Controle eficiente da antracnose na manga

A antracnose, causada por Colletotrichum gloeosporioides, tem poder de fogo para provocar sérios prejuízos à cultura da manga

08.06.2016 | 20:59 (UTC -3)

O mercado da manga mostra-se altamente promissor, tanto no cenário interno quanto em relação às exportações. Entretanto, um fator limitante refere-se aos problemas de ordem fitossanitária, com destaque às doenças fúngicas. Nesse contexto, a antracnose, causada por Colletotrichum gloeosporioides, dentre outras espécies, tem importância relevante dada a elevada incidência e severidade, o que eleva significativamente o custo de produção e limita a obtenção de produtos de alta qualidade.


Sintomas da antracnose mostram-se presentes em flores, panículas, ramas, folhas e frutos, sendo estes últimos afetados em todos os estádios de desenvolvimento (Ploetz, 1994).

Considerando a importância do patógeno C. gloeosporioides na cultura da manga, especialmente nas regiões com chuvas frequentes nos meses de primavera e verão, um experimento foi desenvolvido com o objetivo de avaliar a eficiência dos fungicidas do grupo químico de estrobilurinas, benzimidazóis e ftalimida no controle da antracnose em mangas da variedade Palmer, sob condições de campo.

O experimento foi executado em pomar comercial localizado em Taquaritinga/São Paulo, com plantas de seis anos de idade, espaçamento 8m x 4m, e densidade de 312 plantas/ha. A área apresentava histórico regular de ocorrência da doença nos anos anteriores, implicando em emprego de dezenas de pulverizações com fungicidas.

Os tratamentos avaliados foram os seguintes: (I) pyraclostrobin; (II) tiofanato metílico; (III) folpet e; (IV) Testemunha. Adotou-se delineamento de blocos ao acaso, com cinco repetições e uma planta por parcela. As aplicações foram realizadas em 14/12/12 e 29/12/12; 09/1/13, 21/1/13 e 29/1/13; e em 02/2/13. Foram realizadas seis pulverizações entre os meses de dezembro de 2012 e fevereiro de 2013, cuja pulverização deu-se com pulverizador tratorizado, compressão de 180Lb/pol², utilizando 1.000L calda/ha. Previamente às pulverizações a área recebeu 12 aplicações com fungicidas protetores e, em condições de elevada umidade, fungicidas sistêmicos, iniciadas na fase de florescimento das plantas, os quais mostraram-se altamente eficientes, com ausência de sintomas na fase inicial de implantação do experimento e em 25 frutos ensacados, colhidos e avaliados na colheita e em pós-colheita.

As avaliações consistiram na determinação da severidade de sintomas mediante emprego de escala de notas que variaram de: 0 – ausência de sintomas; 1- até três lesões por fruto; 2- de quatro a dez lesões por fruto e; 3- mais de dez lesões por fruto, conforme adotado por Dodd et al (1991), citado por Akhatar & Alam (2002), com modificação. A partir de tais dados foi determinado o Índice de Doença (ID), aplicando-se a fórmula de Wheeler (1969), sendo: ID = índice de doença; N = número total de frutos avaliados; i = nota da doença, ni = número de frutos com nota i; m = nota máxima.

Os dados obtidos foram avaliados mediante análise de variância, comparação de médias pelo teste de Tukey, empregando-se o programa SAS.

Resultados

Nas avaliações realizadas na fase pré-implantação, não foi detectada a presença de antracnose nos frutos.

Na primeira avaliação, realizada em frutos não ensacados e tratados com fungicidas, não foi observada diferença significativa entre os tratamentos (Tabela 1). Entretanto, na segunda avaliação, realizada em 26/2, observou-se diferença significativa entre os tratamentos (P ≤ 0,05), com destaque para folpet e pyraclostrobin, que apresentaram menor índice de doença que os demais tratamentos.

Tabela 1 - Efeito de fungicidas pertencentes a diferentes grupos químicos no controle da antracnose causada por Colletotrichum gloeosporioides em manga da variedade Palmer, expresso em Índice de doença (ID). Avaliação em pré-colheita, em frutos não ensacados

Tratamentos

Fungicida

Dosagem (kg ou L/ha)

Datas das avaliações/ID

26/01/2013

12/02/2013

1

Pyraclostrobin

0,4

0,20

0,26 a

2

Tiofanato metílico

3

0,54X

0,41 bc Y

3

Folpet

4

0,32

0,14 a

4

Testemunha

-

0,54

0,97 c

Tratamentos

Fungicida

Dosagem (kg ou L/ha)

Datas das avaliações/ID

26/01/2013

12/02/2013

1

Pyraclostrobin

0,4

0,20

0,26 a

2

Tiofanato metílico

3

0,54X

0,41 bc Y

3

Folpet

4

0,32

0,14 a

4

Testemunha

-

0,54

0,97 c

XValores determinados conforme fórmula de Wheller (1969). Y Médias seguidas pela mesma letra nas colunas não diferem estatisticamente entre si (Tukey, P≥0,05).

Nas avaliações realizadas na fase de pós-colheita observou-se que os fungicidas folpet e pyraclostrobin foram estatisticamente diferentes em relação à testemunha e tiofanato metílico (Tabela 2). Entretanto, entre folpet e pyraclostrobin não foi observada diferença significativa, sendo ambos altamente eficientes no controle da doença. O nível de severidade de sintomas, no caso da testemunha, foi mais elevado, independentemente se os frutos forem mantidos sem ensacamento (porém pulverizados com fungicidas), ou quando ensacados (não pulverizados).

Tabela 2 - Efeito de fungicidas pertencentes a diferentes grupos químicos no controle da antracnose causada por Colletotrichum gloeosporioides em manga da variedade Palmer, expresso em Índice de doença (ID). Avaliação em pré-colheita, em frutos não ensacados

Tratamentos

Fungicida

Dosagem (kg ou L/ha)

Datas das avaliações/IDX

16/02/2013

20/02/2013

1

Pyraclostrobin

0,4

0,12 a

0,36 a

2

Tiofanato metílico

3

0,52 bY

1,15 bcY

3

Folpet

4

0,07 a

0,20 a

4

Testemunha

-

0,59 b

1,43 b

Tratamentos

Fungicida

Dosagem (kg ou L/ha)

Datas das avaliações/IDX

16/02/2013

20/02/2013

1

Pyraclostrobin

0,4

0,12 a

0,36 a

2

Tiofanato metílico

3

0,52 bY

1,15 bcY

3

Folpet

4

0,07 a

0,20 a

4

Testemunha

-

0,59 b

1,43 b

XValores determinados conforme fórmula de Wheller (1969). Y Médias seguidas pela mesma letra nas colunas não diferem estatisticamente entre (Tukey, P ≥ 0,05).

Posteriormente, nas avaliações subsequentes, no caso dos frutos ensacados, não foi observada diferença estatisticamente significativa entre os tratamentos (P ≥ 0,05), independentemente da avaliação realizada (Tabela 3). Tais resultados são indicações de que, quando da implantação do experimento, o controle fitossanitário com vistas ao combate da antracnose nos frutos mostrava-se adequado, redundando em frutos sadios na colheita, quando precedido do ensacamento dos frutos.

Assim sendo, pode-se observar que folpet e pyraclostrobin foram eficientes no controle da doença, tanto nas fases que precederam a colheita, quando até pelo menos dez dias após a colheita. O fungicida tiofanato metílico, amplamente utilizado no controle da doença, mostrou eficiência intermediária.

Os resultados obtidos no presente estudo, além de demonstrar a eficiência de controle da antracnose mediante emprego de fungicidas de diferentes grupos químicos, constitui também em alternativa importante ao manejo da antracnose da manga, possibilitando o rodízio de produtos, minimizando os riscos de resistência dos patógenos aos agroquímicos utilizados, conforme preconizado por Brent (1995).

Tabela 3 - Efeito de fungicidas pertencentes a diferentes grupos químicos no controle da antracnose causada por Colletotrichum gloeosporioides em frutos de manga da variedade Palmer, expresso em Índice de doença (ID). Jaboticabal/SP, 2013. Avaliação em pós-colheita, em frutos ensacados

Tratamentos

Fungicida

Dosagem (kg ou L/ha)

Datas das avaliações/IDY

26/01/2013

16/02/2013

1

Pyraclostrobin

0,4

0,18

0,66

2

Tiofanato metílico

3

0,33X

1,15

3

Folpet

4

0,30

0,20

4

Testemunha

-

0,59

1,43

Tratamentos

Fungicida

Dosagem (kg ou L/ha)

Datas das avaliações/IDY

26/01/2013

16/02/2013

1

Pyraclostrobin

0,4

0,18

0,66

2

Tiofanato metílico

3

0,33X

1,15

3

Folpet

4

0,30

0,20

4

Testemunha

-

0,59

1,43

XValores determinados conforme fórmula de Wheller (1969). YID – Índice de doença.

Atualmente, no Brasil, são poucos os fungicidas registrados para a cultura da manga, o que, dado seu emprego de forma regular e sequencial, culmina no aumento da pressão de seleção de patógenos, tornando o controle de determinados agentes cada vez mais ineficiente por conta do incremento da população resistente ou insensível a esses fungicidas. Dessa forma, para as regiões de cultivo da manga onde há prevalência de condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento da doença, como no presente caso, há a necessidade do emprego de dezenas de pulverizações com fungicidas. Problema que poderá ser agravado, tornando os fungicidas ineficientes e obsoletos, acompanhados por elevados prejuízos.

Deve-se ressaltar ainda que as aplicações dos fungicidas no caso de controle da antracnose devem focar principalmente os frutos e inflorescências, por conta de sua suscetibilidade. Práticas culturais que minimizem a fonte de inóculo são também fundamentais (Jeffries et al, 1990).

Confira o artigo na edição 85 da revista Cultivar Hortaliças e Frutas.

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