Conhecendo a pinta preta dos citros e sua importância para Rondônia

Dada a sua importância, o patógeno está incluído, desde 2005, na lista de pragas quarentenárias dos EUA e da Comunidade Européia. A doença tem real importância econômica ao Brasil, África

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A pinta preta ou mancha preta é uma doença de origem fúngica causada por Guignardia citricarpa (anam. Phyllosticta citricarpa). Este fungo é um Ascomyceto que produz seus ascósporos em peritécios escuros, imersos nos tecidos da planta. Na fase assexual, a estrutura visível em restos de cultura são picnídios que em condições favoráveis liberam milhares de conídios (esporos assexuais).

A doença foi descrita pela primeira vez em Taiwan, em 1970, provocando danos severos, chegando ao Brasil no Rio de Janeiro em 1980. Nos anos seguintes, a doença espalhou-se pela Ásia e Oceania. Atualmente, a doença já foi descrita nos seguintes países: Egito, Nigéria, África do Sul, Suécia, Tanzânia, Uganda, Miamar, Índia, Iran, Israel, Japão, Coréias, Líbano, Malásia, Paquistão, Singapura, Siri Lanka, Tailândia, Vietnã, Ilhas Cook, Tongo, Ilhas Samoa, Ilhas Fiji, EUA (Hawaii e Florida), Papua Nova Guiné, Itália, Geórgia, Belize, Cuba, Honduras, Jamaica, Trinidad e Tobago, Argentina, Brasil, Peru e Venezuela.

No Brasil, entre as décadas de 1990 e 2002, o patógeno já estava espalhado pelos Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Amazonas, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Santa Catarina. Em monitoramento realizado em mais de 20 municípios de Rondônia, pela Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril (IDARON), em parceria com a Embrapa Rondônia, a doença foi detectada pela primeira vez em 2008, no município de Rolim de Moura. Provavelmente a doença entrou no Estado através mudas infectadas, não-certificadas e não acompanhadas de certificado fitossanitário de origem.

Dada a sua importância, o patógeno está incluído, desde 2005, na lista de pragas quarentenárias dos EUA e da Comunidade Européia. A doença tem real importância econômica ao Brasil, África do Sul, Austrália, China, Argentina e Taiwan. Estes países são produtores/exportadores de suco congelado e frutos in natura.

A doença é mais comum em limões verdadeiros (Citrus limon) var eureka e siciliano, laranjas doces e tangerinas. Na Lima ácida Tahiti a doença não foi observada até o presente.

A pinta preta provoca lesões na casca depreciando o fruto para o mercado interno e impedindo a sua comercialização no mercado externo por ser praga quarentenária. Porém, não afeta a qualidade interna dos frutos e não reduz a qualidade do suco.

A doença apresenta seis diferentes sintomas sendo o chamado “mancha dura”, que ocorre em áreas novas, durante a maturação dos frutos. Nessa situação, os sintomas são bordas salientes, com centro deprimido de cor palha.

Estudo epidemiológico feito em diversas regiões do Brasil demonstra que o processo infeccioso inicia-se quando os ascósporos, produzidos em folhas e frutos caídos, atingem as folhas baixeiras da planta e se multiplicam. A partir daí, atinge outras plantas mais próximas, e em seguida até mesmo lavouras mais distantes.

Embora os danos dessa doença não sejam severos a ponto de provocar a redução drástica da produtividade, dada a sua importância quarentenária é necessário promover o manejo dessa doença, a partir de medidas bastante eficientes. Assim, recomenda-se o seguinte:

a) O uso de mudas sadias, acompanhadas de Certificado Fitossanitário de origem (CFO). É importante a quarentena dessas mudas pois é comum ocorrerem infecções latentes que tem importância epidemiológica, pois uma mudainfectada pode permanecer assintomática por até 3 meses.

b) Preocupar-se com a nutrição da planta, pois plantas com deficiência apresentam maior susceptibilidade da doença.

c) No aspecto de manejo, é importante tomar cuidado quanto ao trânsito dentro do pomar, pois veículos, máquinas, implementos, etc, são importantes disseminadores da doença.

d) Deve-se remover os restos de cultura, como folhas e frutos caídos, eliminando o inóculo que está latente.

e) Pode-se usar quebra-ventos para reduzir a disseminação do patógeno na área e entre áreas.

f) Deve-se remover os frutos temporões antes da florada seguinte, reduzindo o inóculo na área e antecipar a colheita nos talhões precoces ou onde a já ocorra.

g) Por fim, mas não menos importante, deve-se associar as medidas de controle químico que deve iniciar-se após a queda de dois terços das pétalas.Pode-se utilizar fungicidas a base de Cobre, como Oxicloreto de Cobre, Hidróxido de Cobre, entre outros, ou fungicidas sistêmicos como benzimidazóis e estrubilurinas. As pulverizações podem ser feitas a cada 28 dias (dependendo do fungicida utilizado) até os 42 dias após o surgimento do fruto, segundo recomendações do Fundecitrus.

José Roberto Vieira Junior [1] e Cléberson de Freitas Fernandes [2]

[1] Engenheiro agrônomo, doutor em fitopatologia, pesquisador da Embrapa Rondônia

[2] Farmacêutico, doutor em bioquímica, pesquisador da Embrapa Rondônia

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