Como se movem os fungicidas em tecidos foliares

Conhecer as características físico-químicas dos fungicidas e sua penetração em tecidos foliares é fundamental para obter melhor eficácia e prevenir perdas no campo

14.02.2017 | 21:59 (UTC -3)

A penetração de substâncias nas folhas é um processo passivo impulsionado por gradientes de concentração. De acordo com a lei de Fick, o gradiente de concentração é a força motriz para a difusão. As taxas de penetração por difusão de qualquer solução aplicada externamente sobre a superfície da folha dependem tanto da sua concentração na superfície como da concentração no interior da folha.

A concentração de uma determinada solução no interior da folha depende da natureza do composto e de fatores fisiológicos das plantas, tais como a mobilidade e a taxa de penetração na epiderme e células do mesofilo (GRIGNON et al., 1999; EWERT et al., 2000). A concentração do produto dentro do tecido foliar, logo abaixo da gota, é supostamente muito menor, especialmente na chegada da gota. Portanto, pode-se dizer que as taxas de difusão para o interior da folha são principalmente governadas pela concentração externa dos solutos .

A difusão foliar é determinada por muitas características inerentes aos ingredientes ativos e a sua formulação como, a interação planta-ambiente o que acabará por ter uma influência direta em fatores como a morfologia da folha, estrutura, posição, exposição ao sol e taxa de processos fisiológicos na planta. Ao entrar em contato com a planta, a primeira barreira que o produto químico encontra é a cutícula, uma fina película superficial composta de lipídios solúveis e poliméricos (JEFFREE, 1996). A função mais importante da cutícula é a proteção dos tecidos vivos das plantas contra a perda de água (SCHÖNHERR, 1982), mas constitui-se também em uma barreira para a penetração de produtos químicos aplicados via foliar.

O movimento de agroquímicos através das cutículas das plantas tem sido extensivamente modelado e revisado (BRIGGS; BROMILOW, 1994; WANG; LIU, 2007; SATCHIVI et al., 2006), e é consideravelmente mais complexo do que o movimento previsto por simples leis de transferência de massa (RIEDERER; FRIEDMANN, 2006). Os adjuvantes, tipo de formulação, relações de ingrediente ativo (IA) para adjuvante, e a concentração do IA na pulverização de gotículas estão entre os muitos parâmetros de aplicação que influenciam a absorção foliar (ZABKIEWICZ, 2007; STOCK, 1996; FORSTER et al., 2006; STOCK et al., 1993). Entre as propriedades físicas dos IA que influenciam a absorção foliar, a partição octanol-água (logKow) é frequentemente considerado o parâmetro fundamental para a penetração através da cutícula e redistribuição na planta (WANG; LIU, 2007; KIRKWOOD, 1999). De fato, Bromilow e Chamberlain (1989) afirmaram que a sistemicidade de compostos podem ser previstas por lipofilicidade e que compostos com valores LogKow maiores que 3, deixam de se mover nas plantas. O volume molar (VM) também tem sido considerado um preditor chave do movimento dos compostos através da membrana cuticular (SATCHIVI et al., 2006; SCHÖNHERR; BAUR, 2004). Briggs e Bromilow (1994) consideram que o ponto de fusão (PF) pode ser uma propriedade chave para controlar a solubilização de um composto na superfície foliar, sendo o primeiro passo para a penetração e redistribuição na planta. Sauter (2007) também propôs que o PF é um parâmetro importante, sendo que o baixo PF impulsiona uma forte atividade translaminar de piraclostrobina, afetando positivamente o espectro de atividade desse produto, a segurança das culturas, e melhorias de rendimento.

Os fungicidas podem ser classificados quanto à mobilidade na planta, a partir da permanência na superfície da planta após a deposição, ou da absorção e translocação pelo sistema condutor para locais distantes da deposição. Dessa forma, os fungicidas podem ser classificados como:

(i) Tópicos ou imóveis: são fungicidas que ao serem aplicados nos órgãos aéreos não são absorvidos nem translocados, permanecendo na superfície da planta (do grego topykos = lugar), no local onde foram depositados. Também são chamados de não sistêmicos. Exemplo: fungicidas multissítios (Tabela 1). Continue lendo... Se você já é nosso assinante clique aqui

Marlon Tagliapietra Stefanello

Leandro Nascimento Marques

Marcelo Gripa Madalosso

Ricardo Silveiro Balardin

UFSM/Instituto Phytus

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