Dupla nefasta: antracnose e mancha alvo em soja

Mancha alvo e antracnose estão entre as principais doenças que limitam a produtividade e causam prejuízos sérios à cultura da soja

16.07.2018 | 20:59 (UTC -3)

Para a expansão na produção de soja, tecnologias e inovações foram agregadas, basicamente pela introdução de materiais genéticos, melhoria nas práticas de manejo e consolidação do sistema plantio direto nas fronteiras agrícolas. Entretanto, isto não impediu o surgimento de problemas que reduzem a produtividade, como por exemplo, doenças causadas por fungos, bactérias e nematoides. Dentre as doenças que preocupam o agricultor, além da ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi), destacam-se a mancha alvo (Corynespora Cassiicola) e a antracnose (Colletotrichum truncatum), que ocorrem com frequência nas lavouras do Centro-Oeste.

A aplicação de fungicidas na maioria dos casos é eficiente e economicamente viável para garantir a qualidade e a produtividade das culturas. Assim, avaliou-se o efeito dos fungicidas azoxistrobina, trifloxistrobina+protioconazol, piraclostrobina+epoxiconazol, fluxapiroxade+piraclostrobina, piraclostrobina, picoxystrobina+ciproconazol, e tebuconazole no controle de antracnose e mancha alvo, e nos caracteres morfológicos de soja no Norte de Mato Grosso.

O ensaio foi conduzido na Fazenda Andorinha, no município de Lucas do Rio Verde/Mato Grosso, utilizando-se a cultivar BMX Desafio RR 8473 RSF, semeadura realizada na primeira quinzena de outubro, em sistema de plantio direto. A 1ª aplicação dos fungicidas (Tabela 1) foi realizada no florescimento da soja e a 2ª, 15 dias após.

Tabela 1. Tratamentos utilizados no controle de antracnose e mancha alvo na cultura na soja, cultivar Desafio 8473, em Lucas do Rio Verde/MT.

TRATAMENTO

SEQUÊNCIA DE APLICAÇÃO

PRINCÍPIO ATIVO

DOSE (L ha-1) *

1

-

Testemunha (sem controle)

-

2

Azoxistrobina

0,2**

Azoxistrobina

0,2**

3

Piraclostrobina+Epoxiconazol

0,5

Fluxapiroxade+Piraclostrobina

0,3**

4

Piraclostrobina

0,3

Piraclostrobina+Epoxiconazol

0,5

5

Fluxapiroxade+Piraclostrobina

0,3**

Fluxapiroxade+Piraclostrobina

0,3**

6

Trifloxistrobina+Protioconazol

0,3

Trifloxistrobina+Protioconazol

0,3

7

Picoxystrobina+Ciproconazol

0,3**

Picoxystrobina+Ciproconazol

0,3**

8

Tebuconazole

0,3

Tebuconazole

0,3

TRATAMENTO

SEQUÊNCIA DE APLICAÇÃO

PRINCÍPIO ATIVO

DOSE (L ha-1) *

1

-

Testemunha (sem controle)

-

2

Azoxistrobina

0,2**

Azoxistrobina

0,2**

3

Piraclostrobina+Epoxiconazol

0,5

Fluxapiroxade+Piraclostrobina

0,3**

4

Piraclostrobina

0,3

Piraclostrobina+Epoxiconazol

0,5

5

Fluxapiroxade+Piraclostrobina

0,3**

Fluxapiroxade+Piraclostrobina

0,3**

6

Trifloxistrobina+Protioconazol

0,3

Trifloxistrobina+Protioconazol

0,3

7

Picoxystrobina+Ciproconazol

0,3**

Picoxystrobina+Ciproconazol

0,3**

8

Tebuconazole

0,3

Tebuconazole

0,3

*Doses recomendadas pelo fabricante; **Adjuvante aplicado de acordo com recomendação do fabricante.

 

No controle de antracnose, não houve diferença significativa entre os tratamentos e isto pode ter ocorrido pela baixa severidade da doença no experimento, devido provavelmente à baixa concentração do inóculo no local.

Considerando a área abaixo da curva de progresso de mancha alvo (AACPMA), os tratamentos T2-Azoxistrobina, T3-Piraclostrobina+Epoxiconazol e Fluxapiroxade+Piraclostrobina, T4-Piraclostrobina e Piraclostrobina+Epoxiconazol, T5-Fluxapiroxade+Piraclostrobina e T8-Tebuconazole, apresentaram os menores valores de AACPMA, apresentando eficiência no controle de mancha alvo. O melhor controle da doença foi proporcionado pelo T3-Piraclostrobina+Epoxiconazol (1ª aplicação) e Fluxapiroxade+Piraclostrobina, na 2ª aplicação.

Com relação às características morfológicas, não houve diferença entre os tratamentos na altura de planta (cm), diâmetro de colmo (cm), altura de inserção da primeira vagem (cm), número de vagens por planta e número de grãos por planta (Tabela 2). De maneira geral, a aplicação de fungicidas não exerceu efeito sobre estas características morfológicas avaliadas, muito provavelmente pelo fato de serem influenciados pela população de plantas. Entretanto, a aplicação de T5-Fluxapiroxade+Piraclostrobina e Fluxapiroxade+Piraclostrobina, T3-Piraclostrobina+ Epoxiconazol e Fluxapiroxade+ Piraclostrobina, T2- Azoxistrobina e Azoxistrobina, e T6-Trifloxistrobina+Protioconazol e Trifloxistrobina+Protioconazol, proporcionou acréscimo na massa de 1000 grãos de 1,62%, 1,24%, 0,77% e 0,44%, respectivamente, em relação à testemunha. A massa de 1000 grãos é uma informação que pode ser adotada na comparação da qualidade dos grãos, apesar de ser comumente realizada em ensaios, como componente de rendimento de diversos cultivos. Além de ser um parâmetro utilizado para cálculo de densidade de semeadura, também pode ser empregado como fator comparativo da qualidade de sementes.

 

Tabela 2. Altura de planta (cm), diâmetro de colmo (cm), altura de inserção da 1ª vagem (cm), nº de vagens por planta, nº de grãos por planta e massa de 1000 grãos de plantas de soja, cultivar Desafio 8473, submetidas a aplicação foliar de fungicidas

Tratamentos

Altura de planta (cm)

Diâmetro de colmo (cm)

Altura inserção 1ª vagem (cm)

Nº de vagens planta-1

Nº de grãos planta-1

Massa de 1000 grãos (g)

Testemunha

80,80a

0,24a

16,16a

32,86a

70,60 a

147,30b

Azoxistrobina+Azoxistrobina

78,76a

0,22a

16,44a

31,40a

71,23 a

148,44a

Piraclostrobina+Epoxiconazol e Fluxapiroxade+Piraclostrobina

79,13a

0,30a

15,32a

39,70a

85,06 a

149,14a

Piraclostrobina e Piraclostrobina+Epoxiconazol

75,87a

0,25a

15,78a

36,10a

79,96 a

146,36b

Fluxapiroxade+Piraclostrobina e Fluxapiroxade+Piraclostrobina

81,43a

0,30a

17,31a

41,50a

89,06 a

149,70a

Trifloxistrobina+Protioconazol e Trifloxistrobina+Protioconazol

74,28a

0,30a

16,26a

35,96a

75,43 a

147,96a

Picoxystrobina+Ciproconazol e Picoxystrobina+Ciproconazol

76,75a

0,25a

15,89a

34,53a

72,90 a

146,33b

Tebuconazole e Tebuconazole

81,48a

0,32a

16,15a

36,13a

78,03 a

145,96b

Tratamentos

Altura de planta (cm)

Diâmetro de colmo (cm)

Altura inserção 1ª vagem (cm)

Nº de vagens planta-1

Nº de grãos planta-1

Massa de 1000 grãos (g)

Testemunha

80,80a

0,24a

16,16a

32,86a

70,60 a

147,30b

Azoxistrobina+Azoxistrobina

78,76a

0,22a

16,44a

31,40a

71,23 a

148,44a

Piraclostrobina+Epoxiconazol e Fluxapiroxade+Piraclostrobina

79,13a

0,30a

15,32a

39,70a

85,06 a

149,14a

Piraclostrobina e Piraclostrobina+Epoxiconazol

75,87a

0,25a

15,78a

36,10a

79,96 a

146,36b

Fluxapiroxade+Piraclostrobina e Fluxapiroxade+Piraclostrobina

81,43a

0,30a

17,31a

41,50a

89,06 a

149,70a

Trifloxistrobina+Protioconazol e Trifloxistrobina+Protioconazol

74,28a

0,30a

16,26a

35,96a

75,43 a

147,96a

Picoxystrobina+Ciproconazol e Picoxystrobina+Ciproconazol

76,75a

0,25a

15,89a

34,53a

72,90 a

146,33b

Tebuconazole e Tebuconazole

81,48a

0,32a

16,15a

36,13a

78,03 a

145,96b

Médias seguidas com as mesmas letras não diferem significativamente pelo teste de Scott-Knott ao nível de 5% de probabilidade.

 

De acordo com as condições em que foi estabelecido e conduzido este trabalho, os resultados permitem concluir que não houve diferença na altura (cm) de planta, altura (cm) da inserção da 1ª vagem, número de vagens por planta e número de grãos por planta. Em relação à antracnose (C. truncatum), os tratamentos não apresentaram diferença significativa no controle desta doença, porém o tratamento com Piraclostrobina+Epoxiconazol na 1ª aplicação e Fluxapiroxade+Piraclostrobina na 2ª aplicação demonstrou maior eficiência no controle de mancha alvo (C. cassiicola) e maior massa de 1000 grãos. Além disto, o agricultor deve adotar medidas preventivas para o controle destas doenças, como rotação de cultura, uso de cultivares resistentes, semente certificada, tratamento de sementes, população de plantas, adubação e espaçamento adequados. Se for necessária a aplicação foliar de fungicidas, consultar um engenheiro agrônomo e seguir as recomendações técnicas dos produtos.

Box – Soja no Brasil

A cultura da soja tem grande destaque no cenário mundial, pois é fonte de produtos alimentícios, tanto para animais quanto para humanos, além do crescente uso de biocombustíveis fabricados a partir do grão que é de grande interesse mundial em energia renovável e limpa.

Segundo dados da Conab, a última safra de soja no Brasil, 2013/2014, atingiu recorde de produção (86.120,8 mil toneladas), com aumento na área produzida, totalizando 30.173,1 mil hectares, sendo o Mato Grosso responsável por 28,55% desta área.

 O artigo completo está na edição 190 da Cultivar Grandes Culturas. 

 

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