Avaliação de ponteiras de semeadoras

Avaliação de tipos de ponteiras de hastes sulcadoras mostra qual perfil de sulco de cada uma e quais as melhores soluções para cada tipo de plantio

23.06.2020 | 20:59 (UTC -3)

Avaliação de quatro tipos de ponteiras de hastes sulcadoras mostra qual o perfil de sulco de cada uma delas e quais as melhores soluções para cada tipo de plantio.

No sistema de semeadura direta, as semeadoras são equipadas com sulcadores tipo hastes e/ou discos. Porém, podem ser equipadas apenas com discos uma vez que a haste é mais indicada para solos compactados, como em locais onde ocorre integração entre a lavoura e a pecuária.

O sulco de semeadura desempenha um papel importante na germinação e no estabelecimento das culturas. Quando aberto por mecansimos do tipo haste, ocorre uma interessante descompactação da camada superficial do solo, promovendo um deslocamento de agregados do fundo do sulco para a superfície. No entanto, quando ocorrem períodos de seca, a utilização de haste sulcadora pode ser negativa, pois a maior exposição do solo favorece a perda de umidade. Neste caso, há uma vantagem na utilização de sulcadores tipo disco, que proporcionam uma menor exposição do solo, mantendo a cobertura de palha nas proximidades do sulco.

O sulco de semeadura desempenha um papel importante na germinação.
O sulco de semeadura desempenha um papel importante na germinação.

Um elemento importante dos sulcadores do tipo haste é a ponteira. Seu ângulo de ataque e largura influenciam diretamente na qualidade do sulco. Por isso, é fundamental a substituição deste componente ao se verificar desgastes, pois a alteração na sua geometria, causada pelo atrito com as partículas do solo, resulta em sulcos com menor área de solo mobilizado.

No mercado são oferecidos vários modelos de ponteiras com preços diversos. Porém, as informações técnicas a respeito das características do sulco são escassas. Por isso, foi realizado um estudo com o objetivo de avaliar a área de solo mobilizada por quatro diferentes modelos comerciais de ponteiras de hastes sulcadoras, configuradas no sistema “guilhotina”, em três condições de umidade do solo.

O experimento foi realizado na área experimental da Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Cerro Largo (RS) entre fevereiro e abril de 2015. O solo é classificado como Latossolo Vermelho distroférrico típico (LVdf) com textura argilosa. A área utilizada para o estudo foi manejada com semeadura direta de culturas anuais por 10 anos antecedentes ao ensaio.

Foram realizados ensaios com quatro modelos de ponteiras (Figura 1) em três condições de umidade do solo (22%, 26% e 30%). As ponteiras número 1 e 2 possuem 53 mm de largura, a ponteira número 3 possui 22 mm, e a número 4 possui 20 mm de largura.

Figura 1 - Modelos de ponteiras avaliadas.
Figura 1 - Modelos de ponteiras avaliadas.

O delineamento utilizado foi o DIC, (Delineamento Inteiramente Casualizado) com quatro repetições, sendo que cada parcela foi constituída de um sulco aberto pelo mecanismo sulcador do tipo guilhotina, composto por disco de corta da palha e haste sulcadora conforme a Figura 2.

Figura 2 - Resistência do solo à penetração em função da umidade gravimétrica. As médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si. Foi aplicado o Teste de Scott-Knott ao nível de 5% de probabilidade.
Figura 2 - Resistência do solo à penetração em função da umidade gravimétrica. As médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si. Foi aplicado o Teste de Scott-Knott ao nível de 5% de probabilidade.

Os testes foram desenvolvidos utilizando um porta-ferramentas para o acoplamento do mecanismo de abertura do sulco e um trator da marca New Holland modelo TL75 com 57 kW (78 cv) de potência. A velocidade de deslocamento do trator foi de 1,39 m/s (5 km/h).

Na caracterização do solo realizou-se a avaliação da textura (argila, silte e areia), umidade gravimétrica, densidade e resistência à penetração. Para a determinação da textura do solo foram coletadas cinco amostras na profundidade de trabalho (0 a 100 mm) distribuídas na área experimental. Para a determinação da umidade gravimétrica do solo foram coletadas cinco amostras em cada camada (0 a 50mm; 50 a 100 mm) nas diferentes condições de umidade avaliadas. Após, as amostras foram transportadas em embalagens impermeáveis ao laboratório de mecânica dos solos da UFFS, onde utilizou-se a metodologia da pesagem e secagem em estufa por 24h.

A densidade do solo foi avaliada com a coleta de cinco amostras indeformadas em cada profundidade (0 a 50; 50 a 100 e 100 a 150 mm), utilizando anéis metálicos com volume interno de 200 cm³ seguindo a metodologia proposta pela EMBRAPA (1997). A resistência do solo à penetração foi determinada com a utilização de um penetrômetro manual, até a profundidade de 300 mm em oito pontos aleatórios nas três condições de umidade.

A avaliação da área de solo mobilizada foi realizada através de um perfilômetro com precisão de 5 mm. Este equipamento é constituido de uma estrutura metálica com 1,2 m de altura e 1 m de largura, onde uma fileira de varetas cilindricas é posicionada no sentido transversal ao sulco de semeadura. Desta forma, copiou-se a superfície do solo para o equipamento e determinou-se a área mobilizada.

Para as análises estatísticas foi utilizado o software Assistat, versão 7.7, pelo teste de Scott-Knott ao nível de 5% de probabilidade.

Perifilômetro utilizado na avaliação.
Perifilômetro utilizado na avaliação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A avaliação granulométrica do solo apresentou os valores de 56,3% de argila, 33,3% de silte e 10,4% de areia. De acordo com o Sistema Brasileiro de Classificação dos Solos este solo é classificado como argiloso. O solo apresentou-se friável entre a umidade de 0,22 % (limite de contração) e 0,30 % (limite de plasticidade).

As análises de umidade gravimétrica realizadas durante os testes indicaram um aumento da umidade em função da profundidade para a condição de solo mais seco, e um efeito contrário na condição de solo mais úmido (Tabela 1). 

O teor de umidade média do solo, na profundidade de atuação dos sulcadores (0 – 100 mm), foi de 22%, 26% e 30% para as três condições avaliadas. Destaca-se que esses três valores de umidade ficaram dentro da faixa de friabilidade do solo, que é a condição indicada para determinação da resistência do solo à penetração, também, realizar as intervenções mecânicas, entre elas a semeadura direta.

As análises de densidade do solo indicaram um aumento da compactação em função da profundidade (Tabela 2), porém não alcançando valores considerados críticos pela literatura. 

Estudos apontam que valores de densidade superiores a 1,34 g/cm3 podem prejudicar o desenvolvimento das raízes em solos argilosos. No entanto, nas avaliações realizadas, a densidade média, na profundidade de atuação do sulcador (0 – 100 mm), foi de 1,24 g/cm3. A menor densidade nas camadas superficiais do solo pode ser atribuída a grande quantidade de raízes e restos culturais remanescentes do sistema de manejo.

A resistência do solo à penetração apresentou uma variação significativa em função da umidade, mesmo dentro da faixa de friabilidade do solo. Foram obtidos valores médios de 3,60 MPa quando a umidade do solo era de 22%; 2,09 MPa quando a umidade era de 26%, e 1,75 MPa quando a umidade do solo era de 30% na camada de 0 a 300 mm.

O crescimento das raízes das plantas é limitado pela resistência do solo à penetração, no entanto, há divergências na literatura sobre qual seria a resistência limitante a produtividade das culturas, pois este é um fator que afeta o desenvolvimento das plantas de forma indireta, e possui grande oscilação ao longo do tempo, principalmente em função do teor de umidade presente no solo. De acordo com CLARK et al. (1990, 2003) as raízes exercem uma pressão em torno de 0,2 a 1,2 MPa durante o seu crescimento. SILVA et al. (1994) aponta um valor de 2 MPa como restritivo ao crescimento das raízes. No entanto, estes valores podem não representar prejuízos à cultura, desde que haja disponibilidade de água e nutrientes.

As avaliações de área de solo mobilizada indicaram que a ponteira 1 e 2, com asas mais largas, apresentam maior mobilização do solo em relação aos modelos 3 e 4. Exceto na condição de maior umidade, onde a ponteira 1 apresentou valores superiores as demais, conforme a Tabela 3.

Na condição de solo mais seco as ponteiras com asas, modelos 1 e 2, mobilizaram maior quantidade de solo, não diferindo entre si. As ponteiras 3 e 4 obtiveram resultados de área mobilizada inferiores, sendo que o modelo 4 apresentou a menor mobilização. Na condição de umidade intermediária, as ponteiras 1 e 2 indeferiram e mobilizaram maior quantidade de solo do que os modelos 3 e 4. Já na condição de solo mais úmido, a ponteira 1 foi a que apresentou maior mobilização.

Ao variar a umidade do solo observou-se um comportamento semelhante entre as ponteiras 1, 2 e 3 ao aumentar a umidade. Porém, destaca-se que o modelo 4 apresentou menor área de solo mobilizada na condição de menor umidade. Isso demostra que em menores umidades, dentro da faixa de friabilidade do solo, é interessante utilizar as ponteiras mais largas para proporcionar maior área de solo mobilizada.

Ponteira sem desgaste.
Ponteira sem desgaste.
Ponteira desgastada.
Ponteira desgastada.

CONCLUSÃO

No sistema guilhotina, as características geométricas das ponteiras e a umidade do solo influenciam a quantidade de solo mobilizado pela haste sulcadora.

As ponteiras, com asas mais largas, apresentam maior mobilização do solo no sulco de semeadura tanto em situações de solo mais seco como em solos mais úmidos.

As ponteiras mais estreitas mobilizam menor área de solo, resultando em sulcos mais superficiais. Apesar de serem mais estreitas e, teoricamente exercerem maio pressão sobre o solo, a ausência das asas é um fator que limita o aprofundamento da ponteira, principalmente em situações de menor umidade.


Marcos Antonio Zambillo Palma, Dailson Guimarães Dugato, Daiana Cristina Johanns, Adrik F. Richter, Rafael A. Kupske e Guilherme Welter de Oliveira, UFFS


Artigo publicado na edição 164 da Cultivar Máquinas.

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