Curral sem estresse

A utilização de currais planejados e adequados pode diminuir a necessidade de mão-de-obra para práticas corriqueiras, como a vacinação.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A extensão territorial brasileira assim como também o solo, clima e variedades forrageiras desenvolvidas pelas empresas de pesquisa e de extensão nacionais, garantem estimativas muito promissoras para o potencial produtivo da nossa pecuária. Contudo, a lição de casa não tem sido bem feita por grande parte dos produtores, uma vez que os índices zootécnicos da bovinocultura são ainda baixos, deixando a desejar na taxa de abate, índices de natalidade e mortalidade, assim como também nas perdas em quantidade e qualidade de produtos, sejam eles carne ou leite.

Mesmo assim, a população bovina e as condições mercadológicas favoráveis garantem ao Brasil o status de maior rebanho comercial mundial e maior exportador de carnes na atualidade.

Ações voltadas à sensibilização e ao aprimoramento dos produtores e colaboradores envolvidos em toda a cadeia de produção poderiam resultar em incrementos produtivos, redução de perdas e maximização de resultados na atividade, fatos que garantiriam maior distribuição de renda entre os segmentos envolvidos e atração de maiores investimentos neste setor produtivo. Torna-se evidente que ações conjuntas coordenadas entre produtores e empresas, assim como também a adoção de melhorias na qualidade da mão de obra, são essenciais para o êxito neste objetivo.

Uma vez ordenada a cadeia produtiva, esta torna-se mais ágil e menos susceptível às barreiras comerciais impostas pelo mercado internacional, o qual vem sinalizando com tendências para a adoção de práticas que visam garantir o respeito ao bem estar dos animais, dentre outras. Não é correto considerar tal condição como uma barreira sem fundamento, uma vez que animais criados ou transportados em condições estressantes apresentam maiores problemas sanitários, perdas por lesões ou hematomas, quedas de produtividade e redução na qualidade final do produto devido a desordens fisiológicas decorrentes do estresse.

Neste sentido, vários profissionais têm buscado identificar os elementos a serem corrigidos e dentre eles destacam-se a seleção por temperamento, o manejo pré-abate e as condições de transporte até o frigorífico.

Ao produtor cabe a atenção especial às condições de manejo dos animais nos currais, os quais normalmente apresentam problemas no seu planejamento e manutenção.

Um curral de manejo adequado a qualquer tipo de atividade deve apresentar uma área útil mínima compatível à maior categoria animal trabalhada e ao maior lote da propriedade, evitando a necessidade de apartações antes mesmo destes animais entrarem no curral (esta condição deve ser considerada principalmente para as propriedades que trabalham a fase de cria). Para vacas com cria ao pé a medida indicada é sempre superior a bovinos adultos em pelo menos 1 m2; para os adultos é indicado cerca de 2 e 3 m2, dependendo do tamanho e da raça.

O formato da instalação é muito importante, devendo-se dar preferência ao modelo circular ou elíptico, os quais não apresentam cantos que permitem o acúmulo de animais no manejo, dificultando a apartação e propiciando a ocorrência de acidentes com os mesmos ou com os funcionários.

Para melhor movimentação, as porteiras deverão estar localizadas nas extremidades das divisas entre as mangas que compõem o curral de manejo, facilitando o encaminhamento de todo o lote e a passagem cadenciada e individual, se necessária uma apartação naquele acesso. Estas devem apresentar preferencialmente ângulo de abertura maior que 180o.

A altura das cercas está vinculada à raça utilizada, sendo indicado para rebanhos de corte no mínimo 1,8 m.

O piso deve ser plano com ligeira inclinação para as áreas externas ao curral, facilitando o escoamento das águas de chuvas. Os locais onde os animais se concentram ou passam com maior freqüência exigem maiores cuidados na sua manutenção, tornando necessária a pavimentação; já os demais poderão estar desprovidos de calçamento, porém devem apresentar boa capacidade de drenagem evitando o acúmulo de água e a formação de lama. Assim, nos currais destinados exclusivamente ao manejo de gado de corte, a pavimentação deve ser aplicada em toda a área de serviço e embarcadouro.

Devido à concentração de animais e aos serviços realizados, a área de serviço do curral de manejo, normalmente composta por seringa, tronco de contenção coletiva, brete de contenção individual, balança e ovo de apartação, deve apresentar dimensionamento e formato adequado à redução de acidentes com os funcionários e animais, fato que pode levar a perdas de tempo de serviço e também de massa muscular por hematomas ou lesões, comumente ocorridas nas operações de vacinação, vermifugação, pesagem ou embarque dos animais.

Segundo avaliações feitas em currais de manejo onde a área de serviço e mangas adjacentes apresentam formato arredondado e cercas delimitadoras totalmente fechadas, verifica-se redução os riscos e perdas efetivas graças a maior tranqüilidade dos animais que passam a circular mais facilmente pela instalação, exigindo menor esforço dos funcionários.

O fechamento das cercas laterais condiciona os bovinos a se movimentarem somente no sentido desejado, não permitindo o desvio da atenção dos mesmos com movimentos externos ao tronco coletivo. Esta eficiência reflete inclusive na economia de mão-de-obra, onde homens são liberados para outras atividades; como exemplo pode ser citada a redução de cinco para três homens na prática da vacinação de bovinos, manejados respectivamente em currais convencionais e do tipo antiestresse.

O fluxo dos bovinos pela área de serviço sofre influência direta da presença de luz, ou seja, se os mesmos encontram-se em uma seringa com grande claridade e estão sendo encaminhados para o tronco coletivo que está ao abrigo da luz ou com projeção de sombra que dificulte a visão dos animais, estes terão dificuldades para se deslocarem no sentido do tronco. Já em situações inversas, ou seja, de um local escuro para outro com claridade, os bovinos deslocam-se com maior facilidade.

Para melhor movimentação dos animais por todos os setores do curral, recomenda-se a construção de um corredor de acesso margeando todas as mangas, cuja largura deve ser no máximo a medida do comprimento das porteiras (cerca de 2 m), fato que permitirá a transferência de lotes entre as divisórias utilizando somente o corredor e as porteiras.

O embarcadouro, assim como o tronco de contenção coletiva, deve apresentar 70 cm de largura com formato semicircular ao longo de sua extensão, com passarela externa anexada e cercas laterais totalmente fechadas. A parte superior do embarcadouro termina em uma plataforma com cerca de 2 m, a qual permite melhor visualização do piso do caminhão pelos animais no momento do embarque, facilitando por conseguinte, a atividade e reduzindo o uso de estímulos que normalmente ferem o couro e machucam a musculatura dos mesmos.

Para consolidar os resultados finais, torna-se imprescindível a qualificação da mão-de-obra utilizada em todo o segmento, ou seja, desde a fazenda até o frigorífico, uma vez que indivíduos não preparados poderão estimular indevidamente os animais tornando-os altamente estressados através de gritos, chicoteadas ou ferroadas.

Planejar devidamente as instalações destinadas ao manejo dos animais de interesse econômico é garantir maior eficiência de trabalho, melhores índices de desempenho e maior aproveitamento de seus respectivos produtos e subprodutos. Para tanto, uma boa estratégia começa na consulta a profissionais especializados em zootecnia, os quais apresentam competência para garantir a melhor adequação do ambiente às necessidades dos animais e da propriedade e, por conseguinte, melhores índices econômicos para a atividade.

Alexandre Lúcio Bizinoto

Fazu / Conselheiro - CRMV-MG

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