Controle de plantas daninhas em soja

Época de semeadura, densidade, condições ambientes e comportamento de cultivares são fatores importantes para evitar plantas daninhas

10.03.2020 | 20:59 (UTC -3)

Daninhas limitam a produtividade da soja, pois competem por água, luz, e nutrientes, são hospedeiras de patógenos, dificultam a colheita e interferem em características morfológicas, como a altura das plantas. Época de semeadura, densidade, condições ambientes e comportamento de cultivares também são aspectos importantes neste contexto. 

A cultura da soja apresenta grande sensibilidade à interferência de daninhas, causadoras de severos danos ao desenvolvimento das plantas. Isso ocorre principalmente por competirem por recursos existentes no meio, serem hospedeiras de agentes causadores de doenças, liberarem substâncias alelopáticas e prejudicarem os processos de colheita.

A redução na produtividade da cultura pela presença de plantas daninhas ocorre devido à competição por recursos do meio como água, nutrientes e luz, além de favorecerem alterações morfológicas nas plantas cultivadas. Dessa forma, infere-se que as culturas tendem a incrementar altura quando se encontram sob competição, como uma forma de se sobressaírem sobre as demais plantas presentes para que possam maximizar a captação de radiação solar.

A semeadura da cultura da soja em diferentes épocas também pode acarretar modificações na altura de planta. Porém, a densidade de semeadura é outro fator que influencia nessa variável, pois quanto maior a densidade, maior será a altura final da planta. Características das atuais cultivares de soja fazem com que se sobressaiam na competição com espécies infestantes, dentre as quais a rápida emergência e a boa cobertura do solo no período da fase vegetativa.

Nos estudos de interferência das plantas daninhas, três períodos são considerados importantes: período anterior à interferência (PAI), período total de prevenção à interferência (PTPI) e período crítico de prevenção à interferência (PCPI). O PAI situa-se entre os dez e os 33 dias após a emergência da soja. É a época de maior importância para o manejo de plantas daninhas, período onde deve haver medidas eficientes de manejo, a partir do qual o rendimento da cultura é significativamente afetado.

Com o objetivo de avaliar a altura e a produtividade de três cultivares de soja, submetidas a épocas de semeadura, e a convivência ou não com plantas daninhas voluntárias durante todo o ciclo, foi conduzido um trabalho no município de Frederico Westphalen, Rio Grande do Sul, no campus da Universidade Federal de Santa Maria, no ano agrícola 2013/2014. Foram empregadas três épocas de semeadura da soja (15 de outubro, 15 de novembro e 15 de dezembro), utilizadas para simular os diferentes períodos adotados no campo. A dimensão das parcelas experimentais foi de cinco linhas de três metros de comprimento espaçadas a 45cm. Realizou-se adubação de acordo com os resultados da análise de solo da área experimental. As cultivares de soja e suas principais características são apresentadas na Tabela 1.

Simultaneamente foram implantadas as cultivares em suas respectivas épocas, uma área na presença e outra na ausência, de plantas daninhas voluntárias. Nos tratamentos com convivência de plantas daninhas, não foi realizado nenhum tipo de controle químico ou mecânico. Apenas a cultura conviveu com o crescimento voluntário de espécies daninhas durante todo o período de cultivo. Já os tratamentos sem o convívio receberam controle químico durante todo o cultivo, para que não houvesse competição entre espécies. A avaliação de altura foi realizada aos 45 dias após cada data de semeadura, data escolhida por ser logo após o período anterior à interferência (PAI), avaliando quatro plantas aleatórias no centro de cada parcela, com auxílio de uma régua graduada em centímetros.

A colheita das plantas foi realizada após os grãos atingirem a maturação, sendo que a produtividade de grãos foi determinada pela coleta das plantas contidas nas três linhas centrais de cada parcela, totalizando uma área útil de 1,35m². Após a trilhagem manual, os grãos foram pesados e os dados transformados em kg/ha a 13% de umidade.

A produtividade de grãos da cultura da soja, de maneira geral, foi maior na ausência de plantas daninhas. Na época de semeadura de 15 de outubro, esta tendência pode não ter sido observada, devido ao banco de sementes das invasoras ser baixo, a ponto de não comprometer a variável analisada.

As cultivares BMX Tornado RR e TEC 7849 Ipro apresentaram produtividade superior na ausência de espécies daninhas, comportamento não observado na cultivar TEC 5718 Ipro. Estes resultados corroboram com Vazquez, et al (2014), que encontraram resposta diferenciada na produtividade de soja de acordo com a cultivar usada, e do uso ou não de herbicidas. Na comparação entre cultivares sem a presença de plantas daninhas, a BMX Tornado RR demostrou resultados superiores às demais cultivares.

Na Tabela 3, onde se apresentam dados de altura de planta, a cultivar BMX Tornado RR na época de semeadura de 15 de novembro apresentou valores superiores às outras duas épocas, tanto no tratamento com convivência de plantas infestantes, quanto na ausência. Na data de 15 de outubro, com convivência das plantas daninhas a altura foi maior (43,32cm) comparado à presença (39,00cm), para a mesma cultivar. Estudos comprovam que as plantas tendem a incrementar a altura em convivência com plantas invasoras devido à diminuição da qualidade da luz, para assim se sobressair sobre as plantas daninhas. Isto é uma aclimatação relativa à competição das plantas (Jensen et al, 1998).

Na semeadura do dia 15 de dezembro para a cultivar TEC 5718 Ipro, observa-se a superioridade desta época de semeadura sobre as demais, porém com pequenas diferenças entre as épocas, no tratamento com daninhas. Para a primeira época (15 de outubro), o tratamento sem daninhas desta cultivar foi superior ao tratamento com plantas daninhas.

A cultivar TEC 7849 Ipro apresentou uma maior estatura nos tratamentos com a ausência de daninhas nas semeaduras de outubro e dezembro. Na semeadura de novembro, a cultivar atingiu 54,33cm com a presença de plantas daninhas, sendo superior ao tratamento sem daninhas. Comparando somente o cultivo com a presença de plantas infestantes desta cultivar, as plantas de soja com maior altura foram detectadas na época de 15 de novembro. A data de semeadura de 15 de dezembro está próxima da época de recomendação dessa cultivar, e por se caracterizar por porte alto e crescimento indeterminado, este tratamento sem a presença de plantas daninhas obteve a altura de 63,33cm

No mês de janeiro a precipitação foi de 246,4mm, o que favoreceu o cultivo, porém em fevereiro a chuva foi de apenas 16,2mm, o que afetou o experimento. Este fator também pode ter influenciado na resposta das cultivares, principalmente pela competição entre as espécies daninhas e a soja pela pouca água disponível no mês de fevereiro.

A presença ou a ausência de plantas infestantes faz com que a cultura da soja responda diferencialmente em cada situação, podendo não expressar seu máximo potencial produtivo, modificando assim suas características morfológicas como a altura de planta. Porém, a época de semeadura é de suma importância na condução da cultura, por isso devem ser observados o zoneamento e o ciclo de cada cultivar. Também é preciso considerar as condições ambientais a que serão expostas as plantas, uma vez que todos estes fatores podem interferir no desenvolvimento da cultura da soja.

Figura 1. Cultivares de soja submetidas ao convívio de plantas daninhas. Frederico Westphalen/RS, 2014.
Figura 1. Cultivares de soja submetidas ao convívio de plantas daninhas. Frederico Westphalen/RS, 2014.
Figura 2. Medição da altura de plantas de soja. Frederico Westphalen/RS, 2014.
Figura 2. Medição da altura de plantas de soja. Frederico Westphalen/RS, 2014.
Figura 3. Diferentes épocas de semeadura de soja na ausência de plantas daninhas. Frederico Westphalen/RS, 2014.
Figura 3. Diferentes épocas de semeadura de soja na ausência de plantas daninhas. Frederico Westphalen/RS, 2014.


Thaise Dieminger Engroff (Curso de Agronomia/ UFSM, Frederico Westphalen - RS); Braulio Otomar Caron (Curso de Agronomia/UFSM, Frederico Westphalen – RS); Ana Paula Rockenbach (Pós-graduação em Agronomia, Agricultura e Ambiente/UFSM, Frederico Westphalen – RS); Elvis Felipe Elli (Curso de Agronomia/UFSM, Frederico Westphalen – RS); Elder Eloy (UFPR, Curitiba - PR); Luciano Schievenin (Curso de Agronomia/UFSM, Frederico Westphalen - RS)


Artigo publicado na edição 198 da Cultivar Grandes Culturas.

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