Colheita e preparo do solo para cultura do arroz irrigado

Práticas são valiosas para os produtores que procuram sempre maximizar a lucratividade, sem exigir investimentos extras

13.04.2020 | 20:59 (UTC -3)

A definição dos circuitos de colheita e o preparo econômico do solo para a cultura do arroz irrigado são práticas valiosas para os produtores que procuram sempre maximizar a lucratividade, sem exigir investimentos extras.

O estado do Rio Grande do Sul se destaca como maior produtor nacional de arroz irrigado, sendo responsável por mais de 61% do total produzido no Brasil, com uma área de 1,1 milhão de hectares cultivados. A região da fronteira oeste destaca-se por ser a maior região produtora do estado, responsável por 333.680ha (Sosbai, 2014).

A cultura do arroz irrigado, quando cultivado em superfície com desnível, exige um grande número de operações desde o preparo do solo até a colheita. O preparo do solo geralmente é um trabalho minucioso, que requer a operação de vários implementos visando deixar a superfície do solo plana para realizar um bom nivelamento, sendo o passo crucial para obter uniformidade na lâmina de irrigação.

Para isso, são realizadas as operações de preparo primário, utilizando-se principalmente grades pesadas para o revolvimento das ondulações deixadas pelo cultivo anterior, como taipas e rastros do tráfego de colhedoras e tratores. Posterior a este preparo, realiza-se o preparo secundário, o qual consiste na utilização de grades niveladoras mais leves, cuja função é realizar o nivelamento parcial do solo, destorroando as leivas deixadas pelas grades pesadas. Estas gradagens deixam o solo mais solto para a operação das plainas, que objetivam a correção do microrrelevo do solo a partir de suas lâminas, que são carregadas de solo nas ondulações e descarregadas em depressões, proporcionando um relevo plano para realizar o nivelamento.

A marcação das curvas de nível para construção das taipas pode ser realizada com aparelhos de laser onde um emissor é instalado em uma base fixa e nivelada, de onde são emitidos sinais para um receptor instalado em uma régua graduada no trator. Fica a cargo do operador guiar o trator demarcando as curvas de nível para posterior entaipamento. Há, também, a possibilidade de realizar o nivelamento com a utilização de equipamentos de posicionamento global (GPS) e piloto automático, onde inicialmente é percorrida a área que será nivelada com um trator que possua o sistema, levantando dados de latitude, longitude e altitude ponto a ponto para posterior processamento dos dados em softwares específicos, reencaminhando os dados para o GPS do trator e, então, realizam-se a demarcação das curvas de nível e o entaipamento através do guiamento automático do trator (Bisognin et al, 2014).

PREPARO DIFÍCIL

Entretanto, diversas dificuldades são encontradas para colocar em prática todas estas operações, desde o planejamento da época para realização do preparo do solo, intempéries climáticas, integração lavoura/pecuária, altos custos operacionais, além da falta de mão de obra qualificada para operacionalização do sistema, que ultimamente tem sido um dos grandes problemas enfrentados pelos produtores rurais. Nesse sentido, produzir sustentavelmente vem sendo um desafio para os produtores, onde diferentes técnicas de cultivo e operação do maquinário agrícola podem ser adotadas de forma a reduzir os custos de produção, possibilitando a operacionalização da lavoura arrozeira. Uma das técnicas que podem ser aplicadas facilmente em qualquer propriedade rural, com potencial para reduzir os custos operacionais e tempo de preparo do solo, é a escolha do circuito de tráfego e o local de descarga das colhedoras.

CIRCUITOS DE COLHEITA

Normalmente, os circuitos de colheita adotados pelos produtores são os “circulares de fora para dentro” (contínuos), onde a colhedora percorre todo o perímetro da área a ser colhida até chegar ao centro do talhão, terminando a operação. Este método possui como vantagem a maior eficiência operacional da colhedora, por realizar poucas manobras de cabeceira, perdendo menos tempo, onde muitas vezes as descargas dos grãos são realizadas com a colhedora em operação.

Entretanto, este tipo de circuito induz os operadoresdos tratores que tracionam os tanques graneleiros a permanecerem “seguindo” as colhedoras sem saber o momento exato que estas irão realizar a descarga de grãos. Tendo como desvantagem, o desgaste dos equipamentos, maior consumo de combustível, além de formar enormes e vários rastros dentro dos talhões, provocados pelos rodados do conjunto, onde muitas vezes são no sentido declive/aclive do terreno, formando um canal de fluxo preferencial para o escoamento da água pluvial favorecendo a formação de erosões no solo.

Estes rastros, aliados a erosões do solo ocasionadas pelo escoamento de água, tornam a área muito mais difícil de ser preparada para o cultivo sucessor, necessitando muitas vezes a realização do aterro das erosões, buscando solo em uma área de empréstimo, aumentando consequentemente a mão de obra, o número de operações e o custo operacional.

Nesse contexto, uma alternativa é a utilização do circuito “vai e vem” (alternado) e o planejamento do momento das descargas dos grãos das colhedoras. Neste sistema, é possível determinar um ponto fixo para descarga dos grãos, sendo este realizado sempre nas extremidades dos talhões, próximo a estradas, beiras de cercas ou canais de irrigação, eliminando os rastros ocasionados pelos tratores no meio do talhão, reduzindo assim as desvantagens citadas anteriormente.

Para realizar este procedimento é necessário conhecer qual o percurso que a colhedora pode se deslocar para preencher o seu reservatório de grãos. Vale lembrar que a distância percorrida pela colhedora para completar a capacidade do reservatório é inversamente proporcional à produtividade da cultura e ao aproveitamento da largura de corte da plataforma, podendo sofrer variações ao longo do talhão. De posse destas variáveis, aliam-se ferramentas de mapeamento simples, como o software Google Earth para mensurar os possíveis circuitos de colheita.

Em talhões razoavelmente grandes, é possível realizar a descarga de grãos nas duas extremidades. Em talhões com dimensões reduzidas, é possível que a colhedora se desloque 50% do caminho no sentido de ida e 50% no caminho de volta, preenchendo seu reservatório no mesmo local de partida.

Esta técnica possui como desvantagem uma redução na capacidade operacional da colheita por tornar-se obrigatória a descarga com a colhedora estática, porém, traz como benefícios a redução nos danos sobre o solo.

Se a colheita for realizada com o solo pouco úmido a seco, o que pode ser obtido suprimindo a irrigação quando o arroz atinge o ponto de maturação fisiológica, o tráfego das colhedoras ocasiona pouco ou nenhum dano sobre as taipas, podendo estas serem reutilizadas no próximo cultivo sem que haja a necessidade dos preparos primários e secundários do solo. Neste caso, necessita-se apenas de retoque das taipas em alguns pontos com a utilização de uma entaipadora. Após isto, realiza-se a dessecação da área para eliminar a cobertura vegetal e pode-se realizar a semeadura direta sobre a palha. Neste sistema, as principais vantagens são acréscimo de matéria orgânica, redução da oscilação térmica, ciclagem de nutrientes, melhorias na estrutura, maior infiltração e armazenamento de água no solo, o que facilita a germinação das sementes mesmo que não ocorram precipitações ou irrigações após a semeadura, além de não revolver o banco de sementes de plantas daninhas minimizando o problema do arroz vermelho.

Se por fatores climáticos ou de manejo da irrigação a área estiver alagada durante o processo de colheita, as colhedoras realizaram um maior dano sobre as taipas, entretanto, serão muito menores que o dano causado pelo tráfego dos tratores. Deste modo, no momento do preparo do solo do cultivo sucessor, será necessário realizar o entaipamento total da área, porém, é possível adotar o sistema de cultivo mínimo, onde é realizado, no caso do arroz irrigado, apenas uma gradagem leve e o entaipamento, utilizando o mesmo nível das taipas do cultivo anterior.

PEQUENOS DETALHES SEM CUSTO EXTRA

Levando em consideração os altos custos de produção da lavoura orizícola, observa-se que existem diversas técnicas de preparo do solo, manejo da irrigação e planejamento da colheita que podem ser adotadas por qualquer produtor sem o desembolso de recursos financeiros, resultando em maior lucratividade da atividade. Alguns produtores não levam em consideração pequenos detalhes por vícios culturais ou por não possuírem ciência dos danos que são passíveis de serem ocasionados no solo pelo mau manejo da mecanização.  

O planejamento do traçado da colheita deve ser pensado no preparo do solo.
O planejamento do traçado da colheita deve ser pensado no preparo do solo.
Imagem de percurso feito pela colhedora: circuito circular de fora para dentro sem planejamento de local de descarga.
Imagem de percurso feito pela colhedora: circuito circular de fora para dentro sem planejamento de local de descarga.
Imagem de percurso feito pela colhedora: circuito vai e vem com a concentração dos rastros dos graneleiros nas laterais.
Imagem de percurso feito pela colhedora: circuito vai e vem com a concentração dos rastros dos graneleiros nas laterais.


Bruno Pilecco Bisognin, Tiago Gonçalves Lopes, Bruna Flores Batistella, Vilnei de Oliveira Dias, Lamap/Unipampa Alegrete


Artigo publicado na edição 151 da Cultivar Máquinas. 

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