Girassol na safrinha?

O cultivo do girassol “de outono”, em fevereiro-março, em sucessão a grandes culturas, pode vir a se tornar uma boa alternativa para o agricultor, uma vez que não impõe riscos absolutos, por se destinar ao aumento d

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

O cultivo do girassol, apesar da planta ter sido domesticada pelo homem há cerca de 5 mil anos, foi introduzido na América do Sul apenas no século XIX, vindo a Argentina a se destacar como um dos maiores produtores mundiais. No Brasil, foi introduzido, primeiramente no sul do País, pelos imigrantes europeus, devido ao hábito de consumirem suas amêndoas torradas. A partir do início da década de 1990, houve um aumento significativo na demanda pelo óleo de girassol, considerado mais saudável devido ao maior teor de gorduras polinsaturadas e também maior teor de ácido linoléico, essencial ao organismo humano.

Esse crescimento da demanda, nos últimos anos, provocou tendência de aumento da oferta e conseqüente redução do diferencial de preço em relação ao óleo de soja, o que favoreceu o aumento no consumo de 4 mil toneladas, em 1993, para cerca de 40,9 mil toneladas em 1997.

Preços baixos

Como os preços pagos ao agricultor, pelos grãos produzidos, continuaram desestimulantes, essa crescente demanda foi atendida, basicamente, com produto importado, principalmente da Argentina, atendendo a produção nacional apenas 4,5% do consumo. Felizmente, 37% da importação de 1997 é representada por óleo bruto, destinado ao refino e distribuição pela indústria nacional, o que reduz a competição de marcas estrangeiras e gera uma demanda pela produção doméstica de grãos para moagem e extração de óleo. Para atender à demanda potencial, basta resolver a equação dos preços da matéria-prima, de forma a permitir lucros ao agricultor e, ao mesmo tempo, custo de produção do óleo bruto nacional que o torne competitivo com o importado.

Nas circunstâncias atuais, parece que apenas o cultivo do girassol “de outono”, em fevereiro-março, em sucessão a grandes culturas, pode vir a se tornar uma boa alternativa para o agricultor, uma vez que não impõe riscos absolutos, por se destinar ao aumento de renda da atividade agrícola e não à formação dessa renda, que fica a cargo da grande cultura de verão. Também pode vir a ser alternativa de aproveitamento de áreas de reforma de canavial ou de áreas tradicionais de milho “safrinha” que, por perda da época de plantio ou devido a condições adversas, são apenas suportáveis pela cultura do girassol por ser mais tolerante ao frio intenso e à seca, em algumas fases do seu ciclo.

Rotação de cultivos

No caso de sucessão, tende a ocorrer beneficio para as duas culturas, como é o caso de milho-girassol, em que pode haver uma diminuição na incidência de pragas, devido ao efeito alelopático do girassol, diminuição de doenças e melhoria das condições físicas do solo para ambas, podendo haver incremento da produtividade do milho em até 30%, e também no caso de soja-girassol, em que pode haver aumento de até 15% da produtividade das duas culturas.

Segundo levantamentos, os custos para produção de girassol, analisados nas condições de janeiro de 1998, e com seus valores transformados para o dólar norte-americano, sob cotação de R$1,20, vigente na época, totalizam US$ 229,40 por hectare, para o plantio “de outono”, que ocorre em fevereiro-março. Considerando que, em 1999, a tendência de preço dos grãos, colocados na indústria, é de US$160,00 a US$170,00 por tonelada, a rentabilidade da cultura, para uma produtividade de 2000 kg/ha., sem descontar o custo de transporte, poderá chegar a ser de US$ 90,60 a US$ 110,60 por hectare.

Esses cálculos indicam que, apesar da cultura do girassol representar uma alternativa de aumento de renda, pelo aproveitamento da época normalmente ociosa (fevereiro-julho), existe a necessidade de uma análise criteriosa dos custos de transporte que, devido ao baixo peso volumétrico dos grãos de girassol, variam sensivelmente, de agricultor para agricultor, com a distância entre a lavoura e a indústria, podendo tornarem-se impeditivos.

Para o caso de pequenos produtores independentes, a extração artesanal e cooperativa do óleo bruto através de simples prensagem e filtração, para venda regional, pode se tornar opção viável, razão pela qual foi desenvolvida, pelo ITAL, uma prensa contínua denominada “Mini-40”, com capacidade de processamento de 40 kg por hora. Essa prensa portátil é recomendada apenas para processar grãos que apresentem teor de óleo acima de 40%, como é o caso de muitas variedades de girassol.

A primeira série de testes com girassol em casca, usando esse equipamento, foi realizada com 900 kg da matéria-prima, obtendo-se uma eficiência de extração, considerada satisfatória, de 24 a 26,5% de óleo por quilograma de grãos, com uma simples operação. No processamento através da Mini-40, é necessário uma limpeza prévia para retirar terra, pedras e outras impurezas, por peneiragem e abanação.

Considerando que o rendimento da prensa, para os cultivares cujos grãos têm entre 40% e 42% de teor de óleo, é de cerca de 400 a 500 litros do produto por hectare, se a produtividade for de 2 t/ha, teremos a possibilidade de gerar, além da torta, uma renda de US$240,00 a US$375,00 por hectare, dos quais devemos descontar os custos de extração, embalagem e venda do produto.

Ultimamente, a utilização de silagem de girassol tem crescido, provavelmente por gerar maior quantidade de massa vegetal úmida por unidade de área, melhor qualidade de produto e menor custo de produção nos cultivos de outono, quando comparada com o de milho. Sua silagem se torna ainda mais vantajosa quando o mercado de grãos de milho for comprador.

Como plantar

A população adequada de plantas de girassol, nos cultivos, é de 30.000 a 60.000 por hectare, dependendo do cultivar e condições de solo, o que sugere espaçamento nas entre-linhas entre 50 e 90 cm, de acordo com a colhedora a utilizar, procurando-se ter três plantas por metro linear. Para os cultivares mais comuns, tem-se observado que a recomendação é de 40.000 a 45.000 plantas por hectare.

Na semeadura, feita quando a umidade do solo está em nível suficiente para uma boa germinação, as sementes devem ser distribuídas o mais uniformemente possível e completamente cobertas com, no máximo, 5 cm de terra. Essas providências evitam a ocorrência de espaçamentos desuniformes na linha e prolongamento da emergência por tempo superior a 10 dias, o que faria com que as plantas com menor área disponível, ou atrasadas na emergência, sofram competição, se desenvolvendo pouco e produzindo menos.

No que se refere às condições climáticas para cultivo, a planta de girassol adapta-se muito bem a baixas temperaturas em diversas fases de sua vida, exceto na época de formação do botão floral, pela queima do mesmo, o que pode dar origem a diversas flores sem importância econômica, e na polinização, quando a viabilidade dos grãos de pólen e a quantidade de insetos polinizadores são afetadas seriamente pelo frio intenso, causando redução da eficiência da polinização e conseqüente abortamento de flores. O girassol também se desenvolve razoavelmente bem em temperaturas elevadas, mas os grãos produzidos terão óleo de pior qualidade devido ao menor teor de ácido graxo linoléico.

As plantas das lavouras de girassol, instaladas nas épocas adequadas, desenvolvem-se rapidamente após 30 dias da emergência, dominando com facilidade as possíveis invasoras, e fazendo com que a necessidade de controle de plantas daninhas se limite ao período inicial do ciclo da cultura. Com isso, torna-se possível a utilização de herbicidas de efeito residual curto e amplo espectro de ação.

Doenças da cultura

O girassol é atacado, em geral, por doenças causadas por fungos cuja ocorrência é um dos principais fatores a ser levado em conta quando da opção regional de instalação da cultura, pois as perdas de produção, dependendo das condições climáticas, podem ser grandes, havendo relatos de redução de até 60% na estimativa de produção. Das pragas, as principais são as lagartas, que podem ser controladas com inseticidas biológicos, pois seu efeito é unicamente curativo e por contato, causando, inicialmente, a paralisação da alimentação e, após cerca de três dias, a morte das lagartas. O controle químico deve ser evitado durante o florescimento, por causar danos aos insetos polinizadores, principalmente abelhas.

O ataque de besouros e percevejos, quando se mostra prejudicial, também podem ser controlados com inseticidas organofosforados, mas antes da época do florescimento, para não destruir as abelhas e outros insetos polinizadores, causando a eliminação da produção de grãos, mal maior do que aquele causado pelas vaquinhas.

Dependendo da época do ano, em função da disponibilidade de alimentos na região, muitos pássaros, entre os quais os pardais, periquitos e maritacas, atacam os capítulos, na fase de enchimento de grãos, destruindo-os parcial ou totalmente. A severidade do ataque pode ser limitante, no caso de pequenas lavouras, pois não existe tratamento químico permitido por lei.

O controle somente pode ser feito com o uso de artefatos que espantam os pássaros durante a época de granação aliado à colheita antecipada da lavoura, com os grãos ainda bastante úmidos, no ponto de maturidade fisiológica, entre 5 e 6 semanas do florescimento, após o qual não mais existe incorporação de matéria seca, e completando-se a maturação física via secagem em terreiro ou secador.

A colheita mecânica pode ser feita por colhedoras de milho ou de soja, com pequenas modificações, ou por máquinas com plataforma girassoleira. A velocidade de colheita, no caso de se usar colhedora de milho adaptada é de até 9 km/hora, enquanto no caso de colhedora de soja é de 4 km/hora.

O momento da colheita mecânica é quando as plantas apresentam-se secas, de coloração castanha e os capítulos marrom-escuros, indicando que os grãos atingiram teor de umidade entre 14 e 17%, devendo-se colher toda a área antes que atinja 10%.

A colheita antecipada, quando o grau de umidade nos grãos é mais alto, exige maiores cuidados na regulagem das máquinas, visando evitar quebra das sementes e aumento na quantidade de impurezas no produto colhido.

Antônio Carlos Angelini

CATI

Maria Regina G. Úngaro

IAC

Jane M. Turatti

ITAL

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