Cebola: Um milímetro de puro problema

O tripes (Thrips tabaci L) é a principal praga da cebola, chegando a causar perdas de até 50% na produção. Veja dicas para minimizar os prejuízos.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Principal praga nas principais regiões produtoras de cebola no mundo. No Brasil é encontrada a espécie

L. Em outros países há a descrição de outras espécies, como por exemplo

. Em geral ocorre durante tempo quente e seco. Ataques intensos de Tripes podem causar perdas de até 50% na produção.

Sintomas da praga

Os insetos alimentam-se da seiva da planta aparecendo, como conseqüência, manchas esbranquiçadas, sendo típico o aspecto prateado das folhas. Os adultos do Tripes da cebola medem cerca de 1mm de comprimento por 2mm de envergadura e têm coloração amarelo-claro a marrom, vivendo em colônias nas bainhas. Tripes são insetos polífagos, muito pequenos, com coloração do amarelo ao marrom-escuro. Caracteriza-se pela presença de poucos machos e as fêmeas podem reproduzir sem cruzamento. O ciclo de vida do inseto varia muito dependendo da temperatura. Na temperatura de 25oC, o ciclo é de 10 dias, mas a 12oC este ciclo é de 57 dias. Uma das principais características que tornam difícil o controle é a localização do inseto na planta, em geral entre as bainhas das folhas.

Existe uma relação negativa entre número de tripes e produtividade. O controle desta praga é importante para uma maior produtividade. Estudos realizados com este inseto (Kendall & Capinera, 1987) demonstram que o momento mais crítico para infestação do Tripes é no estágio da bulbificação, com 2-3% de redução na produção por cada 10 insetos encontrados no campo. Pesquisas desenvolvidas recentemente na UNESP-campus Jaboticabal pelo professor Odair A. Fernandez indicam que o número de 2 insetos por folha de cebola não apresenta dano para esta cultura.

Foi também observado que em culturas aonde se apresenta um bom controle de doenças, através de pulverizações preventivas periódicas, um nível de infestação de até 6 insetos por folha foi tolerável pela cultura sem prejuízo à produção. De qualquer forma, o número mínimo de insetos para início das pulverizações com inseticidas ainda é muito discutível, pois também está relacionado à variedade usada, ao ambiente, à temperatura do solo, fertilidade, e umidade relativa.

Chuvas influenciam na população desse inseto. Peres Domingues & Bossa Junior (1987) relatam a diminuição na população desse inseto após as precipitações. Isto é devido principalmente à arquitetura da planta, que propicia a morte do inseto por afogamento.

Controle do Tripes

O controle desta praga é importante não só pelos prejuízos diretos causados por esse inseto, mas também como pelos indiretos. Vários estudos mostram um aumento da doença mancha púrpura, Alternaria porri, quando do ataque intenso deste inseto. A injúria provocada pelo Tripes serve como porta de entrada para esta doença assim como para outras doenças foliares.

Existe uma variação significativa no número de insetos em diferentes variedades, indicando uma variabilidade no germoplasma da cebola. A não-preferência do inseto por algumas plantas e tolerância ao inseto, parece estar relacionada à resistência a esta praga.

Mecanismos de resistência

Há vários mecanismos de resistência em diferentes variedades de cebola. Em algumas variedades o formato da folha mais arredondado dificulta o aparecimento do inseto, pois o formato mais achatado facilita seu alojamento entre as folhas.

A coloração da folha também influencia o aparecimento do tripes. Cultivares com coloração clara das folhas demonstraram menor incidência dessa praga, o que pode estar relacionado à temperatura da folha. Peres Domingues & Boiça Junior (1987) demonstraram em ensaio com diferentes cultivares nacionais, que a cultivar Texas Grano, com folhas mais claras, mostrou ser a menos preferida pela praga e com maior produtividade. Em geral, variedades que apresentam coloração das folhas mais claras possuem menor cerosidade foliar. Por sua vez, Hamilton (1997) descreve que em ensaio no sul do estado do Texas, Estados Unidos, comparando uma variedade com folhas mais escuras (IPA-3) e outra com folhas mais claras (TG 1015Y), a primeira mostrou maior resistência a esta praga, o que pode estar relacionado a outros componentes.

A composição química da planta pode atuar como um mecanismo de resistência. Algumas substâncias presentes na planta repelem o inseto; outras, por sua vez, podem atrai-lo. Pesquisas demonstram que a nutrição da cebola também pode afetar a incidência do inseto. Plantas de cebola adubadas com alta dosagem de enxofre tiveram significativamente menor ataque do inseto tripes do que plantas adubadas com menores dosagens desse elemento. Pode ocorrer que plantas deficientes em enxofre demonstraram menor vigor e, portanto, maior suscetibilidade ao inseto; ou mesmo a influência do maior teor de enxofre nas folhas e bulbos influenciou na repelência ao inseto (Hamilton, 1997).

O controle químico pode ser realizado com pulverizações de inseticidas conforme recomendação da tabela em anexo. Recomenda-se o uso do bico tipo leque com jatos dirigidos para as bainhas das folhas. Alguns produtores, no Brasil, têm como hábito adicionar açúcar ao inseticida, na proporção de 0,5 a 1% da calda. Esta prática vem de longo tempo. Jones (1944) relata o uso do açúcar no controle desta praga.

Marcos David Ferreira

SVS

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