Combate à morte súbita

O uso de porta-enxertos tolerantes surge como alternativa para enfrentar a doença, causada por agente infeccioso transmissível. Levantamento do Fundecitrus aponta que mais de um milhão de árvores já foram atacadas no sul

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A Morte Súbita dos Citros é uma doença que já está afetando mais de 1 milhão de laranjeiras e tangerineiras enxertadas sobre o limoeiro ‘Cravo’ no sul do Triângulo Mineiro e norte do Estado de São Paulo. Até o momento, não é possível prever se a doença irá se disseminar por todo o parque citrícola e em qual velocidade. Entretanto, por sua capacidade de definhar e matar as plantas sobre limoeiro ‘Cravo’, que representam 85% das 200 milhões de árvores do Estado de São Paulo, e da sua velocidade de progresso e disseminação observada nos talhões doentes, a MSC representa um grande risco potencial e, portanto, tem causado grande preocupação ao setor citrícola. Além dos prejuízos causados pela redução de produção e morte das plantas afetadas, o controle da doença provavelmente acarretará maiores custos e adaptações no sistema de manejo de pomares subenxertados ou com outros porta-enxertos, cuja irrigação será muitas vezes necessária.

Como até hoje só foram identificados sintomas em plantas enxertadas sobre limoeiro ‘Cravo’ e sabe-se que pelo menos quatro porta-enxertos são tolerantes à doença (tangerineiras ‘Cleópatra’ e ‘Sunki’, citrumelo ‘Swingle’ e Poncirus trifoliata), porque há muitas árvores sobre estes porta-enxertos nas regiões contaminadas e nenhuma apresenta sintomas, deve-se pensar em formar os novos pomares sobre diferentes porta-enxertos, sempre respeitando as suas limitações. A escolha da variedade de porta-enxerto deve ser baseada na localização da propriedade, tipo de solo, capacidade de irrigação, incompatibilidade com variedade de copa em que será realizada a enxertia, ocorrência de outras doenças como gomose e declínio, e disponibilidade do porta-enxerto.

No caso de pomares já formados, cujo porta-enxerto seja o limoeiro ‘Cravo’, uma das formas de se evitar e solucionar os problemas referentes à doença é a substituição desse porta-enxerto por outro tolerante. Esta substituição se faz por meio da subenxertia de porta-enxertos no tronco da planta enxertada sobre o limoeiro ‘Cravo’. O método consiste no plantio do porta-enxerto tolerante à MSC ao lado do existente e a enxertia no tronco da variedade copa, através da técnica de “T” invertido ou janela fechada (encostia), sendo a primeira mais recomendada devido à sua melhor eficiência e facilidade de pegamento.

A subenxertia é recomendada tanto em pomares com a incidência da doença como naqueles em que a mesma ainda não foi constatada. A viabilidade técnica e eficiência foram comprovadas como sendo de praticabilidade agronômica e com resultados promissores na redução do avanço da doença na planta e nos pomares.

Apesar da observação da viabilidade da subenxertia em pomares com incidência da doença, naquelas plantas com sintomas severos da MSC, a eficiência do método é questionável, sendo, portanto, pouco recomendável em pomares com um número muito alto de plantas severamente atacadas, principalmente nas variedades Valência e Natal, onde o avanço da doença é muito rápido. Os melhores resultados têm sido observados em pomares com até 10 anos de idade, contudo a subenxertia pode ser executada em pomares com idade superior a esta, desde que sejam produtivos, com bom estande de plantas e pouco afetados por outras doenças. Em plantas com até 2 a 3 anos de idade pode ser utilizado um cavalinho e, em laranjeiras com idades superiores, devem ser utilizados pelo menos dois porta-enxertos. Contudo, nas idades superiores a 8 a 10 anos, o ideal é a utilização de 3 a 4 porta-enxertos subenxertados por árvore. A idade ideal do porta-enxerto a ser usado é de 5 a 8 meses, dependendo da variedade, com altura aproximada de 45 cm e com tecido maduro (lenhoso) na altura da enxertia.

Caso não seja possível a subenxertia de todos os talhões da propriedade, alguns aspectos podem ser levados em consideração para se dar preferência para subenxertia: a) ocorrência da doença; b) nível de incidência da doença; c) idade do pomar; d) variedade de copa ou estado produtivo da planta; e) disponibilidade de irrigação.

a) Proceder a limpeza da área sob a copa da planta para o plantio do porta-enxerto, que deve ser realizado a 10 cm do tronco da laranjeira, preferencialmente na direção da linha de plantio;

b) No ato do plantio, adicionar na cova 50 g de adubo fosfatado para cada porta-enxerto;

c) Fazer no tronco da planta (copa) um corte em “T” invertido de 5 a 10 cm de altura, 5 a 20 cm acima da linha de enxertia. Evitar a área côncava do tronco da laranjeira, pois dificulta a perfeita vedação da enxertia. O local deve ser escolhido de modo que o porta-enxerto fique com uma inclinação de até 10o;

d) Cortar a ponta do cavalinho de modo que encaixe perfeitamente no local de enxertia e, na parte que permanecerá em contato com o tronco da planta retirar a casca e na ponta realizar um corte em bisel de aproximadamente 2 cm;

e) Levantar a casca do tronco e introduzir e acomodar o porta-enxerto sob a casca de modo a ficar perfeitamente em contato com o lenho da planta. Durante este procedimento, recomenda-se não tocar com os dedos e mão a parte da casca que irá ter contato com o tronco da planta e, durante todo o processo de enxertia, o canivete deve estar limpo e não ter contato com o solo para evitar ataques de fungos;

f) No caso da utilização de dois porta-enxertos, proceder a mesma metodologia para o segundo cavalinho e realizar a proteção com fita plástica de 80 mm de espessura, para evitar a entrada de água e, com isso, a proliferação de fungos. Pode-se amarrar, com corda de sisal, os cavalinhos nas plantas em que se utilizou dois ou mais porta-enxertos. Em subenxertia em “T” invertido não é necessário o amarrio. Recomenda-se proceder a proteção da enxertia de baixo para cima para que seja dificultada a entrada de água;

g) Não é recomendada a aplicação de fungicida no local de enxertia antes do amarrio do plástico, pois haverá necrose dos tecidos da planta e escurecimento do local de enxertia;

h) Fazer uma coroa sob a copa da planta para armazenar água durante a irrigação. Deve-se ter o cuidado de não afetar o porta-enxerto;

i) Para melhorar a eficiência de pegamento, pode ser realizar o anelamento do tronco da planta abaixo do ponto de enxertia, utilizando canivete ou sangrador de seringueira. O anelamento deve ser realizado 4 cm abaixo da enxertia, e deve ter de 5 a 10 cm de comprimento, dependendo do diâmetro do tronco, e com uma largura de 0,5 cm, podendo ser realizado tanto na copa como no limoeiro Cravo. Deve-se evitar que os anelamentos em casos da utilização de dois ou mais cavalinhos se encontrem, de modo que toda a periferia do tronco seja anelada;

j) Deve-se desinfestar o canivete utilizado na operação com solução de hipoclorito entre uma planta e outra;

k) Na aplicação de herbicida, recomenda-se o fechamento do bico da ponta da barra (TK) e evitar o contato da mesma com os porta-enxertos;

l) O plástico pode ser retirado de 15 a 20 dias depois de feita a subenxertia em épocas chuvosas e de 30 a 40 dias em épocas secas. Entretanto, recomenda-se a subenxertia de setembro a abril/maio. No período das secas, por a casca estar mais fortemente aderida ao tronco, fica mais difícil executar a enxertia e há diminuição da eficiência de pegamento.

Nos casos em que todas as recomendações para a subenxertia de “T” invertido foram cumpridas, a eficiência de pegamento foi de aproximadamente 98%. O rendimento médio para o conjunto de operações (abertura da cova, adubação, plantio do cavalinho, enxertia, coroamento da planta e irrigação) que se tem conseguido é de 200 cavalinhos subenxertados/homem/dia. Este rendimento pode variar de acordo com a idade da planta, altura da saia da planta, tipo e condição hídrica do solo, prática dos operadores e etc.

Uma medida que pode ser adotada, não para eliminar a MSC das plantas atacadas, mas prover uma sobrevida e melhorar a eficiência da subenxertia é a poda dos ramos das plantas afetadas. Com esse procedimento, tem-se um reequilíbrio entre copa e sistema radicular e, conseqüentemente, um menor efeito da doença sobre as plantas, ocorrendo num primeiro momento até a remissão dos sintomas. Com a poda, pelo fato de diminuir a possibilidade de morte das plantas, pode-se ter um melhor efeito da subenxertia e, em alguns casos, pode tornar-se primordial para o sucesso da metodologia, principalmente nas variedades tardias.

Pesquisadores do Fundecitrus comprovaram, experimentalmente, que a morte súbita dos citros (MSC) é uma doença transmissível e, portanto, causada por agente infeccioso. Um experimento iniciado em março do ano passado no município mineiro de Comendador Gomes, onde a doença foi detectada pela primeira vez, comprovou o surgimento dos sintomas da doença em plantas sadias, depois de elas terem recebido enxertia de borbulhas retiradas de plantas infectadas.

Essa comprovação significa que a MSC pode ser transmitida por mudas contaminadas e produzidas sem os cuidados que a Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo exige. Essa é mais uma evidência em favor da hipótese de a morte súbita ser causada por uma mutante do vírus da tristeza dos citros, doença que quase dizimou a citricultura paulista na década de 40.

O experimento consistiu em enxertar, em mudas das variedades ‘Natal’ e ‘Pêra’ sobre porta-enxerto de limão ‘Cravo’, borbulhas obtidas de três fontes:

a) de plantas sadias da Estação Experimental de Citricultura de Bebedouro (SP), afastada a quilômetros da área afetada;

b) de plantas de copa ‘Natal’ sobre porta-enxerto ‘Cleópatra’ da região onde surgiu a MSC, que não mostravam sintomas porque a combinação ‘Natal’/‘Cleópatra’ é tolerante à doença;

c) de plantas de copa ‘Natal’ em porta-enxerto de ‘Cravo’ da região afetada e com sintomas da doença.

No início de maio, foram escolhidas quatro plantas que haviam recebido as borbulhas e mostravam sintomas externos da MSC. Três das plantas de ‘Pêra’ sobre ‘Cravo’, que haviam recebido borbulhas de ‘Natal’ sobre ‘Cleópatra’, já tinham também os sintomas internos, ou seja, o amarelecimento dos tecido internos da casca do porta-enxerto. Todas tinham recebido borbulhas de plantas da região afetada. Com isso, além de se comprovar a natureza infecciosa da doença, comprovou-se, também, que o período de incubação é de cerca de 13 meses e que mudas sobre porta-enxertos tolerantes, apesar de não apresentarem sintomas, podem estar contaminadas e, portanto, espalhar a doença.

e

Fundecitrus

Compartilhar

Mosaic Biosciences Março 2024