Controle por microbiolização

​A brusone é uma doença extremamente agressiva na cultura do arroz, responsável por perdas de até 100% em situações de incidência severa

30.05.2016 | 20:59 (UTC -3)

A brusone é uma doença extremamente agressiva na cultura do arroz, responsável por perdas de até 100% em situações de incidência severa. A busca por estratégias como o uso de bactérias microbiolizadas em sementes surge como alternativa para aumentar as opções de manejo integrado, melhorar o desenvolvimento inicial de plantas e reduzir a severidade do patógeno nas folhas.

Em todas as fases do seu desenvolvimento, o arroz está sujeito a estresses bióticos e abióticos. Entre os bióticos destacam-se as doenças que reduzem a produtividade e a qualidade dos grãos, sendo a brusone a principal delas. Causada pelo fungo Magnaporthe oryzae (Pyricularia oryzae – anamorfo), a brusone é a doença mais significativa no Brasil e no mundo, ocorrendo em todo o território nacional. Na região Centro-Oeste, onde predomina o sistema de cultivo de terras altas e condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento da doença, os prejuízos são maiores, podendo ocorrer perdas em 100%, dependendo da cultivar e das condições de cultivo. A resistência genética é considerada a estratégia mais econômica e ecologicamente correta para minimizar as perdas causadas pela doença em plantas de arroz. Contudo, o controle da brusone é realizado por meio de agroquímicos, que nem sempre são específicos ao patógeno. A eficácia da proteção de plantas está ligada ao tipo de fungicida utilizado, do intervalo de aplicação, do número de aplicações, do tempo de aplicação, das misturas utilizadas e da qualidade e tecnologia da aplicação. O fungicida utilizado deve ser tóxico apenas ao patógeno-alvo e de baixo impacto ambiental.

Estudos realizados na Embrapa Arroz e Feijão, em 2011, para testar o efeito de quatro fungicidas em fungos não alvo do filoplano do arroz, constataram que, dos fungicidas testados, dois reduziram a severidade de brusone nas panículas e apenas um apresentou certo grau de seletividade ao patógeno, não afetando o desenvolvimento de fungos não alvo na folha. Assim, há necessidade de integração de métodos de controle, o manejo integrado. Este manejo objetiva reduzir a população do patógeno em níveis toleráveis, sem causar danos econômicos à cultura, mediante a adoção de um conjunto de medidas preventivas, de maneira não isolada. O principal componente do manejo é a resistência genética da cultivar, seguidos do controle químico, das práticas culturais e, mais recentemente, do controle biológico. O interesse pelo controle biológico tem aumentado recentemente com o intuito de encontrar outras opções além do controle químico. Com o objetivo de avaliar sintomas de brusone e desenvolvimento inicial em plantas de arroz, sementes da cultivar Primavera foram microbiolizadas com bactérias previamente isoladas da rizosfera de arroz (R235 e R46) e de eucalipto (RE1 e RE8). A microbiolização de sementes foi realizada mantendo as sementes imersas em suspensão bacteriana por 24 horas sob agitação constante. Posteriormente, as sementes foram submetidas à secagem em temperatura ambiente por 24 horas e depois semeadas em vasos (Figura 1) contendo 8kg de solo peneirado e adubado na proporção de 350kg/ha da fórmula N-P-K (05-30-15). Para fins de controle, sementes não microbiolizadas também foram semeadas, sendo parte dos tratamentos inoculados com água. Para o desenvolvimento da brusone, após abertura da terceira folha, foi realizada inoculação com suspensão de conídios de M. oryzae 3x105 conídios.ml-1. O experimento totalizou 10 tratamentos, sendo eles: T1) sementes não microbiolizadas inoculadas com M. oryzae; T2) sementes não microbiolizadas inoculadas com água; T3) sementes microbiolizadas com R46 inoculadas com água; T4) sementes microbiolizadas com RE8 inoculadas com água; T5) sementes microbiolizadas com RE1 inoculadas com água; T6) sementes microbiolizadas com R235 inoculadas com água; T7) sementes microbiolizadas com R46 inoculadas com M. oryzae; T8) sementes microbiolizadas com RE8 inoculadas com M. oryzae; T9) sementes microbiolizadas com RE1 inoculadas com M. oryzae; e T10 sementes microbiolizadas com R235 inoculadas com M. oryzae. Seguidos nove dias da inoculação, foi realizada avaliação de brusone nas folhas e coletadas três plantas por vaso de cada tratamento. Foram mensuradas a partir do colo até o ápice da maior folha para avaliar desenvolvimento das plantas e os dados submetidos à análise de variância.

As análises realizadas evidenciaram a ocorrência de interação negativa entre tamanho de plantas e severidade de brusone nas folhas (BF) quando as sementes foram microbiolizadas com rizobactérias (Figura 2A), ou seja, quanto maior a severidade da brusone, menor foi o tamanho das plantas. Outro resultado evidenciado pela análise de variância foi uma diferença significativa entre os tratamentos indicando que o tamanho das plantas foi influenciado pela presença das rizobactérias R46 (da rizosfera de arroz) e RE8 (da rizosfera de eucalipto), variação observada pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade (Figura 2B). A análise de variância para severidade de brusone na folha mostrou diferenças estatísticas de todos os tratamentos em relação à testemunha inoculada (T1), com CV = 20,81% (Figura 3). O isolado R46 reduziu 33% a severidade de brusone nas folhas, seguido do isolado RE8 (20%), também aumentou o tamanho das plantas em 42% e 31%, respectivamente, quando comparados com a testemunha. Estudos para a identificação destas bactérias estão sendo realizados pela Embrapa Arroz e Feijão, bem como a utilização destes isolados bacterianos no controle de outros patógenos do arroz e também no desenvolvimento de plantas e controle de doenças em outras culturas. Estes resultados indicam que a utilização de bactérias via microbiolização de sementes é uma boa alternativa para o desenvolvimento inicial de plantas de arroz além de reduzir significativamente a severidade de brusone nas folhas. Esta prática pode reduzir o uso de agroquímicos na cultura, uma vez que seja introduzida no manejo integrado da doença.

Figura 1 - Plantas de arroz antes da inoculação (A) e após a inoculação (B)

Figura 2 - Severidade de brusone nas folhas nos tratamentos 2 - sementes não microbiolizadas inoculadas com água (A), 7 - sementes microbiolizadas com R46 inoculadas com M. oryzae (B); 8 - sementes microbiolizadas com RE8 inoculadas com M. oryzae (C), em relação aos tratamentos e 1 - sementes não microbiolizadas inoculadas com M. oryzae (D)

Arroz

O arroz (Oryza sativa) é alimento básico para cerca da metade da população mundial, sendo o produto de maior importância econômica em muitos países em desenvolvimento. Estimativas indicam que até 2050, a produção deverá ser dobrada para atender a demanda da população e a América Latina e a África sobressaem-se por serem as únicas regiões com potencial para a produção de arroz com capacidade para atender o crescimento do consumo pela população. Destaca-se pela adaptabilidade aos mais diversos ecossistemas, pela amplitude de área ocupada, assim como pela sua produtividade, tanto no Brasil quanto no mundo.

Este artigo foi publicado na edição 182 da revista Cultivar Grandes Culturas. Clique aqui para ler a edição.

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