Controle de pragas em soja

Ao adotar medidas de controle é preciso estar atento ao estádio fenológico da planta, condições ambiente, nível de dano e momento da aplicação de fungicidas

14.05.2020 | 20:59 (UTC -3)

Entre as pragas que afetam a cultura da soja, percevejos se destacam como sérios causadores de problemas. Ao adotar medidas de controle é preciso estar atento a diversos aspectos, como o estádio fenológico da planta, condições do ambiente, nível de dano e momento da aplicação de fungicidas.

O manejo da cultura da soja está cada vez mais aprimorado. A cada dia que passa tem-se um maior conhecimento a respeito das cultivares, época de semeadura, plantabilidade, adubação, calagem, inoculação, dentre outras práticas que cercam os fatores construtores da produtividade da cultura. Com isso, em alguns pontos há o manejo consolidado, contudo em outros existem lacunas que fazem com que toda a produtividade teórica construída possa estar ameaçada por ausência de intervenções que protejam a produtividade. Nesse caso, o manejo fitossanitário no que diz respeito aos insetos-praga deve estar sempre buscando aliar um manejo integrado que possa reduzir a pressão de pragas e manter a produtividade.

Cada produtor possui uma estratégia no combate de insetos-praga, contudo alguns parâmetros devem ser levados em consideração, como, por exemplo, qual inseto-praga pode causar ou já está provocando o maior prejuízo. É preciso analisar se ao longo das safras essa praga é reconhecida como a principal e se sempre causa os principais danos. Também não descuidar do nível de dano econômico para que seja realizado o manejo dos insetos-praga. É importante ainda o estádio em que a planta se encontra em relação a presença dos insetos-praga e a eficiência de cada inseticida em relação a praga alvo e as condições do clima. Sobre as condições climáticas (ambiente) são necessários cuidados com as condições favoráveis ao desenvolvimento das pragas e circunstâncias do ambiente para a aplicação dos inseticidas, bem como as condições de estresse da planta.

Anualmente existe um grande conjunto de cultivares de soja que estão disponíveis no mercado de sementes sendo recomendados para cada local. Naturalmente as que mais se adaptam e são as mais produtivas permanecem mais tempo no mercado de sementes e as outras são substituídas. Com isso a oferta de cultivares é variável ano a ano, mas ao longo dos tempos percebe-se que existe uma maior preferência por parte dos agricultores pelas cultivares que possuem um ciclo mais curto, são produtivas, com boa resistência a estresses ambientais e bióticos. Com a escolha por cultivares de ciclo mais curto, algumas característica passam a ser assumidas como a redução da área foliar da planta e algumas vezes a área por folha. Isso faz com que cada folha passe a ter um papel cada vez mais importante dentro da planta, pois é a responsável por sustentar (ser fonte) para um conjunto de vagens/grãos (dreno). Nesse sentido, cada cultivar tem uma área foliar limite (mínima e máxima) em que a produtividade de grãos está baseada sempre considerando o ambiente onde essa cultivar está inserida.

Aspecto rendilhado em folha de soja provocado pelo ataque da lagarta-falsa-medideira.
Aspecto rendilhado em folha de soja provocado pelo ataque da lagarta-falsa-medideira.

O ideal é que os insetos-praga não interferissem sobre a área foliar da soja, mas esse manejo nem sempre é possível. Verifica-se que existe uma capacidade da planta em suportar o dano causado pelos insetos sem que isso interfira na produtividade dos grãos. Ou seja, a planta possui uma capacidade compensatória que em função de sua área foliar (que é maior ao seu valor crítico mínimo naquele ambiente) pode compensar eventuais danos. Contudo, existem danos econômicos na agricultura. Por isso deverá existir um equilíbrio econômico em relação a produtividade e o rendimento econômico da lavoura. A partir de determinados valores de danos, para algumas pragas (ou conjunto delas), deve-se adotar ações de controle para reduzir a presença e consequentemente o seu dano.

Na Figura 1 estão representados os níveis de ação para as principais pragas da soja. As informações são apresentadas pela Embrapa, 2011. Ao adotar os níveis de controle indicados na Figura 1, deve-se levar em consideração itens como questões econômicas, mudança nas cultivares e nas reações das cultivares à perda de área foliar. Isso faz com que o manejo adotado possa variar conforme os objetivos de cada produtor de soja. 


Figura 1. Recomendação de manejo para o controle de pragas na cultura da soja conforme cada estádio fenológico e cada praga. Figura adaptada por Thomas Martin
Figura 1. Recomendação de manejo para o controle de pragas na cultura da soja conforme cada estádio fenológico e cada praga. Figura adaptada por Thomas Martin

Nesse sentido, buscou-se realizar um levantamento dos insetos-praga em 48 cultivares de soja, semeadas em Santa Maria na safra 2015/2016. As parcelas experimentais continham cinco fileiras espaçadas 0,5m com 7,75m de comprimento e três repetições. As batidas de pano foram realizadas em cada parcela. Uma das três repetições sempre antecedendo as aplicações de inseticidas, conforme a Figura 2. O manejo da cultura seguiu as recomendações da Embrapa para altos tetos produtivos. As cultivares de soja avaliadas estão descritas na Tabela 1.

Verifica-se que ao considerar-se o nível mínimo estabelecido (Figura 1) nas 111 parcelas (37 cultivares), 40% necessitaria a aplicação imediata para o controle do percevejo no caso de produção de grãos. Para as três avaliações verificou-se que na primeira época de cultivares semeadas houve uma variação de 34% a 47%, no caso da produção de grãos. Já para a produção de sementes o número de parcelas praticamente dobrou. A segunda época de semeadura de cultivares de soja estabeleceu que para a produção de grãos a necessidade da realização de aplicações era de apenas 2%, mas para a produção de semente esse índice variou de 17% a 71%, conforme as avaliações realizadas. Percebe-se também que os problemas com percevejo aumentam de acordo com a evolução da cultura para estádios mais adiantados, devido às condições climáticas favorecendo o desenvolvimento da população de percevejos. Verifica-se também que o percentual de parcelas com problemas com lagartas em ambas as épocas de semeadura foi zero.  Com o alerta realizado pela elevada populações de percevejos foram adicionados produtos destinados ao controle de lagartas (evitando assim uma aplicação exclusiva para lagartas) o que manteve esses insetos pragas em níveis baixos. 

Dessa forma, percebe-se nas condições do experimento que o principal problema presente na safra de 2015/2015 no que se refere a insetos-praga esteve restrito aos percevejos que atingiram os limites superiores para a produção de grãos e sementes de soja. Essa verificação ocorreu somente na área experimental avaliada. O manejo para as lagartas permitiram que o inseto permanecesse em níveis abaixo dos níveis críticos que justificassem um controle exclusivo. Certamente existe uma variabilidade de condições no estado do Rio Grande do Sul. Verificou-se que pela disposição das cultivares não foi possível perceber preferência dos insetos-praga em relação às cultivares estudadas.

Figura 2. Momento de realização das avaliações, aplicação de inseticidas e tempo entre as aplicações. Figura: Thomas Martin
Figura 2. Momento de realização das avaliações, aplicação de inseticidas e tempo entre as aplicações. Figura: Thomas Martin

Pragas encontradas no experimento

Entre as pragas encontradas no experimento de competição de cultivares de soja, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul está a lagarta preta (Spodoptera cosmioides). Este inseto é uma espécie polífaga de hábito desfolhador, que alimenta-se também de vagens (fase reprodutiva da cultura), danificando os grãos.

Outra praga presente é a lagarta- falsa- medideira (Chrysodeixis (=Pseudoplusia) includens ). Pode atacar tanto simultaneamente à lagarta da soja como posteriormente. Consome as folhas deixando um aspecto rendilhado.

Outro inseto encontrado no experimento foi o percevejo-barriga-verde( Dichelops melacanthus e Dichelops furcatus). Atacam preferentemente vagens e grãos. Dichelops furcatus é mais comum no sul do Brasil enquanto Dichelops melacanthus  ocorre mais no norte do Paraná e centro Oeste.

Percevejos sugam a seiva da planta atacando hastes, brotações e vagens (grãos). Durante o ataque injetam toxinas podendo causar a retenção foliar (“soja louca”). Os grãos, após o ataque, ficam manchados e/ou chocos.

Por sua vez o percevejo pequeno  (Piezodorus guildinii)  ataca preferencialmente durante o florescimento, mas geralmente atinge o pico populacional antes dos demais percevejos.

Comparativamente é o que causa a maior lesão à cultura da soja.

O Idiamin ou lagria (Lagria villosa) foi outro inseto detectado no experimento em Santa Maria, no Rio Grande do Sul.  Seu ataque se dá preferencialmente  no desenvolvimento vegetativo, tendo hábito desfolhador.

O percevejo-asa-preta (Edessa meditabunda) tem por  época preferencial de ataque o início da fase reprodutiva, quando a ofensiva deste inseto é intensificada. A praga suga a seiva de ramos e vagens. Também pode favorecer o aparecimento da “soja louca” pela ingestão de toxinas nas plantas.

O percevejo chinavia  (Chinavia Orian) costuma atacar no final do período vegetativo e início do período reprodutivo.  São polifagos e considerados pragas secundárias.

A vaquinha verde  (Diabrotica speciosa) tem registrado surtos populacionais , possivelmente relacionados com desiquilíbrios ecológicos. Os adultos atacam as folhas, preferencialmente as mais novas, mas podem atacar brotos, flores e pólen. As larvar podem afetar as raízes e reduzir a nodulação.


Tiago Lovato Colpo, Evandro Ademir Deak, UFSM; Ana Lucia de Paula Ribeiro, IFFarroupilha - São Vicente do Sul; Thomas Newton Martin, UFSM


Artigo publicado na edição 204 da Cultivar Grandes Culturas.

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