Construção do perfil do solo, uma prática essencial

Por João Pascoalino, engenheiro agrônomo, Doutor em Agronomia – Solos e Nutrição de Plantas e coordenador técnico e de Pesquisa do CESB

13.04.2020 | 20:59 (UTC -3)

O Comitê Estratégico Soja Brasil (CESB), embora seja uma entidade cuja denominação é específica para a cultura da soja, não negligencia o sistema produtivo como um todo. Ou seja, a atenção se dá também às demais culturas tais como as incluídas nas principais famílias de plantas cultivadas no Brasil: gramíneas, leguminosas, rosáceas, solanáceas, asteráceas, mirtáceas, malváceas e cucurbitáceas. Dentre as principais razões para considerar a diversidade de culturas no sistema produtivo estão os benefícios que diferentes culturas geram, principalmente no quesito construção do perfil do solo.

Baseado nas contatações do CESB nota-se que os ambientes de produção que são mais produtivos, sem exceções, quando apresentam um combo de manejo bastante característico, considerando perfil de solo corrigido nos aspectos físicos, químicos e biológicos e diversidade de cultura, sendo superior a quatro, ou seja, um sistema de rotação de culturas intensivo que é composto por mais de quatro culturas.

Diante do pressuposto, a curiosidade está em entender como este combo de manejo promove a construção do perfil de solo. Tal indagação será respondida baseada em informações oriundas de produtores de sucesso espalhados por todo território brasileiro, que estão produzindo muita soja por unidade de área, em média aproximadamente 80 sacas de soja por hectare (80 sc/ha), representando uma produtividade 33% superior à média nacional, quando comparada com o levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) (Quadro 1). Isso nos indica que manejo adotado versus ambiente de produção estão em sintonia.

A construção do perfil do solo é o primeiro passo para um ambiente produtivo, pois irá permitir sustentar e manter as condições ideais para o crescimento, desenvolvimento e produtividade das plantas. O perfil do solo fisicamente ideal, quimicamente corrigido e biologicamente ativo é a chave para um bom start para atender às necessidades das plantas. Nesse contexto, existem três premissas importantes a serem consideradas para iniciar e manter o processo de construção do perfil do solo, que é gradativo:

1ª) evitar o impedimento físico do solo 

Permite o crescimento do sistema radicular sem obstrução, maior aeração do solo, ambiente favorável para a microbiota do solo, maior fixação biológica de nitrogênio, maior infiltração de água no solo, melhor absorção de nutrientes, menor escorrimento superficial de água e nutrientes, evitando erosão do solo e perda de nutrientes do sistema;

 2ª) corrigir a fertilidade química do solo em profundidade e manter o equilíbrio químico

Mantém o pH do solo na faixa ideal, aumentando a disponibilidade dos nutrientes e promovendo a ausência do alumínio (Al+3) do solo. Oferece o nitrogênio (N), fósforo (P), cálcio (Ca2+) e boro (B) em quantidade e profundidade, favorecendo o crescimento vertical e horizontal da raiz no solo, assim ampliando o volume de solo explorado;

3ª) melhorar aspecto biológico do solo

Obtido através da diversidade de culturas (sistema de rotação de culturas) vinculado ao plantio direto, que é caracterizado por não revolver o solo e manter a palhada da cultura sobre ele. O fato de trabalhar com culturas diferentes dentro de um mesmo ambiente produtivo permite maior diversidade de raízes com características morfológicas e de composição química diferentes, assim promovendo melhor agregação do solo e formação de canais preferenciais, que potencializam a difusão de oxigênio, infiltração de água e aprofundamento dos nutrientes no perfil do solo. Liberação de exsudados na região da rizosfera, que colabora na proteção da planta a ataques de pragas e doenças e promove a alteração do pH do solo, que pode aumentar a disponibilidade de nutrientes, potencializando a absorção dos mesmos pelas raízes das plantas. Aumento da matéria orgânica, que auxilia em todos os processos mencionados anteriormente, bem como está ligado diretamente à qualidade do solo, sendo o combustível para macro, meso e microrganismos que estão diretamente ligados à vida do solo.

O cumprimento das premissas, na prática, se resume em vantagens físicas, químicas e biológicas, que geram raízes desenvolvidas, horizontalmente e verticalmente, que proporcionam maior eficiência e competitividade para aproveitar água, nutrientes e demais recursos essenciais para o desenvolvimento da planta.

Um bom exemplo do pressuposto, está na Figura 1a e 1b, que ilustram dois ambientes campeões de produtividade do desafio CESB situados no Centro-Oeste do Brasil: Formosa-GO (após a soja, cultivando aveia preta por 65 dias, safra 2017/2018) e Rio Verde-GO (após a soja, cultivando capim mombaça por 45 dias, safra 2018/2019). Em ambos os ambientes as raízes ultrapassaram dois metros de profundidade.

Todas essas vantagens no sistema refletem os benefícios de um bom manejo de perfil de solo, assim possibilitando afirmar que o processo de construção do perfil acontecerá desde que as escolhas do manejo adotado estejam de acordo com a realidade de cada sistema produtivo. O caminho para algumas reflexões, em partes, foi descrito neste artigo, sendo que vale ressaltar que partimos de um combo de manejo funcional, o qual reflete um ambiente de produção eficiente, ou seja, com média produtiva de soja 33% superior à média do Brasil (Quadro 1). Denominamos essa filosofia de trabalho como engenharia reversa, que é fundamentada por partir de um contexto positivo, assim favorecendo para a assertividade e agilidade da informação para com o produtor e afins.

O CESB é uma entidade sem fins lucrativos, formada por profissionais e pesquisadores de diversas áreas, que se uniram para trabalhar estrategicamente e utilizar os conhecimentos adquiridos nas suas respectivas carreiras e vivências, em prol da sojicultura brasileira. O CESB é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), nos termos da Lei n° 9.790, de 23 de março de 1999, conforme decisão proferida pelo Ministério da Justiça, publicada no Diário Oficial da União de 04 de dezembro de 2009.  Atualmente, o Comitê Estratégico Soja Brasil é composto por 22 membros e 23 entidades patrocinadoras: Syngenta, BASF, Bayer, Mosaic, SuperBAC, Jacto, Agrichem, Corteva, Instituto Phytus, CompassMinerals, Atto Sementes, Stoller, UPL, Timac Agro, Brasmax, FMC, Strider, Stara, DataFarm, Calcário Itaú, SOMAR Serviços Agro, Ubyfol e Omnia.

Compartilhar

Mosaic Biosciences Março 2024