Em expansão

O cultivo de variedades sem sementes está em franco crescimento na viticultura nordestina, região responsável pela exportação de mais de 25 mil toneladas em 2002 e crescimento de 210% de uma safra para outra.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A viticultura no Submédio São Francisco apresentou na última década uma notável expansão da área cultivada passando de 1.759 ha em 1990 (Agrianual, 1997) para 6.297 ha em 2002 (Agrianual, 2003). Atualmente, as uvas de mesa constituem uma das principais frutas exploradas nesta região sendo a quinta em área cultivada e a segunda na pauta de exportações. Segundo os dados da SECEX/MDIC, em 1999, as exportações brasileiras de uvas frescas foram de 8.083 toneladas, passando à 25.087 toneladas em 2002, o que gerou um crescimento da ordem de 210%, no período. A região responde pela quase totalidade da exportação de uvas finas de mesa do país.

A comercialização no mercado externo vem se apresentando como uma alternativa para viabilização econômica da viticultura nos últimos anos, devido a uma redução dos preços alcançados pela uva de mesa no mercado interno aliado ao aumento nos custos de produção provocado pelo aumento nos preços de insumos, especialmente adubos e defensivos cujos preços são atrelados à variação do dólar. A uva ‘Itália’ em 1997 foi comercializada por um preço médio de US$ 0,68/kg no Ceagesp, passando para US$ 0,51/kg em 2000, provocando uma redução de 25% no preço do produto, durante o período (Agrianual, 2002).

A busca de novas alternativas para produção de uvas inclui a pesquisa para obtenção de variedades de uvas sem sementes adaptadas às condições tropicais semi-áridas do Nordeste, tanto pela introdução de variedades, quanto pelo desenvolvimento de novas variedades através de cruzamentos.

A escolha da variedade mais adaptada às condições ambientais de cada região produtora, bem como, adequada à comercialização é um dos fatores básicos para o sucesso deste agronegócio. As principais variedades de uvas sem sementes cultivadas atualmente no Vale do São Francisco são descritas a seguir. Estas informações foram resultado de avaliação em coleções da Embrapa Semi-Árido ou em áreas comerciais e constituem uma alternativa aos agricultores que pretendem diversificar as variedades de uvas com sementes tradicionais da região.

Esta variedade apresenta boas características comerciais, apesar de sua baixa fertilidade de gemas, o que conduz a menores produtividades do que aquelas obtidas nas variedades de uvas com sementes. Outras características indesejáveis são a irregularidade de produção entre as safras e a sensibilidade ao rachamento pedicelar das bagas durante a ocorrência de chuvas. Dependendo das condições climáticas e do manejo, pode-se encontrar dificuldades para atingir o teor de açúcares adequado nas bagas, superior à 16ºBrix, bem como podem ser notados a presença de sementes rudimentares, que muitas vezes desenvolvem-se em sementes normais.

A ‘Festival’ é uma variedade precoce, com um ciclo fenológico que variou de 85 a 100 dias entre os anos de 2000 a 2002 (Silva & Souza Leão, 2002).

A irregularidade de produção tem caracterizado o comportamento desta variedade nas condições do Vale do São Francisco, obtendo-se rendimentos que variam em torno de 5 a 20 t/ha/safra. Para reduzir este problema, tem-se realizado apenas uma safra de produção por ano, concentrando-se a época de colheita durante o período de exportação.

O peso médio de cachos está em torno de 350 g, enquanto o comprimento e diâmetro médio de bagas, são geralmente superiores a 22 e 19 mm, respectivamente. A ‘Festival’ apresenta bagas grandes, cujo diâmetro é superior ao de outras variedades, embora tenham formato arredondado e não alongado, como é típico e desejável para uvas sem sementes.

A aceitação de ‘Festival’ no mercado externo e os bons preços alcançados nos últimos anos, tem consolidado esta como a mais importante variedade de uva sem sementes em produção no Vale do São Francisco.

Destaca-se como a segunda mais importante variedade de uvas sem sementes cultivada no Vale do São Francisco. Foi introduzida em 1998 e sua expansão em áreas comerciais ocorreu nos últimos dois anos. A Embrapa Semi-Árido realizou durante os anos de 2000-2001 estudos sobre comportamento agronômico e fenológico desta variedade (Souza Leão, 2002).

O ciclo fenológico da poda até a colheita teve duração média de 123 dias, com requerimentos térmicos que variaram de 1725,9 à 1756,9 graus-dia, respectivamente para os ciclos do primeiro e segundo semestres.

Os cachos apresentam coloração rosada intensa, formato predominante cilíndrico e medianamente compacto, com peso médio em torno de 350 g. As bagas possuem forma alongada, com peso médio de 4,0 g, 22,0 mm de comprimento e 17,0 mm de diâmetro. O tamanho das bagas nesta variedade é pequeno, o que exige que sejam realizados tratamentos com reguladores de crescimento. Os frutos apresentam textura da polpa crocante, sabor neutro e baixa aderência das bagas ao pedicelo, característica que pode causar problemas durante o manuseio e conservação pós-colheita dos frutos. A coloração desuniforme também pode se constituir um problema, podendo ser influenciada por aspectos do manejo relacionados à elevada carga de frutos, nutrição mineral, e temperaturas durante a fase de maturação. A produtividade média está em torno de 25 t/ha/ano, com duas safras anuais.

Também conhecida como Sultanina, destaca-se como a mais importante uva de mesa consumida no mundo. Esta variedade foi avaliada pela Embrapa Semi-Árido, durante cinco ciclos de produção durante os anos de 2000 a 2002, apresentando uma duração média de 103 dias entre a poda e colheita (Silva & Souza Leão, 2002).

Os cachos são cônicos e muito compactos e as bagas são pequenas e elípticas. Para atingir o padrão de qualidade para comercialização, é necessária a realização de tratamentos com reguladores de crescimento, especialmente ácido giberélico, obtendo-se em trabalhos recentes bagas com 27,5 mm de comprimento e 18 mm de diâmetro, com excelente aspecto visual.

A consistência da polpa é carnosa, com coloração verde-amarelada e sabor neutro e agradável. Foram observados teores de sólidos solúveis de 18,3ºBrix, com relação açúcares/acidez de 23,3.

A ‘Thompson seedless’ apresenta plantas muito vigorosas e crescimento intenso em condições tropicais, o que contribui para sua baixa produtividade. Entretanto, em trabalhos de pesquisa mais recentes foram alcançados com ajustes no manejo e uso de reguladores de crescimento para aumentar o tamanho de bagas, produtividades médias de 15,5 t/ha/ciclo, em área experimental, o que demonstra o grande potencial de cultivo desta variedade no Vale do São Francisco.

Embrapa Semi-Árido

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