Desafios da colheita mecanizada florestal em áreas montanhosas

A colheita mecanizada em áreas montanhosas é um grande desafio para empresas do setor florestal, devido a fatores como declividade, custo operacional e riscos aos operadores e máquinas, que acabam tornando a operação uma

07.11.2016 | 21:59 (UTC -3)

O setor florestal no Brasil tem crescido e se desenvolvido muito nos últimos anos, principalmente quando se fala em áreas ocupadas por florestas plantadas. De acordo com números da ABRAF, no ano de 2012 a área ocupada por plantios florestais de Pinus e Eucalipto ultrapassou os 6,6 milhões de de hectares, sendo 76,6% ao plantio de Eucalipto e 23,4% destinados as florestas de Pinus.

Estas florestas estão distribuídas por 16 estados brasileiros em diferentes condições topográficas (áreas planas, onduladas e montanhosas). Diversos são os fatores determinam onde estas florestas serão implantadas, e entre os mais relevantes estão o preço da terra, localização (proximidade com os pólos fabris) e a disponibilidade destas terras, uma vez que as áreas planas, em muitas regiões, são destinadas à agricultura, devido ao rápido ciclo produtivo desta, restando assim as áreas de relevo irregular.

Para que a madeira proveniente de todas essas áreas ocupadas por florestas chegue até a unidade industrial, algumas atividades são requisitadas, entre elas está a Colheita. Para muitos especialistas, esta é a parte mais importante do ponto de vista técnico-econômico. Devido sua enorme importância, muito se tem investido nesta operação e a mecanização foi e tem sido um grande avanço na busca por segurança operacional, melhores condições ergonômicas aos operadores, melhor qualidade do produto, diminuição dos custos operacionais e maior capacidade produtiva. Ainda de acordo com números da ABRAF, em 2012 foram colhidos 182,4 milhões de metros cúbicos de madeira em tora, número 7,2% maior do que no ano de 2011. Este número expressivo apenas foi possível de ser alcançado com a mecanização da colheita.

O grau de mecanização só não é ainda maior devido à limitação imposta pelas condições topográficas, pois muitas empresas têm dificuldades de mecanizar suas operações em locais com mais de 25º de declividade. Em algumas situações, os custos operacionais são bastante elevados quando comparados com o custo de operações em locais planos, pois o rendimento das operações tende a cair com o aumento da declividade se o equipamento não for apropriado.

Para muitos, a principal dificuldade não está em realizar o corte, e sim a remoção da madeira nestas áreas. Assim, a colheita de madeira torna-se um desafio e muitos esforços então sendo feitos para aperfeiçoar técnicas operacionais e o já avançado nível tecnológico alcançado pela mecanização. Grandes empresas de papel e celulose possuem uma parte de suas florestas situadas em regiões montanhosas do estado de Minas Gerais, São Paulo e Paraná.

Hoje é possível observar diversos métodos para colher florestas em regiões montanhosas, máquinas e equipamentos se tornam cada vez mais específico para este tipo de operação.

HARVESTERS E FORWARDERS ESPECIAIS

No mercado é possível encontrar máquinas diferenciadas, projetadas para operar em condições extremas. Como exemplo, o Harvester 911.5 X3M da Komastu Forest, com chassi articulado que possui quatro esteiras triangulares independentes, o que garante a máquina mais estabilidade e força de tração para superar terrenos com até 80% de declividade. A empresa ProSilva também disponibiliza ao mercado um Harvester articulado de esteiras independentes.

Harvesters convencionais de rodas com tração 4x4 ou 6x6 são limitados atualmente a operar com até 40% de declividade, por isso algumas empresas possuem e estão desenvolvendo Harvesters 8x8. Estas máquinas possuem mais estabilidade e força de tração para operar em terrenos com até 60%, uma vez que uma máquina só pode chegar a uma declividade onde ela permaneça estática sem o uso da força de tração. Os modelos mais comuns de Harvesters 8x8 no mercado são o Ponsse Ergo 8W, Ponsse Scorpion, John Deere 1270E 8WD, Tigercat 1135, Rottne H11, Silvatec Sleipner e outros.

Outra forma de operar Harvesters e Forwraders em regiões acidentadas é com a utilização de cabos de tração auxiliar e guinchos. Os cabos de tração auxiliar (CTA) são fixos na estrutura das máquinas e os guinchos podem ser estruturas independentes. Os cabos são ancorados no topo da encosta, geralmente em árvores ou troncos que passaram por avaliação e são capazes de servir como sustentação. Enquanto a máquina desloca-se sentido morro a baixo da existe uma sincronia entre o guincho e a transmissão da máquina (rodas de tração) que controla a decida. O objetivo é reduzir a patinação das rodas danos ao solo, auxiliar a trafegabilidade das máquinas em ambos os sentidos e permitir que a máquina opere com segurança em declividades de até 80%. É preciso considerar as propriedades e condições do solo para que estas declividades sejam alcançadas.

Este sistema de cabos de tração é instalado em diversos modelos de Harvesters e Forwarders de diversas marcas, como por exemplo os Harvester John Deere 1270E, Komatsu 931.1, Eco Log 570D, e nos Forwraders John Deere 1910E, Komatsu 860.4 e Ponsse Buffalo.

TIPOS DE SKIDDER

Os Skidder com cabo são máquinas convencionais que dependendo da declividade opera dentro ou fora do talhão. Caso a declividade não seja menor que 35%, a máquina tem condições de trafegar pelo terreno e remover os troncos. Caso ultrapasse os 35%, recomenda-se que a máquina permaneça na estrada. O cabo, então, será esticado até os troncos que serão rebocados. O que limitará diretamente a remoção neste caso é a capacidade (força) do Skidder de rebocar os troncos. A declividade é um fator que não irá ter grande influência na operação.

Skidders de esteiras estão aptos a trabalharem em terrenos com 50% de declividade quando a extração for a favor do declive e 15% quando a extração for contra a declividade. O mais conhecido é o Caterpillar 527.

Clambunks são máquinas articuladas utilizadas para o arraste de árvores em áreas irregulares. Geralmente com tração do tipo “6x6” ou “8x8”, possui em sua parte traseira uma pinça ou garra superior (ou invertida) com a finalidade de prender as árvores ali colocadas com o auxílio de uma grua hidráulica. É uma máquina viável em operação em terrenos com topografia irregular ou em terrenos com até 60% de inclinação, desde que a operação seja feita no sentido do declive e 25% no sentido do aclive. No Brasil, encontramos Clambunks John Deere 1711D e Komatsu 890.3 em operação.

MÉTODO SHOVEL LOGGING

Shovel Logging é uma técnica de remover madeira, que em resumo pode ser definida como “movimentação de madeira por escavadeira hidráulica”. Um Shovel Logger , máquina construída para esta finalidade, movimenta feixes de árvores ou de toras de locais de difícil acesso até as laterais das estradas ou para locais acessíveis à outras máquinas.

A técnica foi desenvolvida em meados da década de 70 e desde então vem sendo aperfeiçoada por meio de observações operacionais, melhorias técnicas e estruturais nos equipamentos, estudos técnicos e análises para buscar a melhor forma de se realizar esta atividade. Este método é uma opção viável de remoção de madeira em terrenos que não permitem que máquinas convencionais como Skidders e Forwarders convencionais (sem cabos de tração auxiliar) realizem esta operação, ou em situações onde o custo de remoção por outras formas seriam elevados. Inicialmente, este método limitava-se a operar até 35% inclinação. Atualmente, máquinas maiores e mais potentes são projetadas especificamente para esta atividade. Existem relatos de Shovel Loggers Tigercat LS855C e John Deere 909J trabalhando em terrenos com 65% de inclinação em empresas florestais no sul do Brasil.

CABOS AÉREOS

Em áreas acidentadas, condições topográficas desfavoráveis exigem um nível de planejamento mais apurado na atividade de colheita de madeira, bem como o desenvolvimento de equipamentos específicos para a realização desta operação nestas condições. Em terrenos íngremes onde a topografia impede que máquinas florestais de esteiras ou de pneus possam operar de forma segura, opções como a remoção de madeira com o uso de cabos aéreos é uma alternativa viável.

O cabo aéreo é um sistema de cabos e roldanas que são utilizados para transportar árvores e toras da área de corte até pátios intermediários ou laterais das estradas. Geralmente esta forma de extração é utilizada em áreas com declividades acentuadas. O sistema de cabos tem sido utilizado desde terrenos com poucas ondulações, até locais onde as declividades chegam a 100%, porém as vantagens da utilização desta forma de remoção de madeira são visivelmente maiores em terrenos inclinados. A principal desvantagem deste método está no baixo rendimento operacional e no alto custo operacional. Existem diversos sistemas de extração de madeira por cabos, conforme pode-se verificar na sequência.

Sistemas de Cabos

No sistema de cabos terrestres, as árvores ou toras podem estar parcialmente suspensas ou estar totalmente em contato com o solo. Já no sistema de cabos aéreos nesta forma, as toras estão parcialmente sem contato com o solo ou suspensas totalmente. As principais marcas fabricantes destes equipamentos são a Koller e a Konrad.

Pully

O transportador terrestre de madeira Pully é uma máquina não tripulada universal, fabricada pela empresa de equipamentos florestais Konrad. É um equipamento utilizado para realizar a extração de madeira com até 50% de declividade. Esta máquina é composta por largos pneus que, dependendo do modelo, podem ser configurados nas versões com quatro, seis ou oito rodas, que garantem ao equipamento uma estabilidade e ao mesmo tempo fornecem tração. Uma outra tração utilizada é a tração feita por meio de dois cabos que estão fixos no chassi da máquina e as suas extremidades estão uma fixa em um ponto no alto do terreno, e o outro ponto está fixo próximo a estrada. Devido à variação de modelos, a atividade de extração pelo Pully pode ser feita por arraste ou por baldeio.

Heli Logging

O método Heli Logging consiste na utilização de um helicóptero com algumas adaptações e equipamentos específicos para retirada de árvores já cortadas ou não de áreas inacessíveis de uma floresta, onde a declividade trabalhada vai de 0 a 100%, áreas onde dificilmente uma máquina florestal ou outro equipamento seria capaz de realizar a operação. O processo de operação de corte e extração de madeira por helicópteros pode ser realizado de algumas formas diferentes de acordo com as características das florestas.

No sistema Standing Stem Harvesting ou Retirada Seletiva em Pé, a colheita é feita selecionando apenas algumas árvores da floresta, as quais serão cortadas e extraídas. Já no sistema Buncher Harvesting ou retirada de feixes, o helicóptero é utilizado na remoção das árvores já cortadas em forma de feixes de toras, geralmente feixes já processados (cortados em um determinado comprimento e desgalhados). Neste caso, o corte e processamento da madeira são realizados no próprio local da derrubada, podendo ser feito por operadores de motosserras, ou, se a topografia permitir, por máquinas florestais especiais.

Existem ainda outros equipamentos como o Highlander da empresa Konrad, o Menzi Muk, alguns modelos de máquinas florestais da empresa Welte, capazes de operar em áreas montanhosas.

A tecnologia para colheita florestal mecanizada em áreas onde, no passado, eram consideradas íngremes demais para a entrada de qualquer tipo de equipamento, existe. Porém ainda se faz necessário aumentar o rendimento operacional dos equipamentos e, com isto, reduzir os custos operacionais ou por unidade produzida.

Alguns especialistas acreditam que o custo tende a decrescer com o passar dos anos e será cada vez mais comum nos depararmos com este tipo de atividade em íngremes. A topografia não é o principal fator limitante da colheita em áreas montanhosas, e sim o atual custo desta operação.


Este artigo foi publicado na edição 139 da revista Cultivar Máquinas. Clique aqui para ler a edição.

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