Como adotar novas tecnologias

Ter acesso a informações, conhecer empresários nas mesmas condições, entender o mercado e participar de atualizações técnicas e econômicas são fundamentais para se ganhar tempo, economiz

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Nos últimos dois anos, a pecuária brasileira chegou a passar 4,9 milhões de hectares para a agricultura, quantidade de terra que foi arrendada para terceiros ou lavrada pelos próprios pecuaristas. Mesmo assim, não houve retração do rebanho nacional, mas sim aumento. Estima-se que em 2003 o rebanho brasileiro tenha aumentado 8 milhões de cabeças, um crescimento de 4,6% em relação ao rebanho estimado para 2002.

Sendo assim, pode-se esperar que a pecuária tenha sofrido um aporte tecnológico nos últimos anos. Em grande parte a integração agricultura e pecuária pode ser responsabilizada pelo aumento esperado nas lotações das pastagens brasileiras.

Pois bem, os resultados econômicos de 2003 confirmaram a viabilidade e inclusive a tendência de tecnificação da pecuária de corte. Partindo do pressuposto que os empresários sabem da necessidade de tecnificação, a pergunta que fica é: como planejar a evolução tecnológica?

A demanda de recursos aumenta proporcionalmente ao aumento de tecnologia na empresa. Isso se deve ao fato de que a empresa precisará investir em animais para reprodução, ou custear a compra de animais de reposição à medida que ganha em capacidade produtiva. As quantidades financeiras envolvidas são proporcionais ao aumento de lotação. Por exemplo, se o produtor triplicar o seu rebanho a demanda tende a triplicar também. Sendo assim, considerando que não haja investimento externo, a tecnificação da empresa deve ser planejada de maneira viável a atingir as metas esperadas.

É muito comum produtores que realizam investimentos com base em recomendações genéricas, artigos, conversas informais, ou até porque algum outro produtor conhecido acabou investindo.

Na verdade todos os métodos supracitados são importantes para se conhecer e criar o interesse por um determinado investimento. No entanto, a decisão final deve passar por um processo detalhado que não é necessariamente complexo. Apenas exige planejamento e levantamento de informações. Portanto, todo investimento tem por objetivo principal gerar resultados econômicos. Investir sem planejamento com base em informações não avaliadas pode ser considerado um investimento “intuitivo” que poderá ou não gerar resultado econômico na empresa.

Mesmo que em determinada empresa o mesmo investimento tenha gerado resultados econômicos, é possível que os bons resultados não se concretizem em outras. Cada empresa é única, com suas particularidades e, principalmente, suas prioridades. Seguir alguns critérios básicos no momento de decidir por um investimento é indispensável para se garantir uma boa relação benefício/custo.

A aquisição de um bem envolve o investimento ou a renovação de uma tecnologia na empresa. Qualquer bem: trator, materiais para construção, cercas, equipamentos, formação de pastagens, animais de reprodução, etc. Todos envolvem uma técnica de produção, e é em cima desta técnica que a empresa avaliará a viabilidade deste bem. Pode-se seguir os seguintes passos:

a) Compreensão do bem a ser investido

Implica em detalhar os objetivos e a forma de funcionamento do bem que se deseja investir. É essencial que o produtor busque entender o que envolve a aquisição daquele bem dentro de sua empresa.

b) Análise da viabilidade prática operacional

A partir da compra dentro da empresa o bem adquirido poderá ser satisfatoriamente implementado no processo de produção? Em outras palavras, é preciso avaliar se as premissas básicas de funcionamento do bem serão atendidas dentro da rotina da empresa.

A análise também deverá envolver a disponibilidade e capacidade operacional na empresa. É possível implementar tal tecnologia no atual contexto de produção da empresa? Se não, quais são as mudanças necessárias para que finalmente a tecnologia possa ser adotada na empresa?

c) Análise econômica

O objetivo da análise econômica é justamente confirmar a viabilidade de implementar a técnica, ou investimento na empresa. Utiliza-se normalmente duas técnicas consagradas para se avaliar a implantação de um novo projeto ou tecnologia dentro da empresa: o valor presente líquido e taxa interna de retorno e a relação benefício/custo.

Valor presente líquido

O valor presente líquido (VPL) é definido pela diferença entre a soma dos resultados de caixa (receitas – custos totais) e o investimento líquido necessário para dar andamento ao projeto.

Taxa interna de retorno

A taxa interna de retorno é o valor da remuneração do capital (r na fórmula do VPL) que zera o valor presente líquido. Portanto a taxa interna de retorno (TIR) indicará a taxa de pagamento de retorno anual do projeto. Quanto que o projeto se paga ao ano.

Considerando a fórmula do VPL, se um projeto ou investimento levar 5 anos para ser amortizado, a TIR é 20% ao ano. Se levar 10 anos, a TIR é 10% ano. Aceita-se o projeto se a taxa interna de retorno for maior que o custo do capital.

d) Análise de prioridade econômica

Mesmo que após todas as avaliações, ainda seja constatado que o investimento, ou projeto técnico, traga resultados à empresa, ainda faltará uma outra análise inicial. Em que nível de prioridade econômica está o investimento.

Numa empresa comum o recurso para investimento tende a ser limitado. Sendo assim, é preciso avaliar a qualidade de retorno deste investimento. Quanto maior for o retorno esperado do investimento melhor para a empresa.

É nesse ponto que geralmente se contrapõem técnicos, administradores e produtores. Muitas vezes, o ideal técnico não é o ideal econômico para aquele determinado momento da vida da empresa.

O produtor tem que trabalhar com o ideal econômico, caso contrário, sua empresa entra em colapso, apesar de tecnicamente perfeita. É preciso avaliar, calcular e planejar os investimentos, preferindo inicialmente, os ativos que retornarão os investimento o mais rápido possível.

A dificuldade nesta questão é prever os resultados num mercado de insumos e produtos que geralmente são instáveis. É a impossibilidade de prever preços que geralmente dificulta a eficiência dessas análises.

Considerando o montante de recursos envolvidos, é de se imaginar que um processo de intensificação leve alguns anos para ser consolidado. Na verdade, com a rapidez com que se gera tecnologia no mundo de hoje, o processo de intensificação é perpétuo, o que exigirá constantes revisões de planos e objetivos por parte dos empresários.

O processo é longo, exige recursos de alto valor e erros podem significar a perda de investimentos anteriores. Trata-se de decisões importantes, o que exige o máximo de cuidados.

Por isso, ter acesso a informações, resumos de bancos de dados de outras empresas, conhecer empresários nas mesmas condições, entender o mercado e participar de atualizações técnicas e econômicas, são atividades fundamentais para se ganhar tempo, economizar recursos e potencializar os resultados na empresa pecuária.

Assim como habilidade administrativa e competência produtiva, a aptidão comercial é um dos fatores de sucesso para os empresários da pecuária de corte. Uma ótima forma de treinar essa aptidão é buscando informações e analisando-as, simulando resultados e esclarecendo as dúvidas com quem conhece ou já está alguns passos à frente.

Planejar, estabelecer objetivos e metas, é fundamental para o sucesso do empresário no longo prazo. Administrar e gerenciar as rotinas operacionais são fundamentais no curto prazo.

O empresário precisa dosar seu tempo, sua atenção e organização para que seja possível desempenhar seu papel de maneira adequada. Grosso modo, esses são os conceitos de níveis estratégicos e gerenciais da atividade empresarial.

Thiago Lopes Biscegli

PlanGesPec – Consultores Associados

Djalma de Freitas

Doutorando Unesp/Jaboticabal

Rogério Marchiori Coan

Doutorando Unesp/Jaboticabal

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