Como fazer uma boa segunda safra

O cultivo da safrinha pode oferecer boa rentabilidade ao produtor, mas algumas dicas devem ser seguidas para evitar prejuízos.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

O Milho “Safrinha” é o milho de sequeiro cultivado extemporaneamente, de janeiro a abril, após a cultura de verão na região Centro-Sul brasileira. É semeado quase sempre depois da soja e, por ser a produtividade muito baixa e a adubação antieconômica em solo de baixa fertilidade, preferencialmente em terras férteis. As experiências positivas de agricultores no Paraná apontaram a potencialidade desse novo mercado, incentivando que as Empresas de sementes direcionassem híbridos de milho para as condições de outono/inverno. Paraná e São Paulo foram os Estados onde se iniciou a “explosão” da safrinha (figura 1 -

).

Atualmente, dos 12 a 13 milhões de hectares de milho no Brasil, cerca de 2,5 milhões são cultivados na safrinha, o que corresponde a 25% e 20% da área total de milho na região Centro-Sul e no País respectivamente (CONAB, levantamento de dados). Ocorreu redução da área de milho na safra de verão e aumento da safrinha (Tsunechiro, 1998); no Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, o milho safrinha já corresponde a mais de 60% da área total desse cereal (safrinha + verão) (Quadro 1).

O rápido crescimento da safrinha ocorreu principalmente pela busca de alternativas agrícolas para o período de outono-inverno em regiões onde tradicionalmente as terras ficavam em pousio após a cultura da soja (Mato Grosso, Goiás e norte do Estado de São Paulo) e pela substituição parcial do trigo nos Estados do Paraná, Mato Grosso do Sul e de São Paulo - Vale do Paranapanema, em vista da redução dos ganhos econômicos com esta cultura a partir de 1989 (Duarte et al., 1995).

No início da expansão do milho “safrinha”, a produtividade era muito baixa e os investimentos em insumos desprezíveis; “safrinha” era sinônimo de risco e baixa tecnologia. Havia, de um lado, agricultores que estavam ganhando dinheiro com o milho “safrinha” e de outro, poucos técnicos que acreditavam que essa cultura tinha vindo para ficar. Os primeiros trabalhos de pesquisa foram desenvolvidos pelo IAPAR, no Estado do Paraná (Gerage & Bianco, 1990). Na década de noventa o IAC desenvolveu técnicas de cultivo específicas para o milho “safrinha”, as quais proporcionaram aos agricultores da região paulista do Vale do Paranapanema serem os primeiros a obter rendimento médio regional superior a 3.000 kg/ha. Técnicos das empresas públicas de pesquisa (IAC, IAPAR e EMBRAPA) e de extensão (CATI e EMATER), Centro de Desenvolvimento do Médio Vale do Paranapanema (CDVale), cooperativas, universidades e empresas privadas passaram a realizar periodicamente, desde 1993, o Seminário Sobre a Cultura do Milho “Safrinha”, visando à discussão de tecnologias e perspectivas desse tipo de cultura no País.

Portanto, em decorrência do desenvolvimento, divulgação e adoção de técnicas apropriadas, hoje podemos denominar o milho safrinha de milho segunda safra e afirmar que a safrinha não é o termo mais apropriado para caracterizar as culturas de outono/inverno. Os rendimentos médios, porém, ainda são muito baixos (Quadro 1), em decorrência de parte da semeadura ser efetuada em época acentuadamente tardia, reduzindo o potencial produtivo e tornando antieconômico o amplo emprego de insumos modernos .

Embora a produtividade seja menor na safrinha, tem-se maiores preços de venda, por ser a colheita realizada em período de entressafra, e menor custo de produção devido ao baixo uso de insumos (Tsunechiro et al., 1995). O fertilizante é o item mais dispendioso dos fatores da produção nas duas épocas de semeadura (cerca de 1/3 dos custos variáveis) (Quadro 2). No sistema de produção de baixa tecnologia, empregado sobretudo nas semeaduras em época marginal, devido à baixa probabilidade de sucesso da lavoura, o agricultor economiza principalmente em insumos, mas obtém menor lucratividade.

Outro fator que determina o nível dos investimentos é a expectativa de preços na colheita, os quais dependem do volume produzido na safra normal. Como ocorreu aumento de área de milho verão em 2000/2001 e existe previsão de uma excelente safra, a expectativa é que os preços não aumentem tanto na entressafra 2001, ocasião em que o milho safrinha será comercializado.

Devido à redução da disponibilidade de água no solo e das temperaturas do ar no inverno, o sucesso do milho safrinha depende principalmente da época de semeadura. Quanto mais tarde for semeado, menor será o potencial produtivo e maior o risco de perdas por geadas e/ou seca. Assim, o planejamento do milho safrinha começa com a cultura de verão, visando liberar a área o mais cedo possível para a segunda cultura.

As épocas limites recomendadas, preferencialmente para a semeadura encontram-se no quadro 3. Em Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, norte de São Paulo e Mato Grosso do Sul, o principal fator de risco é o déficit hídrico, sendo atenuado nas áreas de altitude em razão das temperaturas amenas proporcionarem menor evapotranspiração. No Paraná, sul de Mato Grosso e sudoeste de São Paulo (Vale do Paranapanema) tem-se elevado risco de geada, principalmente nas áreas acima de 600 m de altitude. Assim, ao contrário do que é preconizado para o milho verão, as baixas altitudes são favoráveis ao cultivo da safrinha nas regiões mais ao sul do País.

Nas duas principais regiões produtoras paulistas, por exemplo, tem ocorrido redução acentuada do potencial de produção com o atraso da semeadura dos experimentos de milho safrinha (Figuras 2 e 3). Porém, no Médio Vale do Paranapanema, região de transição entre inverno úmido e seco, as produtividades são maiores e a semeadura pode ser realizada mais tardiamente do que na região norte/noroeste, com estação seca bem definida.

Não se dispõe de informações em outros Estados, o que não significa que o milho safrinha não possa ser cultivado. Conforme já citado, essa cultura não apresenta ampla dispersão geográfica nos Estados, concentrando-se em regiões onde o microclima e o solo são propícios ao seu desenvolvimento. Em vista dos baixos índices de chuvas desse período, a capacidade de armazenamento de água no solo é fator limitante para o cultivo da safrinha em algumas áreas; de maneira geral, é menor nos solos arenosos e maior nos argilosos. Isso, juntamente com a fertilidade do solo, explica porque a maioria da área de milho safrinha está concentrada em regiões que apresentam solos mais argilosos. A época de semeadura é o principal fator determinante do nível tecnológico da cultura do milho “safrinha”.

Como essa cultura produz pouco quando é semeada tardiamente, não é vantajosa a compra de sementes de alto potencial genético (mais caras) para semear fora da época recomendada, devido ao baixo retorno econômico desse investimento. Deve-se priorizar a aquisição de sementes dos melhores cultivares e o emprego de adubação NPK nas lavouras implantadas dentro da época recomendada.

Nas regiões mais tecnificadas, a semeadura direta na palha, sem preparo do solo, possibilita a antecipação da semeadura do milho “safrinha” em uma a duas semanas. Tem-se utilizado também a dessecação da soja com produtos químicos visando à antecipação de sua colheita, geralmente 7 a 10 dias.

Estima-se que, em média, apenas metade dos agricultores procede à semeadura dentro da época recomendada, mesmo em algumas regiões que adotaram a semeadura na palha. Considerando que o milho “safrinha” é viabilizado com a colheita da soja de ciclo precoce e que as variedades precoces disponíveis no mercado devem ser semeadas preferencialmente em meados do mês de novembro, quando nem sempre têm ocorrido chuvas, é comum atrasar a implantação da soja para fins de novembro até dezembro.

É necessário ficar atento à umidade do solo para antecipar a semeadura da soja (preparo operacional para começar a semeadura o quanto antes) e utilizar sementes de variedades de soja com período juvenil longo, a exemplo da IAC 18, IAC 22 e BR 133. Se as chuvas forem suficientes para umedecer o solo em outubro, o agricultor poderá implantar parte da sua lavoura antecipadamente, não precisando aguardar e correr o risco de não semear toda a soja em novembro.

Independentemente da época de semeadura, têm sido observadas limitações na produtividade decorrentes da monocultura da sucessão soja - milho segunda safra (DeMaria et al., 1999). Onde não for possível antecipar a semeadura do milho deve-se priorizar o emprego de culturas alternativas de outono/inverno, como trigo, triticale, aveia, sorgo e girassol, ou mesmo a adubação verde, visando obter maiores rendimentos das culturas subseqüentes.

Embora exista uma grande diversidade de preparo da área para o cultivo do milho na segunda safra, predomina o emprego do plantio direto permanente ou temporário visando antecipar a implantação do milho “safrinha”. No preparo direto temporário realiza-se a semeadura direta do milho “safrinha” e o preparo convencional para a soja. Nesse caso, no verão tem sido freqüente o preparo com grades devido ao grande volume de palha deixado pelo milho, dificultar o funcionamento dos arados de discos, aivecas e escarificadores. Assim, é comum a mistura parcial de calcário no solo e a existência de camadas compactadas denominadas “pé de grade”, fatores delimitam o desenvolvimento do sistema radicular e tornam a cultura mais suscetível aos períodos de estiagem (DeMaria et al., 1999).

Um dos problemas do sistema de plantio direto do milho safrinha é o emprego da monocultura da sucessão soja/milho safrinha na maioria das lavouras, o que acarreta baixa cobertura do solo. Mesmo sendo semeado após a soja, que fixa simbioticamente o nitrogênio do ar, existem evidências de que está havendo limitação na produtividade do milho devido ao empobrecimento do solo com as exportações contínuas de nutrientes sem a reposição adequada nas adubações.

O milho safrinha, em sucessão à soja, apresenta boa resposta à adubação nitrogenada, que não precisa ser parcelada em cobertura quando a produtividade esperada estiver em torno de 3.000 kg/ha. Isso ocorre porque as chances de lixiviação do N aplicado no plantio são pequenas, em virtude do volume decrescente de chuvas no período da “safrinha” (Cantarella, 1995). Nesse caso, todo o nitrogênio pode ser aplicado na semeadura com a fórmula NPK, evitando as incertezas de haver ou não umidade no solo no momento em que deveria ser feita a cobertura, além de liberar maquinário e mão-de-obra.

A tabela de recomendação de adubação desenvolvida pelo IAC para o milho safrinha (Duarte et al., 1996) indica que em latossolos roxos, com teores de fósforo e potássio médios a altos, podem ser utilizados cerca de 200 kg/ha da fórmula NPK 15-15-15 ou similar. Essa adubação poderá ser complementada ou não com nitrogênio em cobertura, dependendo da evolução das condições climáticas que determinam o potencial de produção.

Ressalte-se que em solos arenosos ou em áreas cultivadas com milho ou outra gramínea no verão, a quantidade de nitrogênio requerida é maior. Nesses casos, não é recomendável dispensar a adubação nitrogenada de cobertura, mesmo quando se empregam fórmulas NPK concentradas em N na semeadura. Havendo condições de umidade no solo a cobertura deve ser feita antes de as plantas atingirem o estádio de 8 folhas, pois existe o risco da ocorrência de seca durante e posteriormente a essa fase.

Foram desenvolvidos experimentos de população de plantas na região do Médio Vale do Paranapanema com cultivares de milho recomendados com densidade de 55.000 plantas por hectare no período do verão (Duarte et al., 1994), verificando-se que os melhores rendimentos foram obtidos entre 33.333 e 44.444 plantas por hectare, com vantagem da população superior quando o potencial produtivo era igual ou maior a 3 toneladas por hectare. Corroborando, Shioga et al. (1999) verificaram, em trabalho recente desenvolvido no Paraná, que apenas nos locais onde a produtividade média foi próxima à da safra normal (em torno de 6.000 kg/ha), os rendimentos dos cultivares continuaram aumentando em populações superiores a 44.444 plantas por hectare. Como a média das melhores lavouras de milho safrinha está entre 3 a 4 toneladas de grãos por hectare e os problemas recentes de pragas estão comprometendo o estabelecimento do estande, sugere-se implantar as lavouras de milho safrinha com população entre 40 e 45 mil plantas por hectare, dependendo das particularidades da propriedade e do cultivar.

Para o milho safrinha, devido ao menor potencial produtivo em relação à safra normal, pode-se utilizar menor população de plantas sem prejuízo no rendimento de grãos (população inicial = 40 a 45 mil plantas/ha). Populações excessivas oneram o custo total do item sementes, podem aumentar o acamamento e quebramento de plantas e não compensam a desuniformidade de semeadura (Duarte et al., 1994). O espaço entre as sementes deve ser uniforme; a produção das plantas de milho juntas não compensam à daquelas que poderiam existir nos espaços vazios, resultando em queda da produção.

Considerando que o milho “safrinha” é semeado em período de baixa freqüência de chuvas e, preferencialmente, na palha, fatores que favorecem o desenvolvimento de algumas pragas de solo, e devido à necessidade do estande ser uniforme, o tratamento de sementes com inseticidas é fundamental para reduzir os riscos de um mal começo da cultura.

Em levantamento da flora infestante realizado pelo Instituto Agronômico (IAC) na cultura do milho “safrinha”, no Estado de São Paulo verificou-se que, aproximadamente, um terço das lavouras apresentavam-se com infestação significativa de plantas daninhas (Duarte & Deuber, 1999). Isso foi explicado pela ineficiência do cultivo mecânico, empregado em algumas lavouras, e por deficiências no controle químico da flora infestante naquela época.

Em 1995, fase inicial de cultivo de milho safrinha no Estado de São Paulo, verificou-se que na região do Vale do Paranapanema, onde essa cultura substituiu o trigo, predominavam as seguintes espécies: soja, leiteiro, trapoeraba, picão-preto e nabiça. No Norte, região mais seca e quente, onde as terras permaneciam ociosas no outono-inverno, predominavam soja, apaga-fogo, caruru, capim-carrapicho e picão-preto (Duarte & Deuber, 1999). Atualmente, pelo emprego generalizado e contínuo da atrazina e suas misturas com óleo vegetal e 2,4-D, que controlam predominantemente espécies de folhas largas, o capim-carrapicho é uma das principais espécies da flora infestante em todo o Estado.

Visando antecipar a implantação do milho “safrinha”, sua semeadura é realizada ao mesmo tempo em que a soja é colhida em área subseqüente tornando escassa a disponibilidade de tratores e mão-de-obra para a aplicação de herbicidas nesse momento. Devido à necessidade de flexibilização da época de aplicação, tem sido priorizado o emprego dos herbicidas pós-emergentes e, quando for necessária a dessecação de plantas daninhas remanescentes da soja, é comum realizá-la imediatamente após a semeadura do milho safrinha.

É possível reduzir a dose dos herbicidas pós-emergentes na safrinha em relação à safra normal, devido ao menor vigor das plantas daninhas nesse período. A menor disponibilidade de água e calor, principalmente nos estádios finais da cultura, faz também com que a reinfestação seja pequena. Estudos sobre adequação de doses de atrazina em milho safrinha demonstraram que nesse período pode-se reduzir a quantidade do produto comercial atrazine mais óleo vegetal (Primóleo) para 1,5 a 2,5 L/ha e que, para a maioria das espécies, a adição de 65 a 130 mL de 2,4-D comercial apresentava efeito sinérgico e não causava fitotoxidade quando aplicado na fase inicial da cultura, exceto quando o híbrido apresenta alta sensibilidade (Deuber, 1997). Atualmente, devido ao grande risco de fitotoxidade, não se recomenda o uso isolado do 2,4-D em doses maiores que as já citadas.

A mistura de óleo com a atrazine é importante, principalmente para o controle de soja e caruru. Em vez do óleo vegetal, pode-se adicionar o óleo mineral (1 L/ha de Assist), que deve ser misturado diretamente na água do tanque do pulverizador.

Nas lavouras de milho safrinha com problema de folhas estreitas pode-se utilizar o nicosulfuron (Sanson) na dose de 0,50 a 0,75 L/ha, que é um excelente herbicida para o controle do capim-carrapicho. Como não controla muito bem a maioria das espécies de folhas largas, especialmente trapoeraba, caruru, apaga-fogo e guaxuma, deve-se empregá-lo em mistura com atrazine (Deuber & Duarte, 1999).

Ao se aplicar nicosulfuron + atrazine para o controle da soja, caruru, leiteiro, picão-preto e carrapicho-de-carneiro não é necessário adicionar 2,4-D, pois o próprio nicosulfuron maximiza o efeito da atrazine. É necessário adicionar 2,4-D (130 mL/ha) ao nicosulfuron + atrazine, apenas para o controle da trapoeraba. A omissão do 2,4-D é relevante quando não for possível realizar a aplicação no milho ainda jovem ou se o cultivar for muito suscetível. O óleo mineral ou vegetal também não precisa ser utilizado quando se aplica nicosulfuron + atrazine, exceto quando predomina caruru (Deuber & Duarte, 1999).

A lagarta-do-cartucho (

), principal praga do milho, está sendo controlada com um número cada vez maior de pulverizações com inseticidas, ocasionando a eliminação indiscriminada de inimigos naturais e muito possivelmente o aparecimento de populações resistentes. Há necessidade de utilizar métodos de amostragens de pragas para a cultura do milho safrinha para possibilitar o manejo integrado de pragas (Cruz, 1999).

A semeadura extemporânea do milho, por prolongar a oferta de alimento para as pragas, pode-se transformar em um fator multiplicador, bem como favorecer o surgimento de outras pragas consideradas exóticas ou mesmo mudar o “status” de uma praga secundária para primária (Gerage & Bianco, 1990). Os autores relataram a ocorrência de larvas-de-vaquinha (

), causando graves problemas de acamamento de plantas em lavouras no Estado do Paraná.

Houve, recentemente, grande aumento do complexo de pragas subterrâneas na cultura do milho, as quais diminuem significativamente o número ideal de plantas da cultura. Apareceram também, novos problemas com percevejos (percevejo-verde-da-soja - Nezara viridula e percevejo barriga-verde -

), tripes e insetos vetores de doenças como as cigarrinhas e os pulgões. Atualmente, recomenda-se o monitoramento da população de percevejos da parte aérea no final da cultura da soja para verificar a necessidade do seu controle químico no estádio de emergência do milho safrinha. Uma das alternativas é o emprego de inseticidas para tratamento de sementes, os quais apresentam a vantagem de não afetar os inimigos naturais. Além de reduzir a produtividade, essas novas pragas estão exigindo maior gasto com inseticidas, seja no tratamento de sementes seja nas pulverizações, o que poderá inviabilizar economicamente o milho safrinha nas áreas mais críticas.

Essas pragas, até então sem importância econômica nas principais regiões produtoras, estão associadas a fatores que favoreceram seu aparecimento, entre os quais podemos citar: 1) Monocultura da sucessão soja/milho “safrinha”, provocando desequilíbrio ambiental; 2) Quase metade das lavouras é semeada em época marginal, que apresenta menor potencial produtivo e maior risco de perdas, quando o retorno dos investimentos em insumos é reduzido e as lavouras pouco cuidadas (sem adubação e controle de pragas); 3) Aumento do plantio direto na palha, principalmente o temporário; que favorece os insetos residentes e exige manejo mais complexo (acompanhamento).

Deve-se priorizar a rotação de culturas no planejamento da ocupação das áreas na propriedade, evitando a monocultura da sucessão soja/milho “safrinha” principalmente nas áreas mais críticas.

Sugere-se que o milho safrinha seja implantado preferencialmente nas glebas onde for possível a semeadura na época recomendada para viabilizar o emprego dos insumos (incluindo fertilizantes e inseticidas) e técnicas culturais apropriadas. É necessário o exame dos tipos de pragas no solo (amostragem e identificação) para dimensionar quando e onde está ocorrendo cada tipo de praga e qual o seu potencial de dano - mapear o problema na propriedade (Gassen, 1999). Para isso, sugere-se difundir o hábito de observação da população residente através de escavações.

Outro problema bastante grave no milho safrinha é a presença de nematóides, tanto os formadores de galhas (

sp.) e os

.sp. A maioria dos cultivares de milho multiplicam os nematóides formadores de galhas, especialmente o

, (Lordello et al., 1999).

Nas semeaduras extemporâneas é necessário maior rigor na escolha dos cultivares, utilizando os reconhecidamente resistentes às doenças de ocorrência regional, devido às condições propícias para a manutenção de fonte de inóculo no campo e aos estresses que tornam as plantas debilitadas.

No período da “safrinha” têm ocorrido, sobretudo, as doenças transmitidas por insetos, especialmente o enfezamento causado por molicutes (Massola Junior et al, 1999; Duarte et al., 1999). Dentre as doenças foliares destaca-se, de maneira mais generalizada, a pinta-branca (

) e, em determinadas regiões, a helmintosporiose (

), a ferrugem branca (

), a ferrugem polissora (

) e a cercosporiose (

) (Fantin et al, 1999; Arias et al., 1999; Gerage & Bianco, 1990).

No outono-inverno a disponibilidade diária de calor é menor do que nos cultivos de verão e a perda de umidade dos grãos é mais lenta, fazendo com que o ciclo se alongue em quase um mês. Tal fato, juntamente com os estresses fisiológicos, requer que seja dada atenção especial à resistência às doenças do colmo que podem provocar acamamento e quebramento de plantas e aos patógenos depreciadores da qualidade dos grãos. Os problemas de sanidade dos grãos têm sido notados com maior freqüência quando ocorre seca ou geada durante a maturação dos grãos.

Atualmente, existem estudos que orientam a escolha dos cultivares mais adaptados e estáveis para a produção de grãos nas principais regiões produtoras (Corrêa, 1999; Duarte et al., 2000; Gerage & Shioga, 1999; IAC, 2000; Oliveira et al., 1999). Ressalte-se que, embora poucos genótipos comerciais adaptam-se na safrinha, não se tem material desenvolvido apenas para esse período, ou seja, todos os genótipos de milho recomendados para a safrinha são cultivados também na safra normal. A alteração da época de semeadura pode modificar as características fenológicas da planta de milho, sendo conhecido o prolongamento do ciclo das plantas na safrinha em relação à safra normal e, muitas vezes, a redução do porte das plantas (Duarte et al., 1995).

Devido à grande variabilidade da época de semeadura do milho safrinha, juntamente com a própria irregularidade climática desse período, tem sido dada especial atenção à estabilidade da produção de grãos dos cultivares recomendados. Mas, de maneira geral, a estabilidade geral do cultivar na safra de verão não é bom indicativo da sua adaptação na safrinha, requerendo estudos específicos nessa época (Sawazaki et al., 1995). Isso se deve à ocorrência de temperaturas estressantes opostas entre as modalidades de cultivo: no verão ocorre calor excessivo e no outono-inverno, temperaturas muito baixas.

Visando ao escape das condições adversas do meio, que acentuam com o decorrer do inverno, existe uma tendência de recomendar cultivares de ciclo precoce e superprecoce na safrinha. Porém, em regiões como o Médio Vale do Paranapanema, onde há transição climática entre inverno seco e úmido, a probabilidade de ocorrência de geadas é relativamente baixa e o atendimento hídrico é satisfatório na maioria dos anos, existem alguns cultivares de ciclo normal que se sobressaiam em relação aos mais precoces na maioria do anos.

Embora não tenha havido o lançamento de materiais específicos para as condições da safrinha, foi o melhoramento genético que viabilizou o sucesso dessa cultura no País, principalmente pela introdução de cultivares mais precoces e/ou adaptados a essa condição. Houve também benefícios do emprego de práticas culturais adequadas para essa modalidade de cultivo, como pode ser observado nos resultados dos experimentos realizados na região paulista do Médio Vale do Paranapanema a partir de 1992 (Figura 4). Excluindo os resultados de 2000, em que a perda foi quase total devido às geadas, a produtividade média dos últimos anos foi 53% (cerca de 1.400 kg/ha) superior à média dos quatro primeiros anos do trabalho, correspondendo a um ganho de 7,6% ao ano.

Na escolha dos cultivares, deve-se considerar que os melhores são aqueles que apresentam bom desempenho agronômico em nível regional, e a melhor relação entre o benefício do seu emprego e o custo das sementes.

Quanto maior o potencial produtivo da lavoura, em razão da época de semeadura e dos demais investimentos em insumos (adubos, inseticidas e herbicidas), maior será o ganho em rendimento de grãos com o emprego dos cultivares mais produtivos (Souza et al., 1993). Nas semeaduras muito tardias, devido à necessidade de reduzir os investimentos, deve-se utilizar as sementes mais baratas (híbridos duplos e variedades), que geralmente são de cultivares que apresentam menor potencial relativo de produção entre aqueles adaptados regionalmente. Particularmente na safrinha 2001, o agricultor deverá ser cauteloso na compra de sementes, utilizando as de maior preço apenas nas lavouras a serem implantadas na época recomendada.

A qualidade dos grãos é outro fator que deve ser levado em consideração. Os consumidores têm comprado preferencialmente grãos duros e semiduros para evitar possíveis problemas com micotoxinas advindos principalmente do manuseio inadequado do produto. O milho de melhor qualidade, porém, tem sido remunerado de maneira diferenciada apenas quando o mercado é de grande oferta.

IAC

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