Como evitar perdas com colhedoras de trigo

Velocidade de deslocamento e inclinação do terreno são fatores que devem ser observados para evitar perdas na operação

24.07.2020 | 20:59 (UTC -3)

Avaliação de perdas na colheita mecanizada de trigo mostra que a velocidade de deslocamento da colhedora e a inclinação do terreno são dois fatores que devem ser observados para evitar perdas na operação.

O cultivo do trigo destaca-se como importante cereal de inverno e ocupa grandes extensões de terras, principalmente no Sul do Brasil. Durante a colheita, muitos aspectos fazem com que ocorra a perda de grãos, refletindo na produtividade efetiva das lavouras. Alguns fatores de perdas têm seus efeitos minimizados através da regulagem correta da própria colhedora. Por outro lado, existem situações, como inclinação da máquina, que acentuam as perdas, principalmente em sistemas de limpeza e separação sem nivelamento automático.

As máquinas utilizadas na colheita possuem mecanismos complexos que precisam ser bem compreendidos para a correta regulagem. Essa operação é considerada uma das etapas de maior importância dentro do sistema de produção, devido à sua relação direta com o rendimento e a qualidade final dos grãos. Por isso, os sistemas de alimentação, de trilha, de separação e, especialmente, o sistema de limpeza demandam regulagens que, associados à velocidade de trabalho e ao ponto de colheita, estabelecem a eficiência da operação.

Levando-se em conta o uso de colhedoras com sistema de trilha de cilindros de barras (convencionais), Portella (2002) aconselha iniciar a colheita quando o grão de trigo tiver entre 16% e 18% de umidade. É neste ponto que se obtém melhor desempenho da colhedora, pois há menor debulha por ação da plataforma e menor trituração da palha, permitindo, desse modo, melhor eficiência do saca-palhas e das peneiras de limpeza da colhedora. Também destaca que não é conveniente colher quando o grão apresentar mais de 18% de umidade, pois poderá provocar dano mecânico no produto, principalmente por esmagamento, que certamente irá afetar sua qualidade final, bem como o poder germinativo e o peso do hectolitro. Outros estudos apontam que à medida que é diminuída a umidade do grão do trigo, aumenta-se o número de grãos quebrados em sistemas de trilha convencional.

A velocidade de deslocamento é um fator importante a ser estudado, pois reflete diretamente na alimentação da colhedora. Além disso, a inclinação da máquina resulta em sobrecargas na lateral das peneiras (sentido da inclinação). A combinação desses dois fatores aumenta significativamente as perdas a campo, principalmente em áreas onde a colhedora trafega em áreas planas e inclinadas sem alterar a velocidade de deslocamento. Esse problema também é identificado em culturas como a soja e o milho. Quando a colhedora trabalha em áreas com menores inclinações, as perdas encontram-se dentro de parâmetros aceitáveis, já à medida que o terreno apresenta um desnível maior, as perdas aumentam consideravelmente.

Nesse sentido, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal da Fronteira Sul, em Cerro Largo (RS), realizou ensaio com o objetivo de avaliar as perdas de grãos de trigo de uma colhedora submetida a três diferentes velocidades (4km/h, 6km/h e 8km/h) e a três condições de inclinação (0% a 5%, 5% a 10% e 10% a 15%).

A inclinação da colhedora, na menor velocidade não alterou significativamente as perdas.
A inclinação da colhedora, na menor velocidade não alterou significativamente as perdas.

MÁQUINAS UTILIZADAS

O experimento foi realizado no ano agrícola 2013/2014 no município São Martinho, no Rio Grande do Sul. A coleta dos dados foi realizada no momento da colheita do trigo cultivar TBIO Pioneiro 2010 quando os grãos apresentavam umidade de 13%.

No experimento foi utilizada uma colhedora automotriz marca New Holland, modelo 8055, ano de fabricação 1993, equipada com plataforma New Holland Super Flex com largura de corte de 15 pés (450mm). A colhedora trabalhou com as seguintes regulagens: altura de corte 100mm; molinete com 35 rotações por minuto; cilindro a 1.000 rotações por minuto; abertura de côncavo de 10mm e 55% de abertura das peneiras.

Para determinação das perdas decorrentes dos sistemas de corte e dos mecanismos internos (trilha e limpeza) foi utilizada a metodologia proposta por Portella (2002) e por Ferreira et al (2007), em que consideram-se dois metros quadrados de área para coleta dos grãos perdidos numa faixa que abrange a largura da plataforma.

Para verificar a influência da velocidade de deslocamento e da inclinação da colhedora nas perdas de grãos, foram avaliadas as seguintes velocidades de deslocamento na colheita: v1: 4km/h, v2: 6km/h e v3: 8km/h em três condições de inclinação do terreno (0% a 5%, 5% a 10% e 10% a 15%). A velocidade foi mensurada com o auxílio de um monitor de GPS e, para inclinação da colhedora, foi utilizado um clinômetro digital acoplado ao chassi da máquina.

O delineamento experimental utilizado foi blocos inteiramente casualizados com três repetições. Caracterizaram-se as perdas em pré-colheita com cinco avaliações em cada inclinação. Para a análise estatística foi utilizado o software Assistat, versão 7.7, pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade.

QUANTO SE PERDE?

A lavoura, onde foi realizado o ensaio, apresentou produtividade média de 2.220kg/ha. As perdas na pré-colheita foram expressivas, embora a inclinação do terreno não tenha ocasionado diferenças, conforme a Tabela 1. O resultado está de acordo com o esperado, em que a inclinação do terreno não influencia diretamente sobre a perda de grãos no período anterior ao procedimento de colheita. Esse tipo de perda é denominado natural ou pré-colheita.

Os valores das perdas na pré-colheita estão ligados à incidência de ventos que provocam o acamamento e ao retardo na colheita em função da sequência de chuvas. Devido aos fatores climáticos é comum a realização de operações fora das condições ideais de trabalho, uma vez que a umidade dos grãos apresentava-se abaixo de 16% que seria a condição de iniciar a colheita.

Ao avaliar a velocidade de deslocamento da colhedora observaram-se maiores perdas na situação de maior velocidade (8km/h) e na velocidade de 6km/h em condição de maior inclinação de acordo com a Tabela 2. 

As menores perdas foram observadas na menor velocidade e, na velocidade intermediária, até a inclinação de 10%. Os resultados demostram a necessidade de alterar a velocidade de deslocamento da colhedora ao trafegar em inclinação superior a 10% devido à sobrecarga nas laterais das peneiras, o que ocasiona aumento nas perdas de grãos no sistema de limpeza.

A inclinação da colhedora, na menor velocidade, não alterou significativamente as perdas. Dessa forma, é possível realizar a colheita com perdas aceitáveis, em condições de maior inclinação, mesmo com colhedoras sem o nivelamento automático de peneiras desde que a velocidade não ultrapasse os 4km/h.

Ao trafegar com a colhedora a 6km/h destaca-se que, na maior inclinação, houve um aumento significativo nas perdas de grãos. Em velocidades iguais ou superiores a 6km/h é fundamental ficar atento à inclinação da colhedora. Também é importante observar que até 10% de inclinação a colheita apresentou perdas semelhantes à menor velocidade, demonstrando que é possível aumentar a capacidade operacional da colhedora, mantendo os níveis de perdas semelhantes à menor velocidade de deslocamento. No entanto, à medida que a inclinação ultrapassar 10% recomenda-se reduzir a velocidade de deslocamento.

Para situação de maior velocidade as perdas de grãos foram superiores independentemente da inclinação. Perdas semelhantes à condição de maior velocidade foram verificadas na maior inclinação ao trafegar na velocidade de 6km/h.

O fluxo de material na colhedora em lavouras homogêneas, como foi o caso, permite uma boa separação do material após a passagem pelo sistema de trilha. No entanto, Ferreira et al (2007), em seu estudo na cultura da soja concluíram que o fluxo total de material grão e não grão aumentou com o crescimento da velocidade, indicando uma sobrecarga e aumento das perdas nestes sistemas. Tal fator também foi verificado no presente estudo com a cultura do trigo, em que a maior velocidade apresentou as maiores perdas pelo maior fluxo de material.

As menores perdas observadas no ensaio ocorreram na menor velocidade e, na velocidade intermediária, até a inclinação da máquina em 10%.
As menores perdas observadas no ensaio ocorreram na menor velocidade e, na velocidade intermediária, até a inclinação da máquina em 10%.

CONCLUSÕES

Nas condições em que a pesquisa foi desenvolvida, concluiu-se que a colheita de trigo, realizada por colhedoras sem nivelamento automático de peneiras, deve ter deslocamento máximo de 6km/h em lavouras com inclinação de até 10% para manter menores níveis de perdas de grãos. Também é recomendado que para colheita de trigo, em áreas com mais de 10% de inclinação, a velocidade de deslocamento seja inferior a 4km/h. Baseados nos resultados obtidos, recomenda-se também que não deve ser realizada colheita de trigo a 8km/h, independentemente da inclinação do terreno, pois as perdas são significativamente maiores em relação à velocidade de 6km/h.

 

Marcos Antonio Zambillo Palma, Marcos Hensel, Evandro Pedro Schneider, UFFS – Cerro Largo


Artigo publicado na edição 168 da Cultivar MáquinasUFFS – Cerro Largo

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