Configurações ideais para a colheita mecanizada do tomate

A colheita mecanizada do tomateiro é uma realidade cada vez mais presente, porém perdas significativas dos frutos podem ser evitadas com diferentes configurações do sistema de trilha da colhedora

05.12.2016 | 21:59 (UTC -3)

O tomate (Lycopersicon sculentum Mill.) é uma hortaliça originária da América do Sul, na região dos Andes e atualmente é considerada a segunda hortaliça em volume de produção e consumo no mundo.

Com a crescente importância econômica dessa cultura na área olerícola, a mecanização no processo de colheita do tomate industrial vem proporcionando alguns resultados satisfatórios nas áreas cultivadas, onde há maior redução de custos por unidade que se apoia principalmente na redução dos custos com mão de obra. A colheita mecanizada passa uma maior confiabilidade na realização da operação e, consequentemente, um maior custo-benefício, fazendo com que seja atrativa para a maioria dos produtores.

Nem todas as áreas utilizadas atualmente se mostram propícias para a realização deste tipo de operação, sendo importante ações relacionadas ao preparo do solo e, quando necessário, o processo de enleiramento. Dentre os fatores que se destacam com influência sobre as perdas, não há somente as condições de topografia do solo, mas também condições de clima e limpeza da área. Em um terreno irregular e a ação das hastes recolhedoras da plataforma poderão levar uma quantidade grande de impurezas para os diversos mecanismos da máquina, onde o equipamento é danificado e reduz a qualidade do produto colhido.

São raros os trabalhos de avaliação nas perdas causadas por uma colhedora de tomate e seus mecanismos, sendo que essas perdas, quando monitoradas, podem servir como indicadores da qualidade do processo de colheita. Por se tratar de um produto sensível e que envolve um alto custo horário com máquinas e mão de obra, há uma preocupação em mensurar as perdas. Nas colhedoras dotadas de sistemas de trilha utilizadas para os diversos produtos agrícolas, a sua regulagem têm se destacado para que haja um bom desempenho e efiência no momento da operação. Em culturas mais tradicionais, como a soja e o milho, os estudos realizados sobre o sistema de trilha tornaram-se rotineiros, porém, o mesmo não ocorre com a cultura do tomateiro. Portanto, diante de poucas informações sobre a avaliação das perdas de frutos que não se destacaram das ramas, houve um estudo de diferentes regulagens no sistema de trilha da colhedora de tomate.

O estudo foi realizado no município de Morrinhos-GO em uma área irrigada por um sistema de irrigação de pivô central e com o histórico de implantação da cultura do tomateiro. Foi utilizada a cultivar de tomate HEINZ 9553, implantada sobre um sistema de plantio direto, onde, o processo de colheita aconteceu após 125 dias. A região estudada é considerada uma das maiores zonas produtoras do estado e tem se destacado no cenário nacional como a maior região produtora de tomate no Brasil.

Para a avaliação das perdas de frutos presos nas ramas após a trilha foi utilizada uma colhedora autopropelida da marca GUARESI, modelo G-89/93 MS 40”, com motor FIAT-Iveco 175 cv, dotada de uma plataforma de corte e recolhimento flutuante e equipada com um selecionador eletrônico de frutos verdes e torrões nas suas esteiras de separação. No momento da colheita o solo se encontrava com teor de água 18,4%, pois a importância de se manter um solo úmido na colheita está baseada no fato das hastes recolhedoras da plataforma de corte e recolhimento atuarem um pouco abaixo da superfície do solo, evitando perdas por frutos não recolhidos. A colhedora possui um rotor de trilha dotado de hastes de fibra de vidro que, através de movimentos circulares gerados pelo rotor, vibram e golpeiam a massa recolhida (ramas e frutos), realizando assim a operação de trilha.

O estudo foi conduzido em um delineamento de blocos casualizados com quatro repetições, em esquema de parcelas subdivididas, onde as parcelas foram constituídas por três rotações do mecanismo de trilha (6; 12; 18 rpm), e as subparcelas constituídas de três frequências de vibração do mesmo mecanismo (0.83, 2.5 e 4.17 Hz). Foram demarcadas quarenta parcelas com 40 m de comprimento e 2,5 m de largura, onde, em cada parcela, a colhedora operou com as combinações a serem avaliadas.

Durante a operação, a colhedora trabalhou com a rotação do motor em 1900 rpm e com velocidade média operacional de 4,1 km.h1. Para a quantificação das perdas foi utilizado um gabarito de área interna de 2,5 m2, onde após a passagem da colhedora foram coletados em cada um dos pontos os materiais necessários para as avaliações propostas no presente estudo. Após o material ser recolhido, o mesmo foi ensacado, identificado e pesado.

As perdas nas ramas foram constituídas pelos frutos que não se destacaram da parte vegetativa (ramas) após a passagem pelo sistema de trilha. As perdas naturais e perdas na plataforma de corte não foram contabilizadas nesse processo, pois, tratam-se de frutos soltos não presos às ramas. Os dados obtidos referentes às perdas no sistema de trilha foram submetidos à análise de variância, o efeito dos fatores de vibração e rotação no mecanismo de trilha foi avaliado por meio de análise de regressão, sendo os modelos escolhidos com base no coeficiente de determinação, na significância dos coeficientes de regressão, e na falta de ajustamento dos modelos utilizando-se o teste “T” a 5%.

A partir dos resultados, verificou-se que não houve efeito significativo na interação dos fatores estudados. Quando isolados individualmente foi possível verificar que a vibração do mecanismo de trilha influenciou significativamente as perdas de frutos não destacados de suas ramas (Pram). Com base no modelo obtido para avaliar o efeito da frequência de vibração do mecanismo de trilha sobre as perdas na colheita, pode-se verificar que com o aumento da vibração, as perdas de frutos não destacados reduziram linearmente. Esse modelo obteve um coeficiente de variação de 43,95% e um coeficiente de determinação de 83,9%, o que indica uma grande influência da frequência de vibração no destacamento dos frutos.

A utilização de frequências de vibração mais altas mostrou-se como um método eficiente para colheita de diversos produtos agrícolas, assim como café, laranja, azeitona etc. Na Figura 1, os valores foram separados em valores estimados e valores observados. Com relação às perdas relacionadas aos frutos não destacados das ramas pela máquina (Pram), verificou-se que os valores estimados para essas perdas foram maiores quando a frequência de vibração foi de 0,83 Hz, onde, em média, houve a perda de 7,00 t ha1. Os valores observados nas perdas para a frequência de 0,83 Hz foram ligeiramente superiores, totalizando em média 7,42 t ha1.

Quando a frequência de vibração foi de 2,5 Hz, houve a perda estimada de 4,91 t ha1, já com os valores observados, para a mesma frequência, os valores foram inferiores, totalizando em média 4,07 t ha1. Para a frequência de 4,17 Hz os valores estimados de perdas foram 2,82 t ha1 e os valores observados foram de 3,24 t ha1.

A retirada dos frutos de suas ramas é um processo que necessita de vários “golpes” das hastes presas no rotor de trilha, entretanto, esse número de golpes pode ser maior ou menor, pode possuir amplitudes de vibração maiores ou menores. Esses fatores dependem de alguns pontos determinantes, tais como cultivares diferentes e ponto de maturação dos frutos.

Há variedades em que os frutos se desprendem com maior facilidade das ramas, necessitando de um menor número de golpes e de uma menor frequência de vibração. Frutos com o ponto de maturação tardio possuem uma tendência a danos mecânicos mais severos quando expostos a grandes vibrações do mecanismo de trilha, diante desse problema, é necessário avaliar a rotação e vibração do sistema de trilha.

Diante desse cenário, é possível concluir que maiores eficiências do sistema de trilha foram obtidas com a utilização de maiores frequências de vibração, as quais tornaram o destacamento mais eficiente.

Este artigo foi publicado na edição 136 da revista Cultivar Máquinas. Clique aqui para ler a edição.


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