Desgaste mínimo

A sobreutilização de lubrificantes de transmissões traz prejuízos para o produtor, tendo como principais conseqüências o desgaste acelerado dos dentes das engrenagens e rolamentos e das demais partes em movimento.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A aparência enganosa de um óleo de transmissão, na hora de verificar o nível pela vareta ou mesmo quando do escoamento, leva a que se utilize este óleo muito acima do período recomendado. Como este lubrificante não é contaminado - como um óleo de motor por resíduos de combustão que o torna escuro - esta falsa impressão de óleo limpo leva à sobreutilização deste lubrificante. A importância da substituição do óleo lubrificante da transmissão dentro dos prazos estabelecidos pelos fabricantes, só pode ser desprezada quando houver controle do estado deste óleo lubrificante, através de acompanhamento de suas características por análises de óleo. Este procedimento assegurará que a transmissão trabalhe adequadamente lubrificada. Recomenda-se que nos serviços de troca de óleo sejam acatadas pelo menos as recomendações feitas pelos fabricantes de tratores, quando não houver controle através de análises do óleo lubrificante.

Devido ao tempo de trabalho o óleo tem suas características originais modificadas. A principal característica de um óleo lubrificante é a sua viscosidade que pode sofrer uma alteração máxima de mais ou menos 10 % em relação ao valor de medição do óleo novo. De uma maneira geral, em sistemas de transmissão, o que costuma ocorrer é a elevação da viscosidade, sendo a principal causa a contaminação por insolúveis, que é a quantidade de resíduos sólidos de poeira, metais de desgaste e resíduos de oxidação por umidade (água), que se depositam no reservatório, causando o espessamento do óleo ou “engrossando-o”. Note-se que quanto maior for o tempo de sobre-utilização do óleo, maior será o espessamento causado. É claro que a contaminação varia de mecanismo para mecanismo. Uma caixa de marchas está menos suscetível à contaminação do que um redutor lateral, pois a sua posição mais elevada em relação ao redutor acaba lhe protegendo de contaminação. A principal conseqüência é o desgaste acelerado por abrasão dos dentes das engrenagens e rolamentos que terão menor tempo de vida útil. Todos conhecem o resultado da presença de poeira no óleo, o dano causado também é o desgaste excessivo das partes em movimento, e por incrível que pareça, óleo muito grosso dificulta o movimento e causa desgaste. Podemos ainda dizer que os aditivos, que são elementos químicos que melhoram o desempenho do óleo, se esgotam, deixando de desempenhar suas funções, como por exemplo: proteger da corrosão, ferrugem etc. Uma forma bastante comum de contaminação em sistemas de transmissão de tratores ocorre quando da sua utilização em terrenos alagados ou quando da lavagem da máquina. Os respiros, que são saídas por onde se descarrega a pressão excessiva de gases provenientes do trabalho do lubrificante, se tornam entradas de água, o que alterará as características do lubrificante.

Para demonstrarmos o que pode ocorrer quando se prolonga a utilização, analisamos dez amostras de óleos lubrificantes de transmissão de cinco tratores. Fizeram parte das análises realizadas os testes de viscosidade, presença de água e presença de elementos metálicos, onde foi verificada a presença de ferro, cobre, chumbo, alumínio e silício. Os parâmetros de comparação para os valores obtidos nas análises são os do óleo novo utilizado nos sistemas de transmissão dos tratores analisados. Das dez análises realizadas em nenhuma delas o óleo lubrificante estaria apto a continuar trabalhando. Em somente uma o tempo de utilização estava aquém do tempo estabelecido para troca pelo fabricante, nas outras nove as 750 horas recomendadas haviam sido ultrapassadas, tendo normalmente ocorrido com 1200 horas. Todas as análises mostraram problemas de desgaste. Desta forma, fica claro ser bastante temeroso o prolongamento do tempo de trabalho do óleo dos sistemas de transmissão sem o acompanhamento sistemático através de análises de óleo.

As recomendações dos fabricantes de tratores estabelecem o período ideal para a substituição das cargas de lubrificantes dos sistemas de transmissão. Podem ser por período (horas) ou quilometragem. Como geralmente é estabelecido um certo grau de segurança quando do estabelecimento da hora da troca, estes períodos podem ser antecipados ou estendidos, dependendo das condições de uso e da conveniência. Os fabricantes de tratores normalmente descrevem em seus manuais de manutenção o detalhamento da operação de troca. Havendo um bom controle das trocas, pode-se aplicar menores ou maiores períodos de substituição do lubrificante, desde que isto não se torne prática habitual. Podemos simular duas situações, considerando que um óleo de classificação correta, sob condições normais, deva ser trocado com 750 horas de trabalho:

• Uma máquina trabalhando em condições favoráveis, ou seja, implementos para ela dimensionados e operando na velocidade correta, que tenha atingido a hora da troca, não necessariamente deverá ser parada para a execução da substituição da carga. É óbvio que este sobretempo não deve ultrapassar aproximadamente 5% do tempo estabelecido. Isto proporcionará que a troca seja efetivada num momento mais adequado, entre turnos de trabalho por exemplo.

• No caso de trabalho com sobrecarga, onde não se tenha controle da velocidade desenvolvida, patinagem excessiva, terrenos alagados ou que se constate a penetração de impurezas (poeira, água, etc.) no reservatório, como, por exemplo, devido à perda da tampa de enchimento, vareta de nível desalojada ou falta do tampão do respiro do sistema, deve-se providenciar, o mais rápido possível a substituição do lubrificante. Está é uma medida preventiva que evitará o desgaste prematuro do sistema.

Como já dissemos em outra ocasião, toda troca de óleo, seja de motor, caixas de engrenagens ou fluído hidráulico, deve ser feita com o óleo quente, preferivelmente após o uso do trator por um período que atinja a temperatura normal de operação. O ideal é que a troca ocorra no final do dia de trabalho. Após extrair o óleo pelo local de drenagem do reservatório, é aconselhável deixá-lo escorrer por algum tempo, por volta de dez minutos, para assegurar que permaneça no reservatório o mínimo possível do óleo velho. Uma alternativa rápida, menos complicada e menos suja é sugar o óleo por uma bomba de sucção ligada a um tubo fino introduzido pelo orifício da vareta de nível de óleo. Este processo, no entanto, apresenta o inconveniente de não remover totalmente o óleo. O veículo deve estar em local plano e adequado para qualquer extração ou troca de óleo. Deve-se também limpar ou substituir o filtro do sistema hidráulico.

Reafirmamos também que os melhores lubrificantes, óleo ou graxa, para serem utilizados no motor, no câmbio, no diferencial, no hidráulico e nos rolamentos e articulações do seu trator, são aqueles recomendados pelo fabricante do trator. No caso dos sistemas de transmissão, normalmente é indicada apenas uma classificação ao usuário. Os óleos lubrificantes para sistemas de transmissão de tratores são classificados pela viscosidade e pelo desempenho que oferecem. A viscosidade é uma característica controlada pela SAE (Society Automotive Engineers). Existem óleos monograu, ainda bastante utilizados, onde a identificação é dada por um número (grau) antecedido da sigla SAE. Em uma identificação que leva em conta a temperatura de trabalho do óleo a aproximadamente 100º C, podemos ter óleos SAE 90, SAE 120 e SAE 250. Uma outra classificação leva em conta a temperatura do óleo frio e as medidas mais comuns são, SAE 70W, SAE 75W, SAE 80W e SAE 85W. A letra W após o grau de viscosidade significa winter de inverno ou frio. O grau SAE 70W seria para temperatura de até -55° C e para o grau SAE 85W a temperatura seria de até -12° C. Podemos também ter óleos multiviscosos, como aqueles utilizados em motores. Estes lubrificantes têm medida de viscosidade para baixa temperatura e para temperatura de trabalho. Na temperatura fria ele deve ser fino o suficiente para fluir bem e alcançar todas as partes do sistema. Já em altas temperaturas, ele deve ter a viscosidade adequada para manter a película protetora entre as partes metálicas. Por exemplo, os óleos SAE 80W 90 são formulados para cumprir os requisitos de viscosidade em baixa temperatura de um óleo monograu SAE 80 e os requisitos de viscosidade em alta temperatura de um óleo monograu SAE 90. Os óleos SAE 80W são testados para viscosidade -26°C, logo, eles são formulados para uso em temperaturas ambientes mais baixas.

Já os óleos classificados como SAE sem a designação W têm suas viscosidades medidas somente a 100°C para assegurar viscosidade adequada em temperaturas operacionais normais do sistema. O serviço ou desempenho do óleo é classificado pela API (American Petroleum Institute). Para sistemas de transmissão, a classificação é dada por duas letras, GL de gear lubricant, lubrificante para engrenagem em inglês, que identifica um óleo para sistema de transmissão. A classificação propriamente dita é dada por um número após as letras. Este número é o um para lubrificantes menos aditivados e que oferecem menor desempenho do óleo e cinco para aqueles que oferecem o máximo desempenho do lubrificante. Intermediariamente existem os números dois, três e quatro. À medida que a numeração sobe, o grau de desempenho do óleo aumenta, podemos então ter por exemplo um óleo de classificação API GL 4. Além desta classificação de desempenho existem outras, como por exemplo, a militar (MIL), a da Massey Ferguson (M), John Deere (JDM) etc.

Estas classificações podem ou não acompanhar a classificação API. Normalmente são utilizadas para formulações próprias para óleos de última geração como os minerais especiais ou sintéticos. O importante, além da utilização do lubrificante recomendado pelo fabricante, é perceber e entender que para cada mecanismo poderá ser indicado um óleo diferente do outro mecanismo. Tomando como exemplo os lubrificantes recomendados pelo fabricante para o trator Massey Ferguson 275 4X4, para o câmbio, eixo traseiro e levante hidráulico o óleo recomendado é o M1135, ou seja, especificação Massey Ferguson 1135. Para os redutores finais dianteiros, o diferencial dianteiro e redutores finais traseiros os lubrificantes recomendados podem ser o SAE 90 API GL 5 ou MIL – L – 2105 B. Os lubrificantes da especificação M1135 podem, por recomendação do fabricante, ser o Shell WBF 100 ou Shell Donax TD. Os dois são óleos de viscosidade 85W, proveniente de óleos básicos minerais, com formulação especial, segundo o fabricante. Já o óleo SAE 90 API GL 5, também recomendado pelo fabricante da máquina, tem viscosidade SAE 90 para temperatura de trabalho e atendem as recomendações da classificação GL 5 da API e 2105 B da classificação militar. São, portanto, óleos diferentes que não se intercambiam. Desta forma cada qual deverá ser utilizado em seu mecanismo específico.

Alguns cuidados adicionais com o sistema de lubrificação:

• Não misture óleos de marcas diferentes, a utilização de elementos químicos diferentes para uma mesma finalidade de aditivação, pode ocasionar aparecimento de ácidos corrosivos que irão atacar as peças do sistema.

• Utilize sempre óleo com a viscosidade e classificação corretas.

• Examine sempre se não há vazamentos de óleo, se houver corrija-os imediatamente.

• Os bujões de enchimento e de nível devem receber limpeza com pincel e solvente antes de serem retirados.

• A vedação da vareta de nível em seu tubo e o guarda-pó das alavancas de seleção do câmbio e da reduzida são pontos onde ocorrem vazamentos e grande penetração de contaminantes externos, principalmente a poeira, se danificados devem ser imediatamente substituídos.

• Havendo filtro de óleo no sistema, este deverá ser limpo ou substituído, o que for conveniente.

UNESP - Bauru, SP

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