabeça para o produtor.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A melhoria dos sistemas de produção e a pressão que as pragas exercem sobre as lavouras requerem que o agricultor tenha em mente alguns fatos ao aplicar inseticidas na lavoura. Pensando nisso, elaboramos algumas dicas rápidas para quem utiliza o sistema de plantio direto.

Os inseticidas aplicados na parte aérea, ou mesclados com herbicidas, causam a morte de insetos que se encontram acima da superfície do solo (lagartas, percevejos, besouros, moscas, pulgões, vespas etc.) com persistência inferior a uma semana. Não controlam pragas-de-solo e não substituem o tratamento de sementes. Deve-se evitar a aplicação de doses elevadas de produtos de amplo espectro de ação na parte aérea por causa do efeito negativo sobre inimigos naturais, permitindo a reinfestação de pragas cujos adultos voam e se deslocam a longas distâncias.

O tratamento de sementes as protege contra pragas (corós, cupins, larva-arame, lanudo etc.) até duas ou três semanas após a semeadura. É difícil alcançar persistência maior do que três semanas. Algumas vezes parece proteger por períodos maiores, porém, pode ser por causa da ausência da praga.

O tratamento de sementes contra pragas que atacam plântulas apresenta resultados erráticos. Todas as formulações comerciais disponíveis no mercado protegem contra as pragas que atacam a semente. Alguns inseticidas protegem bem contra a lagarta-da-aveia (

spp.) outros contra pulgões. Para a lagarta-rosca (Agrotis sp.), brocas (

), cigarrinhas (

spp. e outras), percevejos (

spp.), grilos (

spp.) e outras pragas iniciais, os resultados são instáveis e a persistência é curta. Quando ocorrem chuvas regulares e a umidade de solo é mantida em teores elevados, o controle é satisfatório. Em períodos de seca, a absorção de inseticida é reduzida, a planta não cresce e a temperatura do solo se eleva aumentando a capacidade de consumo da praga. Essa combinação de fatores resulta em menor eficácia de inseticidas aplicados na semente.

O uso de inseticidas no sulco de semeadura (granulados ou líquidos) apresenta a vantagem de aplicar maior quantidade de ingrediente ativo e de período mais longo de persistência do que o alcançado com o tratamento de sementes.

As culturas com baixa população de plantas, como o milho e o girassol, com apenas 5 sementes/m², necessitam de proteção na semente ou no sulco contra o dano de pragas. Outras culturas como o trigo (330 sementes/m²) ou a soja (30 a 40 sementes/m²), não necessitam de proteção com inseticidas em condições normais de lavouras.

As formulações granuladas apresentam vantagens com a liberação lenta de ingrediente ativo e período de persistência (proteção) mais longo. O uso é limitado pelo preço, relativamente elevado, dessas formulações e pela necessidade de adaptar uma terceira caixa na semeadora para distribuição do produto.

Esse método, nas doses normais, é eficiente para o controle de pragas que atacam as sementes, as plântulas ou partes subterrâneas até cinco a sete semanas após a semeadura.

A aplicação de líquidos no sulco de semeadura apresenta a vantagem de formulações comerciais mais baratas, usadas para aplicação na parte aérea de plantas, e a experiência consagrada de agricultores na regulagem de pulverizadores.

É necessário adquirir ou adaptar equipamento nas semeadoras para direcionar o jato de inseticida para dentro do sulco de semeadura. É importante regular a vazão para volumes baixos, em torno de 10 l/ha, optando por manômetro de baixa pressão, para permitir melhor regulagem, e por bico cone de baixa vazão e sem difusor ou por bico leque com ângulo de abertura menor. Assim, dirigindo o jato na forma de esguicho, para dentro do sulco, sem molhar os discos da semeadora e o solo ou a palha exposta à radiação solar. Deve-se aplicar o inseticida dentro do sulco e cobrir com solo, usando a roda ou disco de fechamento (cobertura) da semeadura.

A aplicação de inseticidas líquidos no sulco, durante a semeadura, é viável e eficiente para as pragas que atacam as sementes e as pragas-de-solo (corós, larva-arame, larva-alfinete) nas culturas com maior espaçamento entre fileiras, como milho, girassol e algodão. Essa forma de uso de inseticidas substitui o tratamento de sementes, o uso de granulados e controla algumas pragas de plântulas na superfície do solo. Nas culturas com espaçamento menor entre fileiras, como trigo, cevada, aveia e canola, é inviável usar inseticida líquido dirigido no sulco de semeadura. Nesses casos, é mais prático, eficiente e econômico fazer o tratamento de sementes com inseticidas.

A quimigação, ou aplicação de inseticidas na água de irrigação, é adotada por alguns agricultores para o controle da lagarta-do-cartucho, entretanto, se considerar o elevado volume de água aplicado na irrigação (5 mm: 50.000 l/ha) e a baixa capacidade da planta reter água (600 a 800 l/ha na superfície da parte aérea e no milho até 2000 l/ha no cartucho) o índice de aproveitamento de inseticida é inferior a 4%. Ou seja, 96% do inseticida aplicado cairá no solo com a água de irrigação.

É um método inadequado e deve ser evitado pelo efeito negativo na morte de inimigos naturais de pragas e por favorecer a ressurgência das pragas cujos adultos são voadores, como as mariposas e os pulgões.

Antes de optar por métodos de aplicação ou pelo uso de inseticidas para pragas-de-solo, deve-se examinar a lavoura, amostrar o solo e determinar as populações das espécies que podem atingir o nível de praga e, então, definir a melhor estratégia econômica e prática de manejo ou de controle.

Embrapa Trigo

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