Como reduzir perdas durante o processo de ensilagem do milho

A silagem é uma alternativa para diminuir a dependência das condições climáticas na alimentação do gado. Veja como minimizar as perdas durante esse processo.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A grande dependência das pastagens e das condições climáticas são as maiores causas da baixa produtividade e da qualidade insatisfatória da produção de bovinos no Brasil. Dessa forma, a intensificação da produção bovina de corte apresenta a necessidade da utilização estratégica de forragens conservadas, principalmente na forma de silagem, para seu sistema produtivo, em complementação ao manejo de pastagens e combinação com o uso racional de grãos, resíduos da lavoura ou subprodutos da agroindústria. O uso de silagem é uma boa recomendação para compensar esta flutuação estacional no crescimento de pastos e uma maneira de tornar a produção pecuária menos dependente das condições climáticas. A planta de milho é ideal para a ensilagem, uma vez que produz quantidade relativamente alta de matéria seca (30 a 35%), e baixo poder tampão (a massa ensilada permiti uma rápida queda do pH), além de contém níveis adequados de carboidratos solúveis (14 a 16%), de fermentação satisfatória para a população de bactérias produtoras de lactato. A silagem de milho é um alimento volumoso (teor de fibra bruta superior a 18% na matéria seca ) , e de alto valor nutricional, devido principalmente por seu valor energético, sendo recomendada na alimentação de bovinos que adotam o sistema de produção intensiva.

Nesse contexto, a disponibilidade de alimento, na forma de silagem, adquire importância estratégica, uma vez que possibilita a comercialização de animais nos períodos economicamente mais favoráveis. O conhecimento do valor nutritivo da forragem ensilada, quando armazenada e removida adequadamente, permite o planejamento da taxa de ganho de peso dos animais, pois se parte de um material homogêneo, de composição química mensurável, possibilitando a confecção de dietas equilibradas nutricionalmente.

A ensilagem é uma técnica onde o material da lavoura ou da pastagem é colhido, picado e armazenado sob compactação dentro dos silos onde, em ausência de oxigênio, sofre fermentações específicas, que irá conserva-lo até que seja fornecido aos animais. Para este processo, no qual a forragem verde é conservada pela fermentação anaeróbica é que chamamos de silagem.

As técnicas de ensilagem visam facilitar e acelerar a fermentação anaeróbia dentro do silo, porém, este processo requer alguns cuidados por parte do produtor na tentativa de se reduzir perdas e garantir a qualidade da silagem de milho, como: o material colhido deve ser picado em partículas com tamanho entre 1 e 2 cm antes de transportá-lo para o silo. O corte é importante pelo fato de (1) facilitar a acomodação do material dentro do silo e (2) expor os carboidratos solúveis e facilitar a ação dos microorganismos fermentadores. Se o material colhido ficar exposto ao ar servirá de substrato para as bactérias aeróbias e sofrerá fermentações indesejáveis impossibilitando sua preservação. A retirada do oxigênio de dentro do silo é feita através de expulsão, usando para isso compactação constante com tratores à medida que o material picado é colocado dentro do silo. Após o enchimento e compactação o silo deve ser vedado para impedir a entrada de ar, sendo que, a colocação de lonas plásticas é o método mais recomendado e utilizado. Por cima da lona, coloca-se terra e ao redor do silo fazem-se valetas e cercas para impedir a entrada de água e animais.

Um outro fator que pode comprometer a qualidade da fermentação e o valor nutritivo da silagem é o teor de umidade, ou porcentagem de matéria seca (MS), na planta no momento da colheita. Plantas com baixo teor de MS produzem, quando compactadas dentro do silo, elevadas quantidades de efluentes líquidos, ou chorume, que carreiam para fora do silo uma alta porcentagem de nutrientes de interesse nutricional tanto para as bactérias anaeróbias quanto para os ruminantes que consumirão a silagem.

Além disso, o aumento da umidade favorece o crescimento de bactérias anaeróbias indesejáveis (Chlostridium) que produzem, durante a fermentação, ácido butírico. A presença desse ácido a partir de certo nível compromete o consumo da silagem pelos animais. A combinação de baixa umidade e presença de oxigênio possibilita grande atividade respiratória causando elevação da temperatura interna do silo e comprometimento dos nutrientes, além de favorecer o aparecimento de fungos e mofos. Uma das reações típicas nessas situações é a de Maillard, quando, sob temperaturas acima de 65 oC, a fração protéica se associa à carboidratos estruturais ficando indisponível para os animais. Já as plantas colhidas com alto teor de MS exigem mais energia para serem picadas, além de dificultarem a compactação dentro do silo permitindo maior presença de ar na massa ensilada.

As plantas devem ser colhidas quando o teor de MS estiver entre 31 e 35%. Na prática, esses valores coincidem com o estágio no qual o grão encontra-se com constituição farinácea.

A transformação do material verde picado no campo em silagem se dá através da fermentação anaeróbia que ocorre dentro do silo. Para que isso aconteça são necessárias as seguintes condições: ausência de oxigênio, presença de bactérias anaeróbias e presença do substrato para serem utilizados por elas. As técnicas de ensilagem visam facilitar e acelerar a fermentação anaeróbia dentro do silo.

As plantas de milho colhidas no campo são ricas em carboidratos solúveis que servem de substratos para as bactérias. Também possuem bactérias aeróbias e anaeróbias, sendo que essas últimas são específicas para o tipo de fermentação desejada e encontram-se em baixas concentrações.

A colheita e picagem da lavoura de milho, o enchimento, compactação e vedação do silo devem ser feitos o mais rapidamente possível. Após o fechamento, o oxigênio residual será utilizado para respiração das células presentes na massa ensilada, até se esgotar. Quanto maior teor de oxigênio deixado dentro do silo, maior será a respiração celular e mais tempo as bactérias aeróbias estarão presentes no ambiente. Durante o processo de respiração os carboidratos solúveis são consumidos e há a produção de CO2, H2O e calor.

Após o esgotamento do oxigênio, a população e, consequentemente, a atividade das bactérias aeróbias é reduzida a zero ao mesmo tempo que a população e atividade das bactérias anaeróbias aumenta. Ao agir sobre os carboidratos solúveis presentes, as bactérias anaeróbias produzem CO2 e ácidos orgânicos, em sua maioria o ácido lático que, ao se acumularem, acidificam o ambiente. O ácido lático deve aparecer em porcentagem superior aos demais, e o ácido butírico sempre em pequena quantidade, porque sua presença revela intensa degradação das proteínas. Baixos valores de pH fazem com que a atividade das bactérias anaeróbias seja reduzida. Dessa maneira, quando o pH da silagem de milho atinge valores entre 3,8 e 4,5 o processo de fermentação é naturalmente interrompido, ocorrendo a estabilização da silagem. Na tabela 1 são apresentados os níveis em que os principais parâmetros fermentativos devem se encontrar para que ocorra uma boa estabilização do material dentro do silo.

Tabela 1. Parâmetros de qualidade na silagem de milho

Parâmetro - Faixa ideal (%)

pH - 3,8 a 4,5

Ácido lático - 6,0 a 8,0

Ácido acético - <2,0

Ácido propiônico - 0,0 a 0,1

Ácido butírico - <0,1

Fonte: Embrapa/CNPGL.

Além das perdas físicas naturais, que existem no processo de ensilagem, tais como a forragem que é perdida no campo durante a colheita e após a abertura do silo devido ao mau manejo, uma série de perdas químicas também ocorrem e comprometem o valor energético da silagem. Parte dessas perdas são evitáveis, e para isso as técnicas corretas de ensilagem devem ser utilizadas pelo produtor. Outras, porém, são inevitáveis, mas podem ser minimizadas através, também, do uso de boas técnicas de ensilagem. Por essas razões o valor nutritivo da silagem é sempre inferior ao valor nutritivo do material original que lhe deu origem. A Tabela 2 relaciona essas perdas e suas principais características.

Tabela 2. Perdas de energia na silagem de milho

Processo - Tipo de perda - Perda em MS (%) - Causas

Respiração - Inevitável - 1 a 2 - Reações da planta

Fermentação - Inevitável - 2 a 4 - Microorganismos

Fermentações secundárias e efluentes - Evitável - 0 a 7 - Baixo teor de MS e ambiente inadequado dentro do silo

Deterioração aeróbia no armazenamento - Evitável - 0 a 10 - Alto teor de MS, partículas grandes, má compactação e demora no enchimento

Deterioração aeróbia no descarregamento - Evitável - 0 a 15 - Alto teor de MS, baixa densidade, técnicas incorretas de descarregamento

Fonte: Mulback (1994).

Uma silagem de milho de boa qualidade apresenta alguns aspectos que podem ser observadas pelo produtor. Apresenta cheiro agradável, a cor é clara, podendo ser um verde amarelado ou cáqui. A textura é firme e os tecidos são macios, mas descartáveis das fibras. Quanto à acidez, apresenta gosto ácido típico. Quanto melhor a preservação de seu valor nutritivo, menor será a necessidade de complementação com concentrado, reduzindo o custo final de produção.

Biológo e estudante de pós-graduação da

Universidade Federal de Viçosa (UFV) – E_mail: edercml@yahoo.com.br

Química e mestranda do Departamento

de Agroquímica da Universidade Federal de Viçosa (UFV) - E_mail:

julieta _neta@yahoo.com.br

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