Da indústria à mesa

Estudo desenvolvido com os híbridos Katia e Heinz 9780 demonstra que com manejo de poda e espaçamento correto é possível produzir frutos de tomate com qualidade para consumo in natura.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

O tomate para consumo in natura é valorizado, basicamente por seu aspecto físico, principalmente diâmetro e/ou peso. Até pouco tempo atrás o consumidor brasileiro de tomate valorizava mais o tamanho do fruto e muito menos o sabor e o preço por quilograma do produto (Tivelli, 1994). Hoje há uma tendência por parte do consumidor em preferir frutos menores e com melhor qualidade, no que diz respeito ao sabor, à coloração e à firmeza. O cultivo de cultivares de tomate do grupo italiano (saladete) vem crescendo nas principais regiões produtoras de São Paulo e Minas Gerais, dentre outros fatores, devido à excelente qualidade apresentada pelos seus frutos, que são colhidos maduros e apresentam atrativa coloração vermelha, sendo firmes e de boa durabilidade pós-colheita, destinando-se tanto para a indústria quanto para o consumo in natura. As plantas destas cultivares apresentam hábito de crescimento determinado o que pressupõe a produção de frutos menores e de peso unitário inferior ao do grupo Santa Cruz, que é o preferido por este mercado (Makishima & Miranda, 1992; Kimoto et al., 1984).

No entanto, estudos desenvolvidos na Universidade Federal de Lavras (MG), com os híbridos de tomate italiano (saladete) Heinz 9780 e Kátia, ambos de crescimento determinado, demonstraram que com manejo de poda e espaçamento entre plantas é possível produzir tomates com qualidade para consumo in natura a partir das cultivares destinadas à indústria.

Neste trabalho, foram avaliados três sistemas de poda, deixando-se dois, quatro e oito pencas por planta, e três espaçamentos entre plantas, 20, 35 e 50 cm.

A produção de frutos graúdos foi maior no híbrido Heinz 9780 (53,97 t/ha) e o híbrido Kátia produziu mais frutos pequenos e miúdos (30,70 e 5,24 t/ha, respectivamente). Acredita-se que a baixa produção de frutos da classe graúdo pelo híbrido Kátia seja devido ao formato periforme de seus frutos, que quando comparados a frutos de mesmo tamanho do híbrido Heinz 9780, porém de formato quadrado, apresentam sempre menor diâmetro transversal, o que explicaria o fato de poucos frutos terem sido classificados como graúdos e, portanto, terem entrado em classes inferiores.

Com o aumento da população de plantas, houve um aumento na produção de frutos das classes graúdo, médio e pequeno para o híbrido Heinz 9780 (Tabela 2

).

Já no caso do híbrido Kátia, apenas as classes pequeno e miúdo foram afetadas pelo espaçamento, sendo as maiores produções observadas no menor espaçamento. A maior produção dos frutos pequeno e miúdo, de menor valor comercial, ocorrida no tratamento mais adensado, sugere a necessidade de desbaste de frutos em plantas com maior número de cachos, visando ao aumento no tamanho dos frutos.

O tamanho potencial dos frutos do tomateiro depende da sua posição na inflorescência e da cultivar, mas o tamanho que eles atingem depende também do total de assimilados produzidos pela área fotossintetizante e do número de frutos que competem por esses assimilados (Ho, 1980, citado por Cockshull & Ho, 1995). Como o total de assimilados de uma planta é diretamente proporcional à fotossíntese, a qual é função da densidade de fluxo de radiação solar incidente, da concentração de CO2 atmosférico e da área foliar, e com aumento da densidade de plantas há redução da área foliar por planta e aumento do sombreamento, é de se esperar a redução do peso médio de frutos com o aumento da densidade de plantas.

O efeito do número de cachos por planta sobre a produção de frutos graúdos foi divergente entre os híbridos, pois foi verificada maior produção pelo híbrido Heinz 9780 em plantas com quatro e oito cachos e em plantas podadas para dois e quatro cachos no híbrido Kátia (Tabela 2 -

). Para os frutos das classes médio, pequeno e miúdo, o aumento no número de cachos por planta foi benéfico, colaborando para o aumento na produção, efeito esse verificado em ambos os híbridos. A redução do número de cachos por planta permite uma maior disponibilidade de fotoassimilados para os frutos, em conseqüência da diminuição de drenos vegetativos e reprodutivos, acarretando maior produção de frutos graúdos e menor de frutos pequenos e miúdos.

Não foi verificado efeito significativo do espaçamento entre plantas em nenhum dos híbridos quanto ao peso médio de frutos graúdos; porém, houve uma tendência de redução do peso médio dos frutos em resposta à diminuição do espaçamento entre plantas. Por outro lado, foram obtidos frutos graúdos de maior peso em plantas podadas para dois e quatro cachos, em ambos os híbridos (Tabela 3).

Portanto, o espaçamento 20 cm entre plantas e a ausência de poda levaram à redução no peso médio de frutos, sendo, portanto, a pior combinação entre os tratamentos. A justificativa para tal resultado está na maior pressão de competição por assimilados existentes nos referidos tratamentos, em que há maior número de plantas e de frutos por planta, resultando em frutos menores. Situação oposta é verificada no maior espaçamento e menor número de frutos por planta, com menor competição tanto inter quanto intraplanta, daí os frutos apresentaram-se mais pesados.

Os híbridos Heinz 9780 e Kátia mostraram-se adequados para a produção de tomate destinado ao mercado in natura, por apresentarem frutos com tamanho exigido por esse mercado. A prática da poda apical foi eficiente em aumentar o tamanho de frutos em ambos os híbridos, contribuindo para o incremento na produção de frutos graúdos, sendo o híbrido Heinz 9780 superior ao híbrido Kátia na produção acumulada de frutos das classes graúdo e médio, que são os mais valorizados pelo mercado de tomate in natura. No entanto, devido ao novo perfil do consumidor, acredita-se na boa aceitação dos frutos do híbrido Kátia classificados como pequenos e miúdos pelo mercado de frutos frescos, por apresentarem coloração vermelho intenso, excelente firmeza, que lhe garante durabilidade pós-colheita e sabor acentuado.

Univag

Universidade Federal de Lavras

UFLA

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