Broca do abacate

A broca do abacate, Stenoma catenifer é um inseto é capaz de causar perda total de produção se não for controlado a tempo.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

O abacateiro,

, é cultivado em quase todas as regiões tropicais e subtropicais do mundo. Rico em proteínas e sais minerais como ferro, cálcio e fósforo, o abacate contém ainda hidratos de carbono, gorduras, glicose, tanino, ácido málico e acético, fitosterol, lecitina e vitaminas A, B, C, D, E e G (Campos, 1985). O abacate, além da sua importância na culinária, tem também grande utilização na indústria farmacêutica e de cosméticos.

O Brasil é um dos maiores produtores mundiais, tendo sua produção concentrada nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e Bahia. Isso se deve em parte à introdução da cultivar Margarida, selecionada pelo agricultor Miguel Makiyama, de Arapongas, norte do Paraná, que pela qualidade do fruto somada à maturação tardia, permite a oferta de frutos ao consumidor durante a entressafra (2° semestre).

A partir do final da década de 80, entretanto, a cultura do abacate que estivera livre do ataque de pragas de importância econômica, começou a sofrer o impacto de um inseto altamente prejudicial, a broca do fruto,

. A broca do abacate apresenta ampla distribuição, sendo relatada em vários países da América Latina, incluindo o Brasil (Costa Lima, 1945; Jaramillo et al., 1972; Fersini, 1975; Koller, 1984). No Paraná, onde o cultivo comercial do abacate teve grande impulso no início da década de 80, a broca despertou interesse a partir de 1987 quando começou a causar danos importantes à cultura, principalmente nos municípios de Arapongas e Rolândia. Desde então, os prejuízos têm se intensificado, chegando a acarretar perdas totais em alguns pomares (Hohmann & Meneguim, 1993).

A forma adulta da broca é uma mariposa de coloração amarela-palha com pontuações escuras sobre as asas, medindo aproximadamente 1,5 cm de comprimento. As fêmeas vivem em média 4,7 dias enquanto que os machos 5,1. A mariposa deposita seus ovos em reentrâncias tanto no pedúnculo como na superfície dos frutos. O número médio de ovos por fêmea em laboratório foi 164. Os ovos são invisíveis a olho nu, de coloração branca-esverdeada, de forma oblonga e com estrias longitudinais. A duração média do período de preoviposição foi de 6 dias enquanto que o período de incubação variou de 2 a 3 dias. As lagartas são inicialmente de coloração branca-acinzentada e cabeça escura tornando-se posteriormente roxas. A duração média do período larval e pupal foi de 15,3 e 10,6 dias, respectivamente.

Danos ocasionados

Os danos são ocasionados por larvas que, a partir da eclosão começam a broquear os frutos desde o estágio inicial de desenvolvimento dos mesmos. Uma característica da presença da broca nos frutos é uma exudação esbranquiçada e o acúmulo de fezes no local da penetração. Quando a infestação é alta, pode-se encontrar várias larvas no interior dos frutos, tornando-os impróprios para o consumo. O ataque da broca no início de desenvolvimento dos frutos provoca a queda prematura dos mesmos.

O uso de cultivares tardias como a Margarida, que se constituiu em fator preponderante para a expansão da cultura do abacate no estado do Paraná, pode em alguns casos contribuir de forma negativa para o agravamento da situação. Isto se deve a longa permanência dos frutos no pomar os quais ficam expostos ao ataque do inseto boa parte do ano. Tem-se observado condições onde frutos maduros e frutos no início de desenvolvimento estão presentes no mesmo pomar, permitindo que a broca encontre condições favoráveis para completar seu ciclo biológico ao longo do ano. Portanto, para minimizar este problema sugere-se que não se retarde demasiadamente a colheita e que se proceda a destruição dos frutos caídos quando possível.

A falta de informações sobre manejo da broca tem sido um grande entrave para a sobrevivência da cultura do abacate, levando alguns produtores a abandonarem a atividade. No intuito de minimizar o problema estudos foram conduzidos pelo Instituto Agronômico do Paraná- IAPAR onde foram testados o uso de armadilhas para monitorar a ocorrência da praga, a eficiência de inseticidas piretróides e épocas de controle. Embora preliminares, os resultados foram promissores. Apesar de os inseticidas testados apresentarem eficiência no controle da broca do abacate há um fator que limita sua utilização, a falta de registro.

Nos últimos anos tem aumentado consideravelmente os problemas com resistência de pragas a produtos químicos, desequilíbrios biológicos com ressurgimento de pragas secundárias (principalmente ácaros), e a procura por produtos livres de resíduos de pesticidas, principalmente produtos que são consumidos in natura. Por essa razão tem havido uma demanda da comunidade para que se busquem alternativas de controle de artrópodos-praga para reduzir ou eliminar o uso de agrotóxicos na atividade agropecuária. Uma das alternativas que têm merecido destaque é o Controle Biológico.

O controle biológico foi definido por DeBach (1964) como “a ação de parasitóides, predadores e patógenos mantendo a densidade populacional de um outro organismo a uma densidade média inferior do que ocorreria na ausência do agente” Ao contrário do controle químico, os agentes biológicos são mais duradouros e estáveis, não causam desequilíbrios biológicos e não se tornam resistentes às pragas. Levantamentos realizados em pomares de abacate no Paraná revelaram a presença de vários parasitóides atacando diferentes estágios de desenvolvimento da broca do abacate e dentre eles, destacam-se os parasitóides pertencentes à família Trichogrammatidae (Hohmann & Meneguim, 1993). Espécies de Trichogramma têm sido os agentes de controle biológico mais estudados e utilizados para controle de insetos-praga no mundo, principalmente aqueles pertencentes a ordem Lepidoptera que inclui as borboletas e as mariposas. Os tricogramatídeos são parasitóides de ovos, pertencem a família Hymenoptera (que inclui as abelhas, vespas e formigas) e medem menos de 1 mm de comprimento. A importância desses parasitóides pode ser avaliada pela área em que o organismo têm sido liberado. Muitos milhões de hectares têm sido tratados em mais de 20 países, principalmente na antiga União Soviética e China, para o controle de dezenas de pragas agrícolas e florestais (Hassan, 1988).

Os níveis de parasitismo verificados em ovos da broca do abacate no norte do estado do Paraná em geral têm sido baixos (< 10%), mas em avaliações realizadas em algumas localidades estes níveis de parasitismo foram superiores a 60%. Duas espécies desses parasitóides foram identificadas: Trichogramma pretiosum Riley e Trichogrammatoidea annulata De Santis.

Apesar do potencial que esses inimigos naturais têm demonstrado em programas de controle de diversas pragas agrícolas em diferentes culturas, há necessidade de se conduzirem estudos básicos (em andamento no IAPAR) para se conhecer melhor a bioecologia da praga e dos inimigos naturais, assim como a relação custo benefício do método de controle, para que se possa por em prática sua utilização dentro do sistema de manejo da broca do abacate.

Celso Luiz Hohmann e Ana Maria Meneguim

Iapar

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