Desgaste de pontas de pulverização

Ocasionado pela superutilização das mesmas, acarreta numa aplicação completamente desuniforme, colocando em xeque o êxito da operação, por mais regulado que esteja o pulverizador

29.05.2020 | 20:59 (UTC -3)

O desgaste das pontas de pulverização, ocasionado pela superutilização das mesmas, acarreta numa aplicação completamente desuniforme, colocando em xeque o êxito da operação, por mais regulado que esteja o pulverizador.

A utilização de defensivos implica em seus posicionamentos ambientais e em quantidades e formas corretas. O conhecimento da tecnologia de aplicação de defensivos é fundamental não somente para redução dos custos com perdas e aumento da sua eficiência, mas também da contaminação dos manipuladores e do ambiente (Bauer & Pereira, 2005).

Aspectos relacionados às pontas de pulverização são pertinentes quanto à interferência negativa na qualidade da pulverização, pois essas peças são responsáveis pelo tamanho e densidade das gotas que recaem sobre o alvo e pela uniformidade da calda de pulverização (Bauer & Raetano, 2004a).

Quando houver necessidade de redução de doses e volume de pulverizações, a uniformidade na distribuição da lâmina da pulverização deve ser priorizada ou a dose poderá chegar ao alvo com insuficiência para causar o efeito biológico desejável (Bauer et al, 2006).

Autopropelido Pratriot equipado com pontas de pulverização modelo JA marca Jacto.
Autopropelido Pratriot equipado com pontas de pulverização modelo JA marca Jacto.

A uniformidade na distribuição da lâmina de pulverização de defensivos é dada pelas condições de montagem e de operação do equipamento, como espaçamento entre bicos e seus estados de conservação, altura da barra, ângulo de abertura dos jatos e pressão de trabalho (Perecin et al, 1994). Matthews (2000) afirma que cada ponta possui característica própria de distribuição volumétrica e que essa curva tem grande importância na determinação da altura do bico em relação ao alvo e no espaçamento entre bicos na barra, devendo haver sobreposição do jato de um bico com os adjacentes para conseguir distribuição uniforme do líquido pulverizado.

Existem algumas formas de se quantificar a uniformidade de distribuição da lâmina de pulverização. Geralmente coleta-se o líquido pulverizado em canaletas contidas em mesa de distribuição portátil para contabilização dos volumes ou alturas de colunas de água. Essa operação, além de reveladora sob o aspecto visual, contribui com valores aplicáveis ao método estatístico denominado coeficiente de variação (CV), o qual compila valores amostrados em cada canaleta da mesa de distribuição.

Distribuições uniformes da lâmia de pulverização sob condições precisas têm coeficiente de variação menor que 7% (Teejet, 2006). Assim, quanto menor o valor de coeficiente de variação, menos desuniforme é a distribuição. Na Itália, o registro, a aprovação, a comercialização e a certificação de máquinas novas têm como base o coeficiente de variação abaixo de 7% (Conama, 1997). No Brasil, porém, não há normas para comercialização, registro ou certificação de pulverizadores.

Tendo em vista a importância deste detalhe para obter o êxito desejado na pulverização, foi realizado um trabalho com o objetivo de avaliar a lâmina de pulverização em diferentes taxas de pulverização e altura da barra do pulverizador. O trabalho foi desenvolvido em uma propriedade agrícola no município de Confresa (MT), utilizando um pulverizador autopropelido Patriot, da Case IH com 350cv de potência, equipado com pontas de pulverização modelo JA marca Jacto de cerâmica, cor azul, de jato tipo cônico vazio, espaçadas em 0,50m. Foi constatada no registro de uso das referidas pontas a pulverização em 110 mil hectares.

Mesa de distribuição utilizada na verificação da lâmina de pulverização.
Mesa de distribuição utilizada na verificação da lâmina de pulverização.
Mesa de distribuição utilizada na verificação da lâmina de pulverização.
Mesa de distribuição utilizada na verificação da lâmina de pulverização.

As pulverizações foram realizadas em três alturas (0,55m, 0,70m e 0,90m) em relação à superfície de uma mesa de distribuição portátil disposta horizontalmente sobre a superfície do solo. A pressão de trabalho da bomba do pulverizador foi de 4,3bar. As taxas de pulverização avaliadas foram 15L/ha, 20L/ha e 30L/ha.

Os coeficientes de variação foram determinados com base nos valores obtidos através da medição da quantidade de líquido contido nas canaletas da mesa de distribuição. Para cada altura e taxa de pulverização foram determinados os coeficientes de variação através da equação C.V. = (desvio-padrão/média) 100. Tais procedimentos e outros similares já foram validados por Perecin et al (1998), Bauer & Raetano (2004a) e Freitas et al (2005).

Considerando que os testes tenham sido realizados a campo, com velocidade média de vento de 11,2km/h, temperatura de 37,4ºC e umidade relativa de 36%, adotou-se como limite o valor de coeficiente de variação (CV) menor que 15%, para uma adequada distribuição da lâmina de pulverização, embora segundo Teejet (2006), sob condições controladas e ideais de pulverização, tal valor deva ser abaixo de 7%.

Observando a Tabela 1 nota-se que nenhuma das condições de pulverização avaliadas proporcionou valores de coeficiente de variação abaixo dos 15%. Certamente, a deriva proporcionada por rajadas de vento registradas com velocidade acima de 10km/h, contribuiu para elevação dos valores de coeficiente de variação (Andef, 2013). Ainda, contribuirão para o elevado valor de CV o uso excessivo dos bicos (110 mil hectares pulverizados) e/ou das suas condições de manutenção que é parcial e não total. O desgaste de pontas pulverizantes por uso e/ou possíveis procedimentos inadequados de limpeza podem ser elucidados na Figura 1.

Figura 1 - As bordas do bico desgastado (B) parecem mais arredondadas do que as bordas do bico novo (A). Os danos ao bico (C) foram causados por limpeza incorreta. Teejet (2006)
Figura 1 - As bordas do bico desgastado (B) parecem mais arredondadas do que as bordas do bico novo (A). Os danos ao bico (C) foram causados por limpeza incorreta. Teejet (2006)

A Figura 2 contém as imagens da distribuição das lâminas de pulverização obtidas no presente estudo e que podem ser comparadas com o esquema da Figura 3 ajudando a enfatizar o descrito no parágrafo anterior.

Figura 2 - Padrões de distribuição das lâminas de pulverização segundo as condições em que os testes foram proferidos (alturas de pulverização de 0,55m (55), 0,70m (70) e 0,905m (90) nas taxas de pulverização 15, 20 e 30L ha-1)
Figura 2 - Padrões de distribuição das lâminas de pulverização segundo as condições em que os testes foram proferidos (alturas de pulverização de 0,55m (55), 0,70m (70) e 0,905m (90) nas taxas de pulverização 15, 20 e 30L ha-1)
Figura 3 - Esquema e padrões de distribuição da lâmina de pulverização. Teejet (2006)
Figura 3 - Esquema e padrões de distribuição da lâmina de pulverização. Teejet (2006)

Independentemente da altura de pulverização, a taxa de 15L/ha promoveu maiores valores de coeficiente de variação, possivelmente, devido à menor quantidade de líquido pulverizado e não depositado sobre a mesa de distribuição “arrastado” na deriva. A melhor opção de pulverização deu-se nas taxas 20L/ha e 30L/ha adotando uma altura de aplicação em relação ao alvo de 0,70m, o que não significou distribuição adequada da lâmina de pulverização.


Raphael Maia Aveiro Cessa, IFMT; Manoel Xavier de Oliveira Junior, IFMG


Artigo publicado na edição 161 da Cultivar Máquinas. 

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