Cuidados com o preparo reduzido do solo em cana

Ao mesmo tempo que apresenta vantagens, preparo reduzido do solo em cana pode favores infestação de daninhas, exigindo cuidados específicos no método

28.05.2020 | 20:59 (UTC -3)

Ao mesmo tempo em que apresenta inúmeras vantagens do ponto de vista conservacionista e de diminuição de custos, o preparo reduzido do solo, através da dessecação e subsolagem das áreas de cultivo de cana possui o inconveniente de favorecer intensa infestação de plantas daninhas. O emprego de herbicidas pré emergentes é uma ferramenta importante para auxiliar no manejo deste  problema. Contudo, o produtor precisa estar atento à correta escolha do produto e à época mais adequada para a aplicação.

O preparo de solo é etapa de fundamental importância no processo produtivo de cana-de-açúcar. Tradicionalmente contempla uma sequência de operações mecanizadas que tem por finalidade garantir condições adequadas à implantação e desenvolvimento da cultura em seu novo ciclo de cultivo.

Entretanto, trata-se de um conjunto de atividades extremamente onerosas para os produtores, que constituem fatia importante do custo de produção da cultura. Atualmente, o preparo de solo convencional é a modalidade mais comumente adotada pelos canavicultores. 

Entende-se por preparo convencional a sequência de operações que se inicia na dessecação química das soqueiras, seguida pelas gradagens sequenciais (pesada ou intermediária), pela aração da área e por fim, a gradagem niveladora. Estas etapas demandam tratores de alta potência e consequentemente elevado consumo de combustível. Como consequência, o revolvimento do solo deixa-o desestruturado e exposto aos efeitos da chuva e consequentemente suscetível aos efeitos da erosão.

Com o objetivo de reduzir custos e focar em um manejo mais racional e conservacionista dos solos, observa-se nos últimos anos a adoção do preparo de solo reduzido. No método, a sequência de operações mecanizadas de revolvimento do solo é substituída unicamente pela subsolagem após a dessecação da área. Com isso a absorção de água da chuva é favorecida e os restos culturais na superfície do solo são mantidos, fatores que desfavorecem a ocorrência de erosão. 

Nos canaviais submetidos ao preparo reduzido do solo ocorre intensa infestação de plantas daninhas, particularmente no espaço de tempo entre a erradicação da soqueira anterior e a implantação do novo canavial. Devido à ausência das gradagens, neste sistema de preparo, o controle mecânico das invasoras fica comprometido. Com isso, é comum que aplicações de glifosato adicionais àquela realizada para a erradicação da soqueira, sejam demandadas para o manejo das plantas invasoras no canavial. 

Caso não sejam controladas as plantas daninhas, é possível que completem seu ciclo e reinfestem o canavial com sementes, incrementando o banco de sementes no solo e agravando ainda mais o problema para o próximo ciclo de cultivo. A utilização de herbicidas pré-emergentes em sequência ao glifosato configura-se em uma alternativa ao manejo do banco de sementes. As aplicações de manejo devem ser realizadas de preferência anteriormente às plantas daninhas completarem seu ciclo de vida, evitando-se, assim, a chamada chuva de sementes na área.

Entretanto, para garantir a dinâmica dos herbicidas residuais no solo é essencial considerar o porte das plantas daninhas. As espécies não podem estar demasiadamente desenvolvidas para que o herbicida atinja a superfície do solo e comece sua dinâmica. Caso o porte das plantas daninhas esteja muito elevado, pode-se configurar aí uma situação de recobrimento total do alvo da aplicação (plantas daninhas), porém impedir a chegada do herbicida no solo e prejudicar a ação em pré-emergência. Os benefícios trazidos pela utilização dos herbicidas pré-emergentes não serão então, plenamente percebidos em uma situação como esta.

Tomados os cuidados com o ciclo das plantas daninhas, seu porte e recobrimento do alvo da aplicação, deve-se atentar às características físico-químicas dos herbicidas pré-emergentes a serem aplicados, particularmente sua solubilidade. A época do ano e o tempo decorrido entre a aplicação e o plantio da cana-de-açúcar também devem ser levados em conta.

Como a maioria das áreas de cultivo são preparadas na época chuvosa do ano, a utilização de herbicidas de alta solubilidade pode acarretar em perda de efeito residual, devido à movimentação do herbicida no perfil do solo causada pelo excesso de chuvas. O herbicida acaba então ficando posicionado abaixo dos primeiros centímetros de solo, permitindo que as sementes próximas as superfícies germinem e desenvolvam-se. Esta movimentação também pode ser prejudicial à cultura, causando fitotoxicidade, pois tende a deixar o herbicida em contato direto com as plantas de cana-de-açúcar recém-brotadas após o plantio. Assim, em época úmida, herbicidas de baixa solubilidade são mais indicados, tanto em relação ao período residual mais efetivo quanto em relação à segurança para a culura.

Outra característica físico-química para a qual deve-se atentar é a fotodecomposição. Como não há possibilidade de incorporação mecânica do herbicida ao solo através do uso de grade niveladora, os herbicidas pré-emergentes que melhor se encaixam nesta modalidade de uso são aqueles que não sofrem decomposição pela luz solar.

Atento aos pontos citados, o canavicultor pode então fazer a escolha dos produtos e do momento mais adequado para realizar as aplicações de manejo, adequando produto e dose sempre à infestação de plantas daninhas presentes na área e ao tempo decorrido entre a aplicação e o plantio.

No preparo reduzido do solo a sequência de operações mecanizadas do revolvimento do solo é substituída unicamente pela subsolagem após a dessecação da área.
No preparo reduzido do solo a sequência de operações mecanizadas do revolvimento do solo é substituída unicamente pela subsolagem após a dessecação da área.


Fábio César Rodrigues do Amaral, Carlos Alberto Mathias Azania, IAC


Artigo publicado na edição 204 da Cultivar Grandes Culturas.

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