Controle da planta daninha caruru-palmeri no Brasil

Manejo inclui uso adequado de herbicidas pré e pós emergentes, emprego da palhada pelo sistema de plantio direto, consórcio e rotação de culturas

06.08.2020 | 20:59 (UTC -3)

Planta daninha agressiva, detectada no Brasil em 2015, o caruru palmeri está presente em aproximadamente 12 mil hectares de lavouras do Mato Grosso. Com resistência confirmada a glifosato e a ALS no Brasil, o manejo de Amaranthus palmeri inclui medidas como uso adequado de herbicidas pré e pós emergentes, emprego da palhada pelo sistema de plantio direto, além de consórcio e rotação de culturas.

As plantas daninhas foram selecionadas a partir de distúrbios naturais do ambiente e pelo desenvolvimento da agricultura, que modificaram o habitat natural da vegetação nativa, e assim proporcionaram a evolução de espécies adaptadas a esses ambientes, sendo então chamadas de plantas daninhas. Frequentemente estas espécies são disseminadas pelas áreas agrícolas do mundo pelo próprio ser humano, que as transportam para outros ambientes, por terem características ornamentais, forrageiras, medicinais e até mesmo como culturas e, posteriormente, se adaptam ao novo habitat tornando-se infestantes com variável grau de agressividade. Dentre os inúmeros casos, é citado que no Brasil, as espécies Brachiaria decumbens, B. brizantha e Panicum maximum são exemplos de forrageiras introduzidas a partir de meados de 1950, e que atualmente são importantes plantas daninhas de difícil manejo.

Detalhes das flores femininas e masculinas de Caruru palmer, com destaque para as anteras expostas e bem visíveis
Detalhes das flores femininas e masculinas de Caruru palmer, com destaque para as anteras expostas e bem visíveis
Detalhes das flores femininas e masculinas de Caruru palmer, com destaque para as anteras expostas e bem visíveis
Detalhes das flores femininas e masculinas de Caruru palmer, com destaque para as anteras expostas e bem visíveis

A espécie Amaranthus palmeri (caruru-palmeri) foi introduzida no Brasil, sendo identificada sua presença em 2015, em regiões do núcleo de produção algodoeiro do estado de Mato Grosso, onde normalmente se pratica o sistema de produção de sucessão das culturas de algodão, soja e milho. Especula-se que o caruru-palmeri pode ter sido introduzido no Brasil através da importação de colhedoras usadas de grãos e de algodão que estariam contaminadas com restos de caruru-palmeri vindos de fora do pais, prática comercial cada vez mais comuns dentre os produtores brasileiros. Após a introdução do caruru-palmeri no Brasil, houve expectativa de que o setor de pesquisa do país levantasse informações sobre a sua biologia, formas de disseminação, competitividade e controle, em condições brasileiras, pois estas informações existem para outros países, sendo que as plantas daninhas de maneira geral se comportam de formas diferenciadas quando submetidas a diferentes regiões geográficas no mundo. Segundo estimativa do Indea/MT a área infestada com caruru-palmeri no Brasil atualmente é de 11 mil hectares a 12 mil hectares aproximadamente, valor este que não se alterou muito desde sua identificação, ou seja, sua infestação é considerada sob controle.

A espécie é dióica, ou seja, em uma população, parte das plantas terão somente flores femininas (plantas “fêmea”) e a outra parte, somente flores masculinas (plantas “macho”). Essa é uma característica que facilita a identificação do caruru-palmeri, uma vez que todas as outras espécies de caruru já identificadas no Brasil têm flores masculinas e femininas separadas, porém na mesma planta, sendo classificadas como monóicas. As sementes são produzidas somente nas plantas com flores femininas, porém as plantas femininas podem produzir sementes mesmo sem a ocorrência de polinização por partenocarpia. Este fato facilita a invasão desta espécie em novos ambientes.

Mancha foliar em forma de V, típica da espécie Amaranthus palmeri
Mancha foliar em forma de V, típica da espécie Amaranthus palmeri

Nos Estados Unidos da América do Norte, há relatos de populações de caruru-palmeri que foram selecionados como resistentes a pelo menos um dos herbicidas pertencentes a cinco mecanismos de ação: inibidores da ALS (ALS), inibidores da EPSPs (glifosato), inibidores da HPPD (HPPD), inibidores da síntese da tubulina (Trifluralina) e inibidores do fotossistema II (FSII). O manejo dessas populações se torna ainda mais complexo, sobretudo para as populações com mecanismos de resistência múltipla, o que já foi relatado para dois ou três desses mecanismos de ação: ALS/glifosato; ALS/glifosato/FSII e ALS/FSII/HPPD. Além das fronteiras dos EUA, já foram observados biótipos de caruru-palmeri com resistência a ALS em Israel e Argentina. No Brasil a planta já foi pesquisada com relação à resistência a herbicidas e trabalhos publicados comprovam que as populações estudadas são resistentes ao glifosato e ALS. 

Algumas alternativas de controle vêm sendo utilizadas no manejo de A. palmeri resistente ao glifosato com sucesso, dentre elas destaca-se a aplicação de herbicidas, pós-emergentes, inibidores da PROTOX como fomesafen, lactofen, saflufenacil ou flumiclorac. Além disso os futuros traits de culturas resistentes a herbicidas não seletivos (amônio-glufosinato, 2,4-D, dicamba e tembotrione), que estão sendo desenvolvidos proporcionarão maior leque de opções para o manejo do caruru-palmeri. Ressalta-se que para o sucesso do manejo químico de caruru-palmeri através da utilização de pós-emergentes, estes herbicidas devem ser aplicados em estádios iniciais de desenvolvimento da planta daninha, na dose apropriada.

Em relação a herbicidas pré-emergentes, o manejo pode ser feito com o uso dos herbicidas s-metolachlor, sulfentrazone, flumioxazin, metribuzin. A utilização de herbicidas pré-emergentes tornou-se fundamental para que o manejo químico proporcione boa eficácia de controle de plantas daninhas, além de reduzir as perdas de produção decorrentes da mato-competição no início do ciclo da cultura. Um fator importante a ser observado na aplicação dos herbicidas em condições de pré-emergência são os atributos do solo, como teor de matéria orgânica e argila, bem como a condição hídrica do solo no momento da aplicação, ou seja, se a aplicação está sendo realizada em época úmida, seca ou de transição.

Além disso, alternativas não químicas também podem ser usadas, como é o caso do emprego da palhada pelo sistema de plantio direto, além do consórcio entre culturas, e a rotação de culturas com adubos verdes, que tem por objetivo reduzir a pressão causada pelo banco de sementes existente na área, uma vez que dificultam a emergência de inúmeras espécies, e inviabilizam a germinação ao longo do tempo.

Detalhe do crescimento acelerado de caruru palmer que pode chegar a 7 cm por dia
Detalhe do crescimento acelerado de caruru palmer que pode chegar a 7 cm por dia

A associação de mais de um método de controle do caruru-palmeri aumenta significativamente a eficácia de manejo e traz benefícios a médio e longo prazo. O manejo integrado, em que se faz a associação de diferentes práticas, tem por objetivo obter alta eficácia de controle do caruru-palmeri resistente a herbicidas, uma vez que proporcionam melhor controle, além de dificultar o estabelecimento e, consequentemente, a reprodução das plantas daninhas na cultura e a médio e longo prazo, oferecendo maior sustentabilidade a atividade agrícola.

Em resumo, o controle de caruru-palmeri é recomendado principalmente em fases iniciais de crescimento da planta daninha, dado seu alto potencial competitivo com as culturas, e maior suscetibilidade aos herbicidas, evitando-se assim as perdas por mato-competição precoce. O controle da espécie também se faz ao longo do ciclo da cultura, a fim de evitar escapes e, consequentemente, a produção de sementes pela planta daninha. O desenvolvimento de práticas de manejo que integram o uso sustentável de herbicidas, além de implementação adequada de métodos não químicos para sistemas de cultivos afetados pelo caruru-palmeri devem, portanto, ser prioridade, para o sucesso de manejo tanto na safra atual, como nas subsequentes.


Acácio Gonçalves Netto, Pedro Jacob Christoffoleti e Marcelo Nicolai, ESALQ/USP


Artigo publicado na edição 211 da Cultivar Grandes Culturas.

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